21/08/2020

  Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 h.

Livro Ação e Reação  

Capítulo 20 - Comovente Surpresa





Leitura Inicial

“O Evangelho segundo o Espiritismo” - Allan Kardec 

Capítulo XI – Amar o próximo como a si mesmo

Deve-se expor a vida por um malfeitor?

15. Acha-se em perigo de morte um homem; para o salvar tem um outro que expor a vida. Sabe-se, porém, que aquele é um malfeitor e que, se escapar, poderá cometer novos crimes. Deve, não obstante, o segundo arriscar-se para o salvar?

Questão muito grave é esta e que naturalmente se pode apresentar ao espírito. Responderei, na conformidade do meu adiantamento moral, pois o de que se trata é de saber se se deve expor a vida, mesmo por um malfeitor.

O devotamento é cego; socorre-se um inimigo; deve-se, portanto, socorrer o inimigo da sociedade, a um malfeitor, em suma. Julgais que será somente à morte que, em tal caso, se corre a arrancar o desgraçado? É, talvez, a toda a sua vida passada.

Imaginai, com efeito, que, nos rápidos instantes que lhe arrebatam os derradeiros alentos de vida, o homem perdido volve ao seu passado, ou que, antes, este se ergue diante dele. A morte, quiçá, lhe chega cedo demais; a reencarnação poderá vir a ser-lhe terrível.

Lançai-vos, então, ó homens; lançai-vos todos vós a quem a ciência espírita esclareceu; lançai- vos, arrancai-o à sua condenação e, talvez, esse homem, que teria morrido a blasfemar, se atirará nos vossos braços. Todavia, não tendes que indagar se o fará, ou não; socorrei-o, porquanto, salvando-o, obedeceis a essa voz do coração, que vos diz: “Podes salvá-lo, salva-o!” – Lamennais. (Paris, 1862.)


 * * * *


Continuação do Capítulo 20 – Comovente Surpresa

 
 
No dia seguinte, entretanto, Silas veio ao nosso encontro. Tocava-se da alegria misteriosa de quem solucionara um problema longamente sofrido. E, lembrando-nos o estudo da Lei de Causa e Efeito, explicou-se, rápido.
 
Druso e ele tinham sido pai e filho na existência última, e tendo ambos recebido a necessária permissão para trabalhar em busca de Aída, cuja perda haviam provocado, devotavam-se ao serviço da Mansão, sob o beneplácito de amigos do Plano Superior. Ao preço de tremendas lutas na própria recuperação, chegaram a conquistar amizades sólidas e experiências notáveis; contudo, a recordação da jovem sacrificada constituía-lhes envenenado acúleo nos refolhos do ser. Assim era que, para mais ampla elevação na Luz Infinita, necessitavam ressarcir o infamante débito. E acentuava, esperançoso, com ignota ventura a luzir-lhe no olhar:
 
– Dentro de três dias, meu pai deixará o encargo de orientador da instituição, alçando-se, por fim, à companhia de minha mãe, para regressarem brevemente à reencarnação que os espera, sob a guarda de alguns amigos nossos. Meu pai partirá primeiramente, pouco depois minha abnegada genitora o seguirá para a internação na carne e, mais tarde, quando se consorciarem na esfera dos homens, recolher-me-ão nos braços, na condição de primogênito, para que nós três venhamos a receber Aída, sofredora, em nossos corações. Conceder-nos-á Jesus a felicidade de resgatar a imensa dívida, com a assistência amorosa de minha mãe, que renunciou à alegria da ascensão imediata, em nosso benefício... Como podem observar, nós mesmos, segundo a Lei, buscamos a Justiça por nossas próprias mãos.
 
O Assistente mostrava na face o deslumbramento de uma criança feliz.
 
– E você? – perguntou Hilário, de chofre. – Continuará você ainda aqui?
 
– Não – respondeu o companheiro generoso. – Com o afastamento de meu pai, obtive permissão para ingressar em grande educandário, no qual me habilitarei para as novas tarefas na medicina humana, com vistas à minha próxima romagem terrestre. O comunicado alterava-nos o programa. Convinha, de nossa parte, encerrar os estudos na generosa instituição, porquanto Druso e Silas, desde a primeira hora, haviam sido ali nosso apoio claro e fiel.
 
Abracei o Assistente, sentindo-lhe a falta por antecipação. Silas era mais um amigo de quem me devia apartar. Felicitei-o pela vitória alcançada e, com ele, consideramos igualmente o impositivo de nosso adeus.
 
A mudança administrativa na casa não nos encorajaria qualquer dilação.
 
Para nós também a partida fazia-se inadiável. O denodado companheiro enlaçou-nos com irreprimível carinho e lágrimas de sublime reconhecimento jorraram-nos dos olhos. Quem admitirá que a separação seja apenas uma flor triste na Terra dos homens?