31/08/2020

                                                                                       Olá!

Segue nosso estudo de segunda-feira às 15 h.
O Livro dos Espíritos
Q. 257
Ensaio teórico da sensação dos Espíritos





Leitura inicial:

Ante o Além 

 A vida não termina onde a morte aparece. 
Não transformes saudade em fel dos que se foram. 
Eles seguem contigo, conquanto de outra forma. 
Dá-lhes amor e paz, por muito que padeças. 
Eles também te esperam procurando amparar-te. 
Todos estamos juntos, na presença de Deus. 

Fonte: Livro Migalha, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel


Trecho do estudo:

257. O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primária desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar-se, nem de queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal físico produzirem o efeito desse mal, como se real fora? Não as vemos até causar a morte? Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor. O que há, apenas, é que o cérebro guardou desta a impressão. Lícito, portanto, será admitir-se que coisa análoga ocorra nos sofrimentos do Espírito após a morte. Um estudo aprofundado do perispírito, que tão importante papel desempenha em todos os fenômenos espíritas; nas aparições vaporosas ou tangíveis; no estado em que o Espírito vem a encontrar-se por ocasião da morte; na idéia, que tão freqüentemente manifesta, de que ainda está vivo; nas situações tão comoventes que nos revelam os dos suicidas, dos supliciados, dos que se deixaram absorver pelos gozos materiais; e inúmeros outros fatos, muita luz lançaram sobre esta questão, dando lugar a explicações que passamos a resumir.

O perispírito é o laço que à matéria do corpo prende o Espírito, que o tira do meio ambiente, do fluido universal. Participa ao mesmo tempo da eletricidade, do fluido magnético e, até certo ponto, da matéria inerte. Poder-se-ia dizer que é a quintessência da matéria. É o princípio da vida orgânica, porém não o da vida intelectual, que reside no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, os órgãos, servindo-lhes de condutos, localizam essas sensações. Destruído o corpo, elas se tornam gerais. Daí o Espírito não dizer que sofre mais da cabeça do que dos pés, ou vice-versa. Não se confundam, porém, as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo. Estas últimas só por termo de comparação as podemos tomar e não por analogia. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer, mas esse sofrimento não é corporal, embora não seja exclusivamente moral, como o remorso, pois que ele se queixa de frio e calor. Também não sofre mais no inverno do que no verão: temo-los visto atravessar chamas, sem experimentarem qualquer dor. Nenhuma impressão lhes causa, conseguintemente, a temperatura. A dor que sentem não é, pois, uma dor física propriamente dita: é um vago sentimento íntimo, que o próprio Espírito nem sempre compreende bem, precisamente porque a dor não se acha localizada e porque não a produzem agentes exteriores; é mais uma reminiscência do que uma realidade, reminiscência, porém, igualmente penosa. Algumas vezes, entretanto, há mais do que isso, como vamos ver.

Ensina-nos a experiência que, por ocasião da morte, o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo; que, durante os primeiros minutos depois da desencarnação, o Espírito não encontra explicação para a situação em que se acha. Crê não estar morto, por isso que se sente vivo; vê a um lado o corpo, sabe que lhe pertence, mas não compreende que esteja separado dele. Essa situação dura enquanto haja qualquer ligação entre o corpo e o perispírito. Disse-nos, certa vez, um suicida: “Não, não estou morto.” E acrescentava: No entanto, sinto os vermes a me roerem. Ora, indubitavelmente, os vermes não lhe roíam o perispírito e ainda menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. Como, porém, não era completa a separação do corpo e do perispírito, uma espécie de repercussão moral se produzia, transmitindo ao Espírito o que estava ocorrendo no corpo. Repercussão talvez não seja o termo próprio, porque pode induzir à suposição de um efeito muito material. Era antes a visão do que se passava com o corpo, ao qual ainda o conservava ligado o perispírito, o que lhe causava a ilusão, que ele tomava por realidade. Assim, pois, não haveria no caso uma reminiscência, porquanto ele não fora, em vida, roído pelos vermes: havia o sentimento de um fato da atualidade. Isto mostra que deduções se podem tirar dos fatos, quando atentamente observados. 

Durante a vida, o corpo recebe impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se chama fluido nervoso. Uma vez morto, o corpo nada mais sente, por já não haver nele Espírito, nem perispírito. Este, desprendido do corpo, experimenta a sensação, porém, como já não lhe chega por um conduto limitado, ela se lhe torna geral. Ora, não sendo o perispírito, realmente, mais do que simples agente de transmissão, pois que no Espírito é que está a consciência,lógico será deduzir-se que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, aquele nada sentiria, exatamente como um corpo que morreu. Do mesmo modo, se o Espírito não tivesse perispírito, seria inacessível a toda e qualquer sensação dolorosa. É o que se dá com os Espíritos completamente purificados. Sabemos que quanto mais eles se purificam, tanto mais etérea se torna a essência do perispírito, donde se segue que a influência material diminui à medida que o Espírito progride, isto é, à medida que o próprio perispírito se torna menos grosseiro.

Mas, dir-se-á, desde que pelo perispírito é que as sensações agradáveis, da mesma forma que as desagradáveis, se transmitem ao Espírito, sendo o Espírito puro inacessível a umas, deve sê-lo igualmente às outras. Assim é, de fato, com relação às que provêm unicamente da influência da matéria que conhecemos. O som dos nossos instrumentos, o perfume das nossas flores nenhuma impressão lhe causam. Entretanto, ele experimenta sensações íntimas, de um encanto indefinível, das quais idéia alguma podemos formar, porque, a esse respeito, somos quais cegos de nascença diante da luz. Sabemos que isso é real; mas, por que meio se produz? Até lá não vai a nossa ciência. Sabemos que no Espírito há percepção, sensação, audição, visão; que essas faculdades são atributos do ser todo e não, como no homem, de uma parte apenas do ser; mas, de que modo ele as tem? Ignoramo-lo. Os próprios Espíritos nada nos podem informar sobre isso, por inadequada a nossa linguagem a exprimir idéias que não possuímos, precisamente como o é, por falta de termos próprios, a dos selvagens, para traduzir idéias referentes às nossas artes, ciências e doutrinas filosóficas.

Dizendo que os Espíritos são inacessíveis às impressões da matéria que conhecemos, referimo-nos aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não encontra analogia neste mundo. Outro tanto não acontece com os de perispírito mais denso, os quais percebem os nossos sons e odores, não, porém, apenas por uma parte limitada de suas individualidades, conforme lhes sucedia quando vivos. Pode-se dizer que, neles, as vibrações moleculares se fazem sentir em todo o ser e lhes chegam assim ao sensorium commune, que é o próprio Espírito, embora de modo diverso e talvez, também, dando uma impressão diferente, o que modifica a percepção. Eles ouvem o som da nossa voz, entretanto nos compreendem sem o auxílio da palavra, somente pela transmissão do pensamento. Em apoio do que dizemos há o fato de que essa penetração é tanto mais fácil, quanto mais desmaterializado está o Espírito. Pelo que concerne à vista, essa, para o Espírito, independe da luz, qual a temos. A faculdade de ver é um atributo essencial da alma, para quem a obscuridade não existe. É, contudo, mais extensa, mais penetrante nas mais purificadas. A alma, ou o Espírito, tem, pois, em si mesma, a faculdade de todas as percepções. Estas, na vida corpórea, se obliteram pela grosseria dos órgãos do corpo; na vida extracorpórea se vão desanuviando, à proporção que o invólucro semimaterial se eteriza.

Haurido do meio ambiente, esse invólucro varia de acordo com a natureza dos mundos. Ao passarem de um mundo a outro, os Espíritos mudam de envoltório, como nós mudamos de roupa, quando passamos do inverno ao verão, ou do pólo ao equador. Quando vêm visitar-nos, os mais elevados se revestem do perispírito terrestre e então suas percepções se produzem como no comum dos Espíritos. Todos, porém, assim os inferiores como os superiores, não ouvem, nem sentem, senão o que queiram ouvir ou sentir. Não possuindo órgãos sensitivos, eles podem, livremente, tornar ativas ou nulas suas percepções. Uma só coisa são obrigados a ouvir — os conselhos dos Espíritos bons. A vista, essa é sempre ativa; mas, eles podem fazer-se invisíveis uns aos outros. Conforme a categoria que ocupem, podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, porém não dos que lhes são superiores. Nos primeiros instantes que se seguem à morte, a visão do Espírito é sempre turbada e confusa. Aclara-se, à medida que ele se desprende, e pode alcançar a nitidez que tinha durante a vida terrena, independentemente da possibilidade de penetrar através dos corpos que nos são opacos. Quanto à sua extensão através do espaço indefinito, do futuro e do passado, depende do grau de pureza e de elevação do Espírito.

Objetarão, talvez: toda esta teoria nada tem de tranqüilizadora. Pensávamos que, uma vez livres do nosso grosseiro envoltório, instrumento das nossas dores, não mais sofreríamos e eis nos informais de que ainda sofreremos. Desta ou daquela forma, será sempre sofrimento. Ah! sim, pode dar-se que continuemos a sofrer, e muito, e por longo tempo, mas também que deixemos de sofrer, até mesmo desde o instante em que se nos acabe a vida corporal.

Os sofrimentos deste mundo independem, algumas vezes, de nós; muito mais vezes, contudo, são devidos à nossa vontade. Remonte cada um à origem deles e verá que a maior parte de tais sofrimentos são efeitos de causas que lhe teria sido possível evitar. Quantos males, quantas enfermidades não deve o homem aos seus excessos, à sua ambição, numa palavra: às suas paixões? Aquele que sempre vivesse com sobriedade, que de nada abusasse, que fosse sempre simples nos gostos e modesto nos desejos, a muitas tribulações se forraria. O mesmo se dá com o Espírito. Os sofrimentos por que passa são sempre a conseqüência da maneira por que viveu na Terra. Certo já não sofrerá mais de gota, nem de reumatismo; no entanto, experimentará outros sofrimentos que nada ficam a dever àqueles. Vimos que seu sofrer resulta dos laços que ainda o prendem à matéria; que quanto mais livre estiver da influência desta, ou, por outra, quanto mais desmaterializado se achar, menos dolorosas sensações experimentará. Ora, está nas suas mãos libertar-se de tal influência desde a vida atual. Ele tem o livre-arbítrio, tem, por conseguinte, a faculdade de escolha entre o fazer e o não fazer. Dome suas paixões animais; não alimente ódio, nem inveja, nem ciúme, nem orgulho; não se deixe dominar pelo egoísmo; purifique-se, nutrindo bons sentimentos; pratique o bem; não ligue às coisas deste mundo importância que não merecem; e, então, embora revestido do invólucro corporal, já estará depurado, já estará liberto do jugo da matéria e, quando deixar esse invólucro, não mais lhe sofrerá a influência. Nenhuma recordação dolorosa lhe advirá dos sofrimentos físicos que haja padecido; nenhuma impressão desagradável eles lhe deixarão, porque apenas terão atingido o corpo e não a alma. Sentir-se-á feliz por se haver libertado deles e a paz da sua consciência o isentará de qualquer sofrimento moral.

Interrogamos, aos milhares, Espíritos que na Terra pertenceram a todas as classes da sociedade, ocuparam todas as posições sociais; estudamo-los em todos os períodos da vida espírita, a partir do momento em que abandonaram o corpo; acompanhamo-los passo a passo na vida de além- -túmulo, para observar as mudanças que se operavam neles, nas suas idéias, nos seus sentimentos e, sob esse aspecto, não foram os que aqui se contaram entre os homens mais vulgares os que nos proporcionaram menos preciosos elementos de estudo. Ora, notamos sempre que os sofrimentos guardavam relação com o proceder que eles tiveram e cujas conseqüências experimentavam; que a outra vida é fonte de inefável ventura para os que seguiram o bom caminho. Deduz-se daí que, aos que sofrem, isso acontece porque o quiseram; que, portanto, só de si mesmos se devem queixar, quer no outro mundo, quer neste.

29/08/2020



 

   Olá!

Segue nosso estudo do Sábado Fraterno das 16h30










Tema

110 Caridade Essencial

Mensagem do Espírito Emmanuel

"Vinha de Luz"

Psicografia de Francisco Cândido Xavier


28/08/2020

                                                                                   Olá!


Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 h.
Livro Ação e Reação  
Capítulo 20 - Comovente Surpresa





Leitura inicial:

NA HORA DE AUXILIAR 
Emmanuel


 " Na hora de auxiliar, em favor de alguém, não perguntes: O que é que eu poderia fazer? Faze logo o que puderes para que a tua parcela de socorro não chegue atrasada. " 


Trecho do estudo:

Decorridos três dias sobre a nossa derradeira conversação, achávamo-nos no maior recinto do grande instituto de socorro espiritual.

O Instrutor e o Assistente despediam-se dos amigos. O enorme salão estava repleto. No largo estrado, em que se destacava a direção, Druso aparecia, ladeado pelo Instrutor Arando, a quem passaria o governo do estabelecimento, e pela esposa querida, aquela que lhe ofertara no mundo os sonhos doces do primeiro matrimônio, cujos olhos serenos exprimiam irradiante bondade. Outros benfeitores, incluindo o nosso caro Silas, ali também se encontravam, atenciosos e emocionados. 

Na multidão dos ouvintes, estávamos nós, renteando com os assessores e funcionários do grande hospital-escola, ao pé de mais de trezentos internados. Todos os enfermos, abrigados e servidores vinham trazer a Druso preciosos testemunhos de reconhecimento. As manifestações comovedoras multiplicavam-se, incessantes.

Enquanto música leve nascia de instrumentos ocultos, espalhando-se em surdina, todos os doentes, em fila movimentada, queriam dizer uma palavra ao abnegado Instrutor que os acolhera, generoso. 

Velhinhos trêmulos abençoavam-lhe o nome, irmãs, cujo aspecto falava de laboriosa renovação, ofertavam-lhe as flores torturadas e tristes que o clima inquietante da Mansão era capaz de produzir, entidades diversas, recuperadas ao hálito de seu incansável devotamento, endereçavam-lhe expressões respeitosas e amigas, enquanto jovens inúmeros lhe osculavam as mãos...

Para todos possuía Druso uma frase de enternecimento e carinho. 

Choro discreto surgia aqui e ali... Todos devíamos, ao mentor admirável, esclarecimento e esperança, energia e consolação. 

O novo chefe, após a cerimônia simples da transmissão de responsabilidades, levantou-se e prometeu dirigir a casa com lealdade a Nosso Senhor Jesus-Cristo. Para falar a verdade, porém, não creio que o Instrutor Arando, recém-chegado a casa, pudesse naquela hora atrair-nos mais dilatada atenção, e, tão logo se acomodou na poltrona que a solenidade lhe reservava, Druso ergueu-se e rogou permissão para orar à despedida. 

Todas as frontes penderam silenciosas, enquanto a voz dele se elevou para o Infinito, à maneira de melodia emoldurada de lágrimas.

– “Senhor Jesus” – clamou humilde – “neste instante em que te oferecemos o coração, dera que nossa alma se incline, reverente, para agradecer-te as bênçãos de luz que a toca incomensurável bondade aqui nos concedeu em cinqüenta anos de amor... 

“Tu, Mestre, que ergueste Lázaro do sepulcro, levantaste-me também das trevas para a alvorada remissora, lançando no inferno de minha culpa o orvalho de tua compaixão... 

“Estendeste os braços magnânimos ao meu espírito mergulhado na lodosa corrente do crime. Trouxeste-me do pelourinho do remorso para o serviço da esperança. Reanimaste-me quando minhas forças desfaleciam... 

“Nos dias agoniados, foste o alimento de minhas ânsias; Nas sendas mais escabrosas, eras, em tudo, o meu companheiro fiel. Ensinaste-me, sem ruído, que somente através da recuperação do respeito a mim mesmo, no pagamento de meus débitos, é que poderei empreender a reconquista de minha paz... 

“E confiaste-me, Senhor, o trabalho neste pouso restaurador, com assistência constante de tua benevolência infinita, a fim de que eu pudesse avançar das sombras da noite para o fulgor de novo dia!... 

“Agradeço-te, pois, os instrutores que me deste, a cuja devoção afetuosa tão pesado tenho sido, os companheiros generosos que tantas vezes me suportaram as exigências e os irmãos enfermos que tantos ensinamentos preciosos me trouxeram ao coração!... 

“E agora, Senhor, que a esfera dos homens me descerrará de novo as portas, acompanha-me, por acréscimo de misericórdia, com a graça de tua bênção. 

“Não permitas que o reconforto do mundo me faça esquecerte e constrange-me ao convívio da humildade para que o orgulho me não sufoque. 

“Dá-me a luta edificante por mestra do meu resgate e não retires o teu olhar de sobre os meus passos, ainda que, para isso, deva ser o sofrimento constante a marca de meus dias. 

“E, se possível, deixa que os irmãos desta casa me amparem com os seus pensamentos em orações de auxilio, para que, no pedregoso caminho da regeneração de que careço, não me canse de louvar-te o excelso amor para sempre!...” 

Calou-se Druso, em pranto. 

No recinto, choviam pequenos flocos luminescentes, à maneira de estrelas minúsculas que se desfaziam, de leve, em nos tocando a fronte...  

Lá fora, gritava a tempestade em convulsões terríveis. Cá dentro, todavia, reinava em nós a certeza de que, além da faixa das trevas, o céu ilimitado resplendia eternamente em luz.

Reunimo-nos a Silas e, juntos, abeiramo-nos do abnegado Instrutor para as últimas saudações, porque também nós, Hilário e eu, deveríamos partir, já que a nossa tarefa estava encerrada. 

Druso enlaçou-nos paternalmente e, talvez porque nos demorássemos no abraço carinhoso, tentando definir-lhe o nosso imenso afeto, pousou em nós o olhar, falando comovido:

– Deus nos abençoe, meus filhos!... Um dia, reencontrar-nosemos de novo... 

Com a voz embargada de emoção, beijamos-lhe a destra em profundo silêncio, porque somente as lágrimas poderiam algo dizer de nossa gratidão e de nosso enternecimento, no adeus inesquecível...  

27/08/2020

Olá!

Ouça abaixo um trecho do livro 

Primícias do Reino


 5 

O MANCEBO RICO 

O momento era de profunda significação. Sabia, por estranha intuição, que um dia defrontaria a Realidade, e a encontrava agora.(14) 

No ar abafado do entardecer serenavam as ânsias da Natureza. 

Doces perfumes evolavam de miúdas flores derramadas nos flancos do aclive. 

As águas transparentes cantavam melodias ignotas, deslizando sobre o leito de pedras arredondadas. 

O apelo pairava vibrando em derredor: — Vende tudo quanto tens, reparte-o pelos pobres, e terás um tesouro no Céu; vem, e segue-me! 

Aquela voz penetrava como um punhal afiado e impregnava qual perfume de nardo.

Havia um magnetismo inconfundível naqueles olhos severos e profundos como duas estrelas engastadas na face pálida do amanhecer.

Tinha sede de paz. 

Embora repousasse em leito de madeiras preciosas incrustado de ébano e lápis-lazúli, se banqueteasse em repastos opíparos, cuidasse do corpo com massagens de óleos e unguentos raros, envolvendo-o em tecidos de linho leve, e suas arcas estivessem abarrotadas de gemas e ouro, sabia-se infeliz, sentia-se infeliz. Faltava-lhe algo que não se consegue facilmente. 

Hesitava, no entanto. 

Sua vivenda era luxuosa, seus pertences valiosos, e vazio o seu coração. 

Conquanto a juventude cantasse alegrias e festas em convites constantes ao prazer no corpo ágil e vigoroso, acalentava melhores aspirações, se disputava a posse total da paz. Era mais do que um tormento essa necessidade. Não que desejasse a tranquilidade aparatosa dos fariseus ou o repouso entorpecente dos mercadores opulentos, nem a serenidade enganosa dos cambistas abastecidos ou a senectude vitoriosa dos conquistadores em aposentadoria compulsória. Buscava integração harmoniosa, mas não sabia em quê.

Confrangia-se e angustiava-se, ignorando as nascentes da melancolia renitente que lhe dissipava sonhos e esperanças sob guante de inenarrável amargura.

Buscava as competições em Cesareia, todavia ignorava se essa busca representava uma realização ou uma fuga.

Agora, pela primeira vez, sentia-se arrebatado. 

A meiguice e a ordem daquela voz, enunciada por aquele Homem, ecoavam como cascatas em desalinho nos abismos do espírito.  

Interiormente gritava: “Irei contigo, Senhor, mas”... 

Hesitava, sim, e a hora não comportava dubiedades. 

Uma roseira de flores rubras, que abraçava os ramos do arvoredo próximo, sacudida pelo vento, desgarrou-se e as pétalas da cor de sangue caíram-lhe aos pés, junto dele, no alpendre, como sinais...

Donde O conhecia? —, indagava, a medo, procurando recordar-se, com indizível esforço mental.

Tudo àquela hora era importante; mais do que isso: vital!

Ao vê-lO, de longe, era como se reencontrasse um amigo, um celeste Amigo.

Quando os seus descansaram nos olhos d’Ele, sentiu-se desnudado, o coração em descontrole sob violenta pulsação. Emoções inusitadas vibraram no seu ser, como jamais acontecera anteriormente. Desejou arrojar-se ao solo, esmagado por indômita constrição no peito.

Percebeu que o Estranho sorriu, como se o esperasse, como se o amasse, poderia afirmá-lo... 

O tempo corria célere galopando as horas fugidias. 

Lutava por quebrar aquele torpor que o imobilizava. 

Retalhos de luar tímido prateavam nuvens soltas no firmamento, bordando de luz oliveiras altivas e loendros em flor.Seus lábios afiguraram-se selados, e frio impertinente gelava-lhe as mãos. 

Lutava por quebrar aquele torpor que o imobilizava. 

Retalhos de luar tímido prateavam nuvens soltas no firmamento, bordando de luz oliveiras altivas e loendros em flor.

— Permite-me primeiro — conseguiu articular, vencendo a emoção que o transfigurava — competir em Cesaréia, logo mais, disputando para Israel os triunfos dos jogos...

— Não posso esperar. O Reino dos Céus começa hoje e agora para o teu Espírito. Não há tempo a perder.

— Aguardei muito essa ocasião e ela se avizinha, com a chegada do período das competições.... Exercitei-me, contratei escravos que me adestraram.... Aos partos comprei, por uma fortuna, duas parelhas de fogosos cavalos.... Os jogos estão próximos... 

— Renuncia, e segue-me! 

Quem era Ele que assim lhe falava? Que poder exercia sobre sua vontade? Por qual sortilégio o dominava?!... Gostaria de fugir ou deixar-se arrastar; estava perturbado; ignorada sofreguidão o aniquilava...  

A horizontalidade das aflições humanas contemplava a verticalidade da sublimação divina; o cotidiano deparava com o infinito; o vale fitava o abismo das alturas e se perdia na imensidão.

O homem e o Filho do Homem se defrontavam.

O diálogo parecia impossível, reduzindo-se a um monólogo atormentante para o moço diante daquele Homem.

Vencendo irresistível temor, continuou o príncipe afortunado:

 — Não receio dar o que possuo: dinheiro, ouro, gemas, títulos, se possível, pois sei que esses se gastam muito facilmente, mas... 

— .... Dá-me a ti próprio e eu te oferecerei a ventura sem limite. 

Que alto prêmio! Que pesado tributo! —, pensou desanimado.

Era muito jovem e muitos confiavam nele. Possivelmente Israel lucraria com os seus lauréis e triunfos. Príncipe, tinha pela frente as avenidas do poder a que se afervorava, poder que no momento destituía-se de qualquer valor.

Os bens, poderia ofertá-los, sim. Porém, a fortuna da juventude, os tesouros vibrantes da vaidade atendida e dos caprichos sustentados, as honras de família resguardadas pela tradição, os corifeus agradáveis e bajuladores, oh! Seria necessário renunciar-se a isso tudo? — Interrogava-se, inquieto.

— Sim! — Respondeu-lhe, sem palavras, com os olhos fulgurantes. 

Sofria naqueles minutos a soma dos sofrimentos que experimentara a vida toda. 

O ar cantava leves murmúrios enquanto as tulipas do campo teciam um manto sutil, rescendendo aromas. 

O Rabi, em silêncio, aguardava. 

E ele, em perplexidade, lancinava-se. 

O diálogo se tornara realmente impossível. 

Subitamente, o príncipe de qualidade, num átimo de minuto, lembrou-se que amigos o aguardavam na cidade. Compromissos esperavam-no. Deveria debater os detalhes finais para a corrida na grande festa da semana entrante. 

Acionado por estranho vigor que dele se apossou, repentinamente, fitou o Messias sereno e triste, balbuciando com voz apagada:

— Não posso.... Não posso seguir-Te agora.... Perdoa-me, se me amas!

E saiu quase a correr.

...

 Os festins de Cesaréia pretendiam rivalizar com os de Roma, atraindo aficionados até mesmo da Metrópole longínqua. 

Ao som alegre de trompas e fanfarras começavam as festas públicas.

Competições de bigas abrem as corridas ante a aflição de judeus, romanos e gentios que deixaram sobre as mesas dos cambistas pesadas apostas nos seus ases.

Gladiadores em combates simulados, tocadores de pífanos e flautas, alaúdes e címbalos enchem os intervalos de som e de cor

As quadrigas estão na linha de partida. Os fogosos corcéis, adquiridos aos partos, oriundos da Dalmácia, de Tiro, Sidon e da Arábia empinam, lustrosos, ajaezados. Ao sinal, disparam sob estrondosa ovação.

Chicotes vibram no ar, mãos firmes nas rédeas, os guias e condutores dão velocidade aos carros frágeis. A celeridade prende a respiração em todos os peitos.

A expectativa fala sem voz na pulsação da tarde ardente e empoeirada.

Numa manobra menos feliz, um carro vira e um corpo tomba na arena, despedaçado pelas patas velozes em disparada.

O moço rico sente as entranhas abertas, o suor e o sangue em pastas de lama, a respiração estertorada...

Enquanto escravos precipites arrastam-no da pista, foge mentalmente à cena brutal que o esmaga, e entre as névoas que lhe sombreiam os olhos parece vê-lO.

Silenciando os gritos na concha acústica, tem a impressão de escutá-lO:

— Renuncia a ti mesmo; vem, e segue-me!

— Amigo!... 

Dois braços o envolvem veludosos e transparentes.

Apesar da face deformada e lavada pelas lágrimas, pelo suor e o sangue, ele dá a impressão de sorrir.

Fonte: Livro Primícias do Reino, O Mancebo Rico , Divaldo Franco pelo Espírito Amélia Rodrigues.

26/08/2020

                                                                                  Olá!

                                                   Segue nosso estudo de quarta-feira às 19 h.

        Livro A Gênese
        capítulo 2
Deus - A providência





Leitura inicial:

23

Ante o sublime

“Não faças tu comum o que Deus purificou.”

(Atos dos Apóstolos, 10:15)


Existem expressões no Evangelho que, à maneira de flores a se salientarem num ramo divino, devem ser retiradas do conjunto para que nos deslumbremos até o seu brilho e perfume peculiares.

A voz celeste, que se dirige a Simão Pedro, nos Atos, abrange horizontes muito mais vastos que o problema individual do apóstolo.

O homem comum está rodeado de glórias na Terra, entretanto, considerasse num campo de vulgaridades, incapaz de valorizar as riquezas que o cercam.

Cego diante do espetáculo soberbo da vida que lhe emoldura o desenvolvimento, tripudia sobre as preciosidades do mundo, sem meditar no paciente esforço dos séculos que a Sabedoria Infinita utilizou no aperfeiçoamento e na seleção dos valores que o rodeiam.

Quantos milênios terá exigido a formação da rocha?

Quantos ingredientes se harmonizam na elaboração de um simples raio de sol?

Quantos óbices foram vencidos para que a flor se materializasse?

Quanto esforço custou a domesticação das árvores e dos .animais?

Quantos séculos terá empregado a Paciência do Céu na estruturação complexa da máquina orgânica em que o Espírito encarnado se manifesta?

A razão é luz gradativa, diante do sublime.

Não te esqueças, meu irmão, de que o Senhor te situou a experiência terrestre num verdadeiro paraíso, onde a semente minúscula retribui na média do infinito por um e onde águas e flores, solo e atmosfera te convidam a produzir, em favor da multiplicação dos Tesouros Eternos.

Cada dia, louva o Senhor que te agraciou com as oportunidades valiosas e com os dons divinos.

Pensa, estuda, trabalha e serve.

Não suponhas comum o que Deus purificou e engrandeceu.


 * * * *

A Providência


20. A providência é a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê, a tudo preside, mesmo às menores coisas. É nisto que consiste a ação providencial. 

“Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, imiscuir-se em pormenores ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo?” Esta a interrogação que a si mesmo dirige o incrédulo, concluindo por dizer que, admitida a existência de Deus, só se pode admitir, quanto à sua ação, que ela se exerça sobre as leis gerais do universo; que o universo funcione de toda a eternidade em virtude dessas leis, às quais toda criatura se acha submetida na esfera de suas atividades, sem que haja mister a intervenção incessante da Providência.

21. No estado de inferioridade em que ainda se encontram, só muito dificilmente podem os homens compreender que Deus seja infinito, pois, vendo-se limitados e circunscritos, eles o imaginam também circunscrito e limitado. Imaginando-o circunscrito, figuram-no quais eles são, à imagem e semelhança deles. Os quadros em que o vemos com traços humanos não contribuem pouco para entreter esse erro no espírito das massas, que nele adoram mais a forma que o pensamento. Para a maioria, é Ele um soberano poderoso, sentado num trono inacessível e perdido na imensidade dos céus. Tendo restritas suas faculdades e percepções, não compreendem que Deus possa e se digne de intervir diretamente nas pequeninas coisas.

22. Impotente para compreender a essência mesma da Divindade, o homem não pode fazer dela mais do que uma ideia aproximativa, mediante comparações necessariamente muito imperfeitas, mas que, ao menos, servem para lhe mostrar a possibilidade daquilo que, à primeira vista, lhe parece impossível.

Suponhamos um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos. Sendo ininteligente, esse fluido atua mecanicamente, por meio tão só das forças materiais. Se, porém, o supusermos dotado de inteligência, de faculdades perceptivas e sensitivas, ele já não atuará às cegas, mas com discernimento, com vontade e liberdade: verá, ouvirá e sentirá.

23. As propriedades do fluido perispirítico podem nos dar uma ideia. Ele não é de si mesmo inteligente, pois que é matéria, mas é o veículo do pensamento, das sensações e percepções do Espírito. O fluido perispiritual não é o pensamento do Espírito; é, porém, o agente e o intermediário desse pensamento. Sendo ele que o transmite, fica, de certo modo, impregnado do pensamento transmitido, e na impossibilidade em que nos achamos de isolar o pensamento, a nós parece que ele faz corpo com o fluido, dando a entender que são uma coisa só, como sucede com o som e o ar, de maneira que podemos, a bem dizer, materializá-lo. Assim como dizemos que o ar se torna sonoro, poderíamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.

24. Seja ou não assim no que concerne ao pensamento de Deus, isto é, que o pensamento de Deus atue diretamente ou por intermédio de um fluido, para facilitar a nossa inteligência, figuremo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente que enche o universo infinito e penetra todas as partes da Criação: a natureza inteira está mergulhada no fluido divino.

Ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma natureza e têm as mesmas propriedades que ele, cada átomo desse fluido, se assim nos podemos exprimir, possuindo o pensamento, isto é, os atributos essenciais da Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Nenhum ser haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não esteja saturado dele. Achamo-nos então, constantemente, em presença da Divindade; nenhuma das nossas ações lhe podemos subtrair ao olhar; o nosso pensamento está em contato ininterrupto com o seu pensamento, havendo, pois, razão para dizer-se que Deus vê os mais profundos refolhos do nosso coração. Estamos nele, como Ele está em nós, segundo a palavra do Cristo (1 João, 4:13).

Para estender a sua solicitude a todas as criaturas, não precisa Deus lançar o olhar do Alto da imensidade. As nossas preces, para que Ele as ouça, não precisam transpor o espaço, nem ser ditas com voz retumbante, pois que, estando sempre ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem nele. Os nossos pensamentos são como os sons de um sino, que fazem vibrar todas as moléculas do ar ambiente.

25. Longe de nós a ideia de materializar a Divindade. A imagem de um fluido inteligente universal evidentemente não passa de uma comparação apropriada a dar de Deus uma ideia mais exata do que os quadros que o apresentam debaixo de uma figura humana. Essa imagem se destina a fazer compreensível a possibilidade que tem Deus de estar em toda parte e de se ocupar com todas as coisas.

26. Temos constantemente sob as vistas um exemplo que nos permite fazer ideia do modo por que talvez se exerça a ação de Deus sobre as partes mais íntimas de todos os seres e, conseguintemente, do modo por que lhe chegam as mais sutis impressões de nossa alma. Esse exemplo tiramo-lo de certa instrução que a tal respeito deu um Espírito.

27. “O homem é um pequeno mundo, que tem como diretor o Espírito e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará uma criação cujo Espírito seria Deus. (Compreendei bem que aqui há uma simples questão de analogia e não de identidade.) Os membros desse corpo, os diferentes órgãos que o compõem, os músculos, os nervos, as articulações são outras tantas individualidades materiais, se assim se pode dizer, localizadas em pontos especiais do corpo. Se bem seja considerável o número de suas partes constitutivas, de natureza tão variada e diferente, a ninguém é lícito supor que se possam produzir movimentos, ou uma impressão em qualquer lugar, sem que o Espírito tenha consciência do que ocorra. Há sensações diversas em muitos lugares simultaneamente? O Espírito as sente todas, distingue, analisa, assinala a cada uma a causa determinante e o ponto em que se produziu, tudo por meio do fluido perispirítico.

“Análogo fenômeno ocorre entre Deus e a Criação. Deus está em toda parte, na natureza, como o Espírito está em toda parte, no corpo. Todos os elementos da Criação se acham em relação constante com Ele, como todas as células do corpo humano se acham em contato imediato com o ser espiritual. Não há, pois, razão para que fenômenos da mesma ordem não se produzam de maneira idêntica, num e noutro caso.

“Um membro se agita: o Espírito o sente; uma criatura pensa: Deus o sabe. Todos os membros estão em movimento, os diferentes órgãos estão a vibrar; o Espírito se ressente de todas as manifestações, as distingue e localiza. As diferentes criações, as diferentes criaturas se agitam, pensam, agem diversamente: Deus sabe o que se passa e assina a cada um o que lhe diz respeito.

“Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, a de todos os mundos e, por fim, de todas as criações com o Criador.” (Quinemant, Sociedade de Paris, 1867.)

28. Compreendemos o efeito: já é muito. Do efeito remontamos à causa e julgamos da sua grandeza pela grandeza do efeito. Escapa-nos, porém, a sua essência íntima, como a da causa de uma imensidade de fenômenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do calor, da luz, da gravitação; calculamo-los e, entretanto, ignoramos a natureza íntima do princípio que os produz.18 Será então racional neguemos o princípio divino, porque não o compreendemos?

29. Nada obsta a que se admita, para o princípio da soberana inteligência, um centro de ação, um foco principal a irradiar incessantemente, inundando o universo com seus eflúvios, como o Sol com a sua luz. Mas onde esse foco? É o que ninguém pode dizer. Provavelmente, não se acha fixado em determinado ponto, como não o está a sua ação, sendo também provável que percorra constantemente as regiões do espaço sem-fim. Se simples Espíritos têm o dom da ubiquidade, em Deus há de ser sem limites essa faculdade. Enchendo Deus o universo, poder-se-ia ainda admitir, a título de hipótese, que esse foco não precisa transportar-se, por se formar em todas as partes onde a soberana vontade julga conveniente que ele se produza, donde o poder dizer-se que está em toda parte e em parte nenhuma.

30. Diante desses problemas insondáveis, cumpre que a nossa razão se humilhe. Deus existe: disso não podemos duvidar. É infinitamente justo e bom: essa a sua essência. A tudo se estende a sua solicitude: compreendemo-lo. Só o nosso bem, portanto, pode Ele querer, donde se segue que devemos confiar nele, isso é essencial. Quanto ao mais, esperemos que nos tenhamos tornado dignos de o compreender.

18 N.E.: Os efeitos citados são objeto de estudo há tempos, e hoje já são bem mais compreendidos. 

                                                * * * *



25/08/2020

                                                                            Olá amigos!

Ouçam abaixo o trecho do livro 

Pontos e Contos



 09 - SURPRESA EM SESSÃO 

Aquela mania de Aguinaldo Limeira raiava pela imprudência incompreensível. 

Estimava o serviço de doutrinação aos desencarnados, era de uma pontualidade notável às reuniões, contribuía de boa-vontade nos serviços de assistência, mas, no trato com o invisível, não era bastante cauteloso nas conversações.

Cultivava especialmente as sessões práticas, dedicadas às entidades sofredoras e ignorantes, mas preferia realizá-las com grande público, junto do qual se esmerava em demonstrar o verbo enérgico e veemente.

Não se sentia satisfeito por mostrar o caminho ao desviado, dar pão espiritual ao faminto de luz, remédio à alma enferma. 

Aguinaldo multiplicava perguntas e exigências. 

Consolava, sem dúvida, e, na qualidade de trabalhador sincero, espalhava muitos bens; entretanto, dava-se a longas conversas para estabelecer a procedência dos comunicantes. 

Por vezes, as entidades em luta, por motivo de padecimentos incríveis, não podiam prestar esclarecimentos minuciosos, mas o doutrinador reclamava, rogava, insistia. Quanto mais conhecido o Espírito visitante, mais se desmanchava Limeira nas indagações ociosas. 

Quando arrancava certas declarações tristes, parecia alegrar-se como o caçador viciado quando apanha a presa, e, a pretexto de identificar as almas sofredoras, tendia, sem perceber, para a falta de caridade. 

De quando em quando, o respeitável orientador espiritual do grupo utilizava o médium Silvares e esclarecia, de maneira direta : 

– Aguinaldo, meu amigo, tem cautela no campo da identificação dos invisíveis. Se o necessitado bate à porta, atendamos sem muitas interrogações. Que adianta minudenciar a situação de pobres irmãos nossos, ignorantes e sofredores? Em muitas ocasiões, qual acontece aos doentes graves da Terra, também os desencarnados em desequilíbrio não trazem a memória muito clara, perturbados nas inquietações que lhes povoam a mente. Dálhes o pão do Cristo e deixa-os passar. Obrigá-los a pormenores informativos, quanto à paisagem que lhes é própria, é intensificar-lhes a dolorosa humilhação. Seria crueldade pedir aos agonizantes certos esclarecimentos de que devem estar seguros aqueles que os assistem. Além do mais, os que ensinam e doutrinam estão sempre criando imagens mentais diferentes naqueles que ouvem e aprendem, e torna-se indispensável não esquecer que tens numeroso público visível e invisível. A indagação descabida, por vezes, se ajusta à pretensão científica na pesquisa intelectual, mas aqui, meu amigo, estamos num serviço de iluminação do espírito para a melhoria do sentimento. Não te transformes de missionário do bem no advogado de acusação. Pede ao Mestre Divino te esclareça o entendimento! 

Limeira ouvia, mas não ponderava. 

Na sessão imediata, referia-se ao trabalho indagador dos estudiosos eminentes do Espiritismo científico, e, quando algum pobre necessitado se fazia sentir, iniciava o interrogatório crucial. 

Mantinha-se inalterada a situação do agrupamento, quando certa noite, diante de enorme assistência, em meio dos trabalhos, surgiu uma entidade que tomou o médium Silvares, a desfazer-se em convulsivo pranto.  

– Diga, meu irmão – falou Aguinaldo, inquieto –, diga o que sofre e o que deseja...

– Que sofro, que desejo? – gemeu o infeliz, amarguradamente – não posso!... não posso!... Sou um miserável convertido num monstro!... 

– Como assim, meu amigo? – tornou Limeira, espicaçado pela curiosidade. 

– Ai! – suspirou a entidade lacrimosa – como doem os resultados da hipocrisia! Na Terra, enganei as criaturas, mistifiquei os semelhantes, mas, agora, sinto-me diante da própria consciência... não posso iludir a mim mesmo! 

– Com que então foi você um hipócrita no mundo? – perguntou Limeira, com atitude superior – certamente, enganou os homens, mascarando propósitos e intenções, e, muito tarde, reconhece que praticou um crime... 

- É verdade, é verdade... – clamou o infeliz, soluçando. 

Tão comovedoras eram as lágrimas do comunicante infortunado, que toda a assistência chorava, sob forte emoção. 

Limeira, contudo, desejando imprimir o máximo efeito ao quadro, mostrava atitude inquiridora e convincente.  

– Continue, meu irmão! – prosseguiu com autoridade.

E, ao invés de confortá-lo, em nome de Jesus, levantando-lhe a esperança caída, o doutrinador insistia : 

– Esclareça convenientemente o seu caso, meu irmão! de onde veio? poderá identificar-se? 

O desventurado esforçava-se, em vão, para responder. O pranto embargava-lhe a voz. Parecendo insensível, Limeira sentenciou : 

– Veja, meu amigo, a que estado angustioso foi conduzido pelo hábito de mentir. O crime da hipocrisia determinou suas lágrimas presentes. A morte, que descerra os véus da ilusão, revelou sua verdadeira consciência. Conhece, o irmão, agora, os sofrimentos que aguardam os mentirosos, os homem fingidos e todos aqueles que aparentam a verdade e fogem dela, às ocultas, acolhendo-se ao crime. Fale, meu amigo, em que zona da vida tentou enganar as leis divinas... Como se chama?

Que fez na Terra? Como iludiu o próximo? Possuía você alguma crença religiosa? 

Nesse momento, a entidade conseguiu interromper os soluços e falou: 

– Aguinaldo, não me tortures mais com tantas interrogações!... 

Escutando a voz, tonalizada em novo característico, o doutrinador estremeceu, fez-se lívido e perguntou, espantado:

 – Quem é você, meu irmão? 

O infeliz comunicante, num gesto supremo, respondeu em tom lastimoso: 

– Eu sou teu pai!... 

Viu-se, então, que Limeira deixou pender a fronte e começou também a chorar.   

23/08/2020


 Olá!

Segue nosso estudo de segunda-feira às 16:30 h.
Médiuns e mediunidades
Capítulo XI
Problemas da Mediunidade



leitura inicial:

 TAREFA ABENÇOADA

 Bezerra de Menezes 

É o trabalho espiritual a que te dedicas. Dentro dele, sempre o melhor. Não permitas que as tuas imperfeições empanem a brilho das tarefas sob a tua responsabilidade. Apaga-te quanto possas, para que a Luz do Senhor resplandeça. Anula-te, para que o Cristo consiga viver por ti e em ti. Não tenhas outra aspiração que não seja a de cumprir com os teus deveres, em louvor do ideal que abraçaste. Sê a palavra de bom ânimo aos companheiros desalentados, o amigo que compreende e auxilia sem nada exigir. As boas obras reclamam a perseverança dos que a elas se entregam. Porfia no Bem de todos e a vida se te fará um caminho de luz. Nunca desconsideres ninguém. Lembra-te de que toda tarefa de amor, para se firmar entre os homens, não dispensa o concurso sábio do tempo. Ainda hoje, o Cristo prossegue lutando pela edificação do Reino Divino na Terra. Ante incompreensões, serve mais. Ante críticas, silencia. Sofrendo, ora e espera por Deus. A oportunidade que desfrutas agora no serviço do Evangelho, nas bênçãos da Doutrina Espírita, é a melhor de todas as que já tiveste para escalar os degraus da redenção. 

Livro: Palavras da Coragem – Editora: Ideal – SP ,Médium: Francisco Cândido Xavier

Trecho do estudo:

Prognosticam, alarmadas, pessoas que ignoram a excelência do conteúdo da Doutrina Espírita, que o exercício da mediunidade gera várias desordens emocionais, comprometendo o equilíbrio psicológico do homem.

Repetem, sem que se deem conta, velhos chavões que a experiência dos fatos demonstrou ultrapassados, porque destituídos da legitimidade.

A mediunidade, como qualquer outra faculdade orgânica, exige cuidados específicos para um desempenho eficaz quão tranquilo.

Os distúrbios que lhe são atribuídos decorrem das distonias emocionais do seu portador que, Espírito endividado, reencarna-se enredado no cipoal das próprias imperfeições, das quais derivam seus conflitos, suas perturbações, sua intranquilidade.

Pessoas nervosas apresentam-se inquietas, instáveis em qualquer lugar, não em razão do que fazem, porém, pelo fato de serem enfermas.

Atribuir-se, no entanto, à mediunidade a psicogênese das nevropatias é dar um perigoso e largo passo na área da conceituação equivocada.

O homem deseducado apresenta-se estúrdio e incorreto onde se encontre. Nada tem a ver essa conduta com a filosofia, a aptidão e o trabalho a que se entrega, porquanto o comportamento resulta dos seus hábitos e não do campo onde se localiza.

Justificam, os acusadores, que os médiuns sempre se apresentam com episódios de desequilíbrio, de depressão ou exaltação, sem complementarem que os mesmos são inerentes à personalidade humana e não componentes das faculdades psíquicas.

Outrossim, estabelecem que os médiuns são portadores de personificações arbitrárias, duplas ou várias, liberando-as durante o transe, favorecendo, assim, as catarses psicanalíticas. Se o fora, eis uma salutar terapia liberativa que poderia propiciar benefícios incontáveis aos enfermos mentais. Todavia, dá-se exatamente o contrário: não se tratam de personalidades esdrúxulas do inconsciente as que se apresentam nas comunicações, mas de individualidades independentes que retornam ao convívio humano procedentes do mundo espiritual, demonstrando a sobrevivência à morte e fazendo-se identificar de forma insuspeita, consolando vidas, e, nos casos das obsessões, trazendo valioso contributo às ciências da mente interessadas na saúde do homem.

Evidentemente, aparecem manifestações da personalidade ou anímicas que não são confundidas com as de natureza mediúnica, decorrentes das fixações que permanecem no inconsciente do indivíduo.

Na área dos fenômenos intelectuais, tanto quanto dos físicos, os dados se acumulam, confirmando confirmando a imortalidade do ser, que se despe dos subterfúgios para surgir com tranquila fisionomia de vida plena.

Certamente, ocorrem, no médium, estados oscilantes de comportamento psicológico, o que é perfeitamente compreensível e normal, já que a mediunidade não o libera da sua condição humana e frágil.

A interação Espírito/matéria, cérebro-mente, sofre influências naturais, inquietantes, quando se lhes associam, psiquicamente, outras mentes, em particular aquelas que se encontram em sofrimento, vitimadas pelo ódio, portadoras de rebeldia, de desequilíbrio.

A tempestade vergasta a Natureza, que logo se recompõe, passada a ação danosa. Também no médium, cessada a força perturbadora, atuante, desaparecem-lhe os efeitos perniciosos.

Isso igualmente acontece entre os indivíduos não dotados de mediunidade ostensiva, em razão dos mecanismos de sintonia psíquica.

Na mediunidade, em razão dela mesma, a ocorrência cessa, em face dos recursos de que se faz objeto, ensejando um intercâmbio lúcido e um diálogo feliz com o agente causador da desordem transitória.

O Espiritismo é o único antídoto para tais perturbações, pelas orientações que proporciona e por penetrar na tecedura da faculdade mediúnica, esclarecendo-lhe o mecanismo e, ao mesmo tempo, dando-lhe sentido, direção.

Independendo de escola de pensamento, de fé e de credo, a mediunidade, ínsita no homem, merece ser educada pelos métodos espíritas, a fim de atender às nobres finalidades para as quais se destina, como instrumento de elevação do seu portador e de largos benefícios para as demais criaturas.

Não há problemas decorrentes do exercício saudável da mediunidade.

Assim, portanto, não se justificam as acusações que fazem à aplicação das forças mediúnicas no cotidiano espírita.

O exercício correto da mediunidade, a educação das forças nervosas, a canalização dos valores morais para o bem, brindam o indivíduo com equilíbrio, harmonia, dele fazendo mensageiro da esperança, operário da caridade e agente do amor, onde quer que se encontre, a serviço da própria elevação espiritual.






                                                                                  Olá!

Segue nosso estudo de segunda-feira às 15 h.
O Evangelho Segundo O Espiritismo
Cap. XXVIII itens 20 e 21 - 
Para pedir força de resistir a uma tentação


Leitura inicial:

Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine; ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou. E, quando houvesse distribuído os meus bens para alimentar os pobres e houvesse entregado meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso de nada me serviria.
A caridade é paciente; é branda e benfazeja; a caridade não é injubilosa; não é temerária, nem precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não cuida de seus interesses; não se agasta, nem se azeda com coisa alguma; não suspeita mal; não se rejubila com a injustiça, mas se rejubila com a verdade; tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.

Agora, estas três virtudes: a fé, a esperança e a caridade permanecem; mas, dentre elas,a mais excelente é a caridade. (Paulo, 1a Epístola aos Coríntios, 13:1 a 7 e 13.)

Fonte: O Evangelho Segundo O Espiritismo - Fora da caridade não há salvação

Trecho do estudo:

Para pedir a força de resistir a uma tentação 

20. Prefácio. Duas origens pode ter qualquer pensamento mau: a própria imperfeição de nossa alma, ou uma funesta influência que sobre ela se exerça. Neste último caso, há sempre indício de uma fraqueza que nos sujeita a receber essa influência; há, por conseguinte, indício de uma alma imperfeita. De sorte que aquele que venha a falir não poderá invocar por escusa a influência de um Espírito estranho, visto que esse Espírito não o teria arrastado ao mal, se o considerasse inacessível à sedução. Quando surge em nós um mau pensamento, podemos, pois, imaginar um Espírito maléfico a nos atrair para o mal, mas a cuja atração podemos ceder ou resistir, como se se tratara das solicitações de uma pessoa viva. Devemos, ao mesmo tempo, imaginar que, por seu lado, o nosso anjo guardião, ou Espírito protetor, combate em nós a má influência e espera com ansiedade a decisão que tomemos. A nossa hesitação em praticar o mal é a voz do Espírito bom, a se fazer ouvir pela nossa consciência. Reconhece-se que um pensamento é mau, quando se afasta da caridade, que constitui a base da verdadeira moral, quando tem por princípio o orgulho, a vaidade, ou o egoísmo; quando a sua realização pode causar qualquer prejuízo a outrem; quando, enfim, nos induz a fazer aos outros o que não quereríamos que nos fizessem. (Cap. XXVIII, item 15; cap. XV, item 10.)

 21. Prece. – Deus Todo-Poderoso, não me deixes sucumbir à tentação que me impele a falir. Espíritos benfazejos, que me protegeis, afastai de mim este mau pensamento e dai-me a força de resistir à sugestão do mal. Se eu sucumbir, merecerei expiar a minha falta nesta vida e na outra, porque tenho a liberdade de escolher.

21/08/2020

  Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 h.

Livro Ação e Reação  

Capítulo 20 - Comovente Surpresa





Leitura Inicial

“O Evangelho segundo o Espiritismo” - Allan Kardec 

Capítulo XI – Amar o próximo como a si mesmo

Deve-se expor a vida por um malfeitor?

15. Acha-se em perigo de morte um homem; para o salvar tem um outro que expor a vida. Sabe-se, porém, que aquele é um malfeitor e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Deve, não obstante, o segundo arriscar-se para o salvar?

Questão muito grave é esta e que naturalmente se pode apresentar ao espírito. Responderei, na conformidade do meu adiantamento moral, pois o de que se trata é de saber se se deve expor a vida, mesmo por um malfeitor.

O devotamento é cego; socorre-se um inimigo; deve-se, portanto, socorrer o inimigo da sociedade, a um malfeitor, em suma. Julgais que será somente à morte que, em tal caso, se corre a arrancar o desgraçado? É, talvez, a toda a sua vida passada.

Imaginai, com efeito, que, nos rápidos instantes que lhe arrebatam os derradeiros alentos de vida, o homem perdido volve ao seu passado, ou que, antes, este se ergue diante dele. A morte, quiçá, lhe chega cedo demais; a reencarnação poderá vir a ser-lhe terrível.

Lançai-vos, então, ó homens; lançai-vos todos vós a quem a ciência espírita esclareceu; lançai- vos, arrancai-o à sua condenação e, talvez, esse homem, que teria morrido a blasfemar, se atirará nos vossos braços. Todavia, não tendes que indagar se o fará, ou não; socorrei-o, porquanto, salvando-o, obedeceis a essa voz do coração, que vos diz: “Podes salvá-lo, salva-o!” – Lamennais. (Paris, 1862.)


 * * * *


Continuação do Capítulo 20 – Comovente Surpresa

 
 
No dia seguinte, entretanto, Silas veio ao nosso encontro. Tocava-se da alegria misteriosa de quem solucionara um problema longamente sofrido. E, lembrando-nos o estudo da Lei de Causa e Efeito, explicou-se, rápido.
 
Druso e ele tinham sido pai e filho na existência última, e tendo ambos recebido a necessária permissão para trabalhar em busca de Aída, cuja perda haviam provocado, devotavam-se ao serviço da Mansão, sob o beneplácito de amigos do Plano Superior. Ao preço de tremendas lutas na própria recuperação, chegaram a conquistar amizades sólidas e experiências notáveis; contudo, a recordação da jovem sacrificada constituía-lhes envenenado acúleo nos refolhos do ser. Assim era que, para mais ampla elevação na Luz Infinita, necessitavam ressarcir o infamante débito. E acentuava, esperançoso, com ignota ventura a luzir-lhe no olhar:
 
– Dentro de três dias, meu pai deixará o encargo de orientador da instituição, alçando-se, por fim, à companhia de minha mãe, para regressarem brevemente à reencarnação que os espera, sob a guarda de alguns amigos nossos. Meu pai partirá primeiramente, pouco depois minha abnegada genitora o seguirá para a internação na carne e, mais tarde, quando se consorciarem na esfera dos homens, recolher-me-ão nos braços, na condição de primogênito, para que nós três venhamos a receber Aída, sofredora, em nossos corações. Conceder-nos-á Jesus a felicidade de resgatar a imensa dívida, com a assistência amorosa de minha mãe, que renunciou à alegria da ascensão imediata, em nosso benefício... Como podem observar, nós mesmos, segundo a Lei, buscamos a Justiça por nossas próprias mãos.
 
O Assistente mostrava na face o deslumbramento de uma criança feliz.
 
– E você? – perguntou Hilário, de chofre. – Continuará você ainda aqui?
 
– Não – respondeu o companheiro generoso. – Com o afastamento de meu pai, obtive permissão para ingressar em grande educandário, no qual me habilitarei para as novas tarefas na medicina humana, com vistas à minha próxima romagem terrestre. O comunicado alterava-nos o programa. Convinha, de nossa parte, encerrar os estudos na generosa instituição, porquanto Druso e Silas, desde a primeira hora, haviam sido ali nosso apoio claro e fiel.
 
Abracei o Assistente, sentindo-lhe a falta por antecipação. Silas era mais um amigo de quem me devia apartar. Felicitei-o pela vitória alcançada e, com ele, consideramos igualmente o impositivo de nosso adeus.
 
A mudança administrativa na casa não nos encorajaria qualquer dilação.
 
Para nós também a partida fazia-se inadiável. O denodado companheiro enlaçou-nos com irreprimível carinho e lágrimas de sublime reconhecimento jorraram-nos dos olhos. Quem admitirá que a separação seja apenas uma flor triste na Terra dos homens?