"Obras Póstumas"
INTRODUÇÃO
Trabalhador infatigável, sempre o primeiro a tomar da obra e o último a deixá-la, Allan Kardec sucumbiu, a 31 de março de 1869, quando se preparava para uma mudança de local, imposta pela extensão considerável de suas múltiplas ocupações.
INTRODUÇÃO
Trabalhador infatigável, sempre o primeiro a tomar da obra e o último a deixá-la, Allan Kardec sucumbiu, a 31 de março de 1869, quando se preparava para uma mudança de local, imposta pela extensão considerável de suas múltiplas ocupações.
Diversas obras que ele estava
quase a terminar, ou que aguardavam oportunidade
para vir a lume, demonstrarão um dia, ainda mais,
a extensão e o poder das suas concepções.
Morreu conforme viveu:
trabalhando. Sofria, desde longos anos, de uma enfermidade do
coração, que só podia ser combatida por meio do repouso
intelectual e pequena atividade material.
Consagrado, porém, todo inteiro à
sua obra, recusava-se a tudo o que pudesse
absorver um só que fosse de seus instantes, à custa das
suas ocupações prediletas. Deu-se com ele o que se dá com
todas as almas de forte têmpera: a lâmina gastou a
bainha.
O corpo se lhe entorpecia e se
recusava aos serviços que o Espírito lhe reclamava, enquanto este último, cada vez mais vivo, mais enérgico,
mais fecundo, ia sempre alargando o círculo de sua
atividade. Nessa luta desigual não podia a
matéria resistir eternamente. Acabou sendo vencida: rompeu-se o
aneurisma e Allan Kardec caiu fulminado.
Um homem houve de menos na Terra;
mas, um grande nome tomava lugar entre os que
ilustraram este século; um grande
Espírito fora retemperar-se no Infinito, onde todos os que
ele consolara e esclarecera lhe aguardavam impacientes a
volta! “A morte, dizia, faz pouco tempo,
redobra os seus golpes nas fileiras ilustres!... A quem
virá ela agora libertar?”
Ele foi, como tantos outros,
recobrar-se no Espaço, procurar elementos novos para restaurar
o seu organismo gasto por uma vida de incessantes
labores. Partiu com os que serão os fanais da nova
geração, para voltar em breve com eles a continuar e acabar a
obra deixada em delicadas mãos.
O homem já aqui não está; a alma,
porém, permanecerá entre nós. Será um protetor
seguro, uma luz a mais, um trabalhador incansável que as
falanges do Espaço conquistaram. Como na Terra, sem ferir a quem
quer que seja, ele fará que cada um lhe ouça os
conselhos oportunos; abrandará o zelo prematuro dos ardorosos,
amparará os sinceros e os desinteressados e estimulará
os mornos. Vê agora e sabe tudo o que ainda há pouco
previa! Já não está sujeito às incertezas, nem aos
desfalecimentos e nos fará partilhar da sua convicção, fazendo-nos
tocar com o dedo a meta, apontando-nos o caminho, naquela
linguagem clara, precisa, que o tornou aureolado
nos anais literários.
Já não existe o homem,
repetimo-lo. Entretanto, Allan Kardec é imortal e a sua memória, seus trabalhos, seu Espírito estarão sempre com os que
empunharem forte e vigorosamente o estandarte que
ele soube sempre fazer respeitado.
Uma individualidade pujante
constituiu a obra. Era o guia e o fanal de todos. Na
Terra, a obra substituirá o obreiro. Os crentes não se congregarão em
torno de Allan Kardec; congregar-se-ão em torno do
Espiritismo, tal como ele o estruturou e, com os seus
conselhos, sua influência, avançaremos, a passos firmes, para as fases
ditosas prometidas à Humanidade regenerada.
(Revista Espírita, maio de 1869.)
Em seu sepultamento, seu amigo, o
astrônomo francês Camille Flammarion proferiu o seguinte discurso, ressaltando
a sua admiração por aquele que ali baixava ao túmulo:
"Voltaste a esse mundo donde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrestres. Aos nossos pés dorme o teu envoltório, extinguiu-se o teu cérebro, fecharam-se-te os olhos para não mais se abrirem, não mais ouvida será a tua palavra… Sabemos que todos havemos de mergulhar nesse mesmo último sono, de volver a essa mesma inércia, a esse mesmo pó. Mas, não é nesse envoltório que pomos a nossa glória e a nossa esperança. Tomba o corpo, a alma permanece e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor e no céu imenso onde usaremos das nossas mais preciosas faculdades, onde continuaremos os estudos para cujo desenvolvimento a Terra é teatro por demais acanhado. (…) Até à vista, meu caro Allan Kardec, até à vista!”
"Voltaste a esse mundo donde viemos e colhes o fruto de teus estudos terrestres. Aos nossos pés dorme o teu envoltório, extinguiu-se o teu cérebro, fecharam-se-te os olhos para não mais se abrirem, não mais ouvida será a tua palavra… Sabemos que todos havemos de mergulhar nesse mesmo último sono, de volver a essa mesma inércia, a esse mesmo pó. Mas, não é nesse envoltório que pomos a nossa glória e a nossa esperança. Tomba o corpo, a alma permanece e retorna ao Espaço. Encontrar-nos-emos num mundo melhor e no céu imenso onde usaremos das nossas mais preciosas faculdades, onde continuaremos os estudos para cujo desenvolvimento a Terra é teatro por demais acanhado. (…) Até à vista, meu caro Allan Kardec, até à vista!”