Em 15/04/1864
É lançada em Paris a primeira
edição do livro “Imitação do Evangelho”, de Allan Kardec. A partir da segunda edição tomou o nome
definitivo de “O Evangelho segundo o Espiritismo”.
Bibliografia
À VENDA
Imitação do Evangelho
SEGUNDO O ESPIRITISMO
Contendo a explicação das máximas
morais do Cristo em concordância com o Espiritismo e sua aplicação às diversas
circunstâncias da vida.
Por Allan Kardec
Com esta epígrafe: “Fé inabalável
só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da
Humanidade.”
Abstemo-nos de qualquer reflexão
sobre esta obra, limitando nos a extrair da introdução a parte que indica o seu
objetivo.
“Podem dividir-se em quatro
partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo;
os milagres; as predições; e o ensino moral.
As três primeiras partes têm sido
objeto de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente
inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É
terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos
colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu
matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda parte se originaram das
questões dogmáticas.
Aliás, se o discutissem, nele
teriam as seitas encontrado sua própria condenação, visto que, na maioria, elas
se agarram mais à parte mística do que à parte moral, que exige de cada um a
reforma de si mesmo. Para os homens, em particular, constitui aquele código uma
regra de proceder que abrange todas as circunstâncias da vida privada e da vida
pública, o princípio básico de todas as relações sociais que se fundam na mais
rigorosa justiça.
É finalmente e acima de tudo, o
roteiro infalível para a felicidade vindoura, o levantamento de uma ponta do
véu que nos oculta a vida futura. Essa parte é a que será objeto exclusivo
desta obra.
Leia mais
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Comunicação Espírita
A PROPÓSITO DA IMITAÇÃO DO
EVANGELHO
(Bordeaux, maio de 1864. Grupo de
São João – Médium: Sr. Rul.)
Acaba de aparecer um novo livro;
é uma luz mais brilhante que vem clarear a vossa marcha. Há dezoito séculos,
por ordem de meu Pai, vim trazer a palavra de Deus aos homens de boa vontade.
Esta palavra foi esquecida pela maioria dos homens, e a incredulidade, o
materialismo vieram abafar o bom grão que eu tinha depositado em vossa Terra.
Hoje, por ordem do Eterno, os Espíritos bons, seus mensageiros, vêm a todos os
pontos do globo fazer ouvir a trombeta retumbante.
Escutai suas vozes; são
destinadas a vos mostrar o caminho que conduz aos pés do Pai celestial. Sede
dóceis aos seus ensinos; os tempos preditos são chegados; todas as profecias
serão cumpridas.
Pelos frutos se conhece a árvore.
Vede quais são os frutos do Espiritismo: casais onde a discórdia tinha
substituído a harmonia voltaram à paz e à felicidade; homens que sucumbiam ao
peso de suas aflições, despertados pelos acordes melodiosos das vozes de
além-túmulo, compreenderam que seguiam o caminho errado e, envergonhados de
suas fraquezas, arrependeram-se e pediram força ao Senhor para suportarem as
suas provações.
Provações e expiações, eis a
condição do homem na Terra. Expiação do passado, provações para o fortalecer
contra a tentação, para desenvolver o Espírito pela atividade da luta,
habituá-lo a dominar a matéria e prepará-lo para as alegrias puras que o
esperam no mundo dos Espíritos.
Há muitas moradas na casa de meu
Pai, disse-lhes eu há dezoito séculos. O Espiritismo veio tornar compreensíveis
estas palavras. E vós, meus bem-amados, trabalhadores que suportais o calor do
dia, que credes ter de vos lamentar da injustiça da sorte, abençoai vossos
sofrimentos; agradecei a Deus, que vos dá meios de quitar as dívidas do
passado.
Orai, não com os lábios, mas com
o coração melhorado, a fim de que possais ocupar melhor lugar na casa de meu
Pai. Como sabeis, os grandes serão humilhados, mas os pequenos e os humildes
serão exaltados.
O Espírito de Verdade
Observação – Sabe-se que não levamos em consideração o nome dos
seres que se comunicam, sobretudo os que se apresentam sob nomes venerandos.
Não garantimos mais esta assinatura do que muitas outras, limitando-nos a
entregar esta comunicação à apreciação de todo espírita esclarecido.
Diremos, contudo, que não se pode
negar a elevação do pensamento, a nobreza e a simplicidade das expressões, a
sobriedade da linguagem e a ausência de toda superfluidade. Se se compara às
que são dadas na Imitação do Evangelho (prefácio e capítulo III: O Cristo
Consolador), e que levam a mesma assinatura, embora obtidas por médiuns
diferentes e em épocas diversas, nota-se entre elas uma analogia impressionante
de tom, de estilo e de pensamentos, que acusam uma origem única.
Para nós, dizemos que pode ser do
Espírito de Verdade, porque é digna dele, enquanto temos visto massas assinadas
por este nome venerado ou o de Jesus, cuja prolixidade, verborragia,
vulgaridade, por vezes mesmo a trivialidade das ideias, traem a origem apócrifa
aos olhos dos menos clarividentes.
Só uma fascinação completa pode
explicar a cegueira dos que se deixam apanhar, quando não, também, o orgulho de
julgar-se infalível e intérprete privilegiado dos Espíritos puros, orgulho
sempre punido, mais cedo ou mais tarde, pelas decepções, mistificações
ridículas e por desgraças reais nesta vida.
À vista desses nomes venerados, o
primeiro sentimento do médium modesto é o da dúvida, porque não se julga digno
de tal favor.
"Revista Espírita"
- Allan Kardec - abril de 1864