28/08/2020

                                                                                   Olá!


Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 h.
Livro Ação e Reação  
Capítulo 20 - Comovente Surpresa





Leitura inicial:

NA HORA DE AUXILIAR 
Emmanuel


 " Na hora de auxiliar, em favor de alguém, não perguntes: O que é que eu poderia fazer? Faze logo o que puderes para que a tua parcela de socorro não chegue atrasada. " 


Trecho do estudo:

Decorridos três dias sobre a nossa derradeira conversação, achávamo-nos no maior recinto do grande instituto de socorro espiritual.

O Instrutor e o Assistente despediam-se dos amigos. O enorme salão estava repleto. No largo estrado, em que se destacava a direção, Druso aparecia, ladeado pelo Instrutor Arando, a quem passaria o governo do estabelecimento, e pela esposa querida, aquela que lhe ofertara no mundo os sonhos doces do primeiro matrimônio, cujos olhos serenos exprimiam irradiante bondade. Outros benfeitores, incluindo o nosso caro Silas, ali também se encontravam, atenciosos e emocionados. 

Na multidão dos ouvintes, estávamos nós, renteando com os assessores e funcionários do grande hospital-escola, ao pé de mais de trezentos internados. Todos os enfermos, abrigados e servidores vinham trazer a Druso preciosos testemunhos de reconhecimento. As manifestações comovedoras multiplicavam-se, incessantes.

Enquanto música leve nascia de instrumentos ocultos, espalhando-se em surdina, todos os doentes, em fila movimentada, queriam dizer uma palavra ao abnegado Instrutor que os acolhera, generoso. 

Velhinhos trêmulos abençoavam-lhe o nome, irmãs, cujo aspecto falava de laboriosa renovação, ofertavam-lhe as flores torturadas e tristes que o clima inquietante da Mansão era capaz de produzir, entidades diversas, recuperadas ao hálito de seu incansável devotamento, endereçavam-lhe expressões respeitosas e amigas, enquanto jovens inúmeros lhe osculavam as mãos...

Para todos possuía Druso uma frase de enternecimento e carinho. 

Choro discreto surgia aqui e ali... Todos devíamos, ao mentor admirável, esclarecimento e esperança, energia e consolação. 

O novo chefe, após a cerimônia simples da transmissão de responsabilidades, levantou-se e prometeu dirigir a casa com lealdade a Nosso Senhor Jesus-Cristo. Para falar a verdade, porém, não creio que o Instrutor Arando, recém-chegado a casa, pudesse naquela hora atrair-nos mais dilatada atenção, e, tão logo se acomodou na poltrona que a solenidade lhe reservava, Druso ergueu-se e rogou permissão para orar à despedida. 

Todas as frontes penderam silenciosas, enquanto a voz dele se elevou para o Infinito, à maneira de melodia emoldurada de lágrimas.

– “Senhor Jesus” – clamou humilde – “neste instante em que te oferecemos o coração, dera que nossa alma se incline, reverente, para agradecer-te as bênçãos de luz que a toca incomensurável bondade aqui nos concedeu em cinqüenta anos de amor... 

“Tu, Mestre, que ergueste Lázaro do sepulcro, levantaste-me também das trevas para a alvorada remissora, lançando no inferno de minha culpa o orvalho de tua compaixão... 

“Estendeste os braços magnânimos ao meu espírito mergulhado na lodosa corrente do crime. Trouxeste-me do pelourinho do remorso para o serviço da esperança. Reanimaste-me quando minhas forças desfaleciam... 

“Nos dias agoniados, foste o alimento de minhas ânsias; Nas sendas mais escabrosas, eras, em tudo, o meu companheiro fiel. Ensinaste-me, sem ruído, que somente através da recuperação do respeito a mim mesmo, no pagamento de meus débitos, é que poderei empreender a reconquista de minha paz... 

“E confiaste-me, Senhor, o trabalho neste pouso restaurador, com assistência constante de tua benevolência infinita, a fim de que eu pudesse avançar das sombras da noite para o fulgor de novo dia!... 

“Agradeço-te, pois, os instrutores que me deste, a cuja devoção afetuosa tão pesado tenho sido, os companheiros generosos que tantas vezes me suportaram as exigências e os irmãos enfermos que tantos ensinamentos preciosos me trouxeram ao coração!... 

“E agora, Senhor, que a esfera dos homens me descerrará de novo as portas, acompanha-me, por acréscimo de misericórdia, com a graça de tua bênção. 

“Não permitas que o reconforto do mundo me faça esquecerte e constrange-me ao convívio da humildade para que o orgulho me não sufoque. 

“Dá-me a luta edificante por mestra do meu resgate e não retires o teu olhar de sobre os meus passos, ainda que, para isso, deva ser o sofrimento constante a marca de meus dias. 

“E, se possível, deixa que os irmãos desta casa me amparem com os seus pensamentos em orações de auxilio, para que, no pedregoso caminho da regeneração de que careço, não me canse de louvar-te o excelso amor para sempre!...” 

Calou-se Druso, em pranto. 

No recinto, choviam pequenos flocos luminescentes, à maneira de estrelas minúsculas que se desfaziam, de leve, em nos tocando a fronte...  

Lá fora, gritava a tempestade em convulsões terríveis. Cá dentro, todavia, reinava em nós a certeza de que, além da faixa das trevas, o céu ilimitado resplendia eternamente em luz.

Reunimo-nos a Silas e, juntos, abeiramo-nos do abnegado Instrutor para as últimas saudações, porque também nós, Hilário e eu, deveríamos partir, já que a nossa tarefa estava encerrada. 

Druso enlaçou-nos paternalmente e, talvez porque nos demorássemos no abraço carinhoso, tentando definir-lhe o nosso imenso afeto, pousou em nós o olhar, falando comovido:

– Deus nos abençoe, meus filhos!... Um dia, reencontrar-nosemos de novo... 

Com a voz embargada de emoção, beijamos-lhe a destra em profundo silêncio, porque somente as lágrimas poderiam algo dizer de nossa gratidão e de nosso enternecimento, no adeus inesquecível...