13/06/2019


Indulgência – uma prática esquecida


“Ah, eu queria tanto conseguir perdoar!” – Quem nunca disse ou ouviu essa frase? Quantas vezes achamos que o perdão ainda está longe de fazer parte de nossas possibilidades? Mas isso pode estar acontecendo porque estamos esperando que o perdão brote espontaneamente em nós. Entretanto, como acontece com todas as virtudes, precisamos aprender, praticar. E muitas vezes, a prática de uma virtude facilita o aprendizado de outra. Assim acontece com a indulgência. Ela é um excelente exercício para o perdão. Mas, então, vale a pena relembrar o que é a indulgência.

O Evangelho segundo o Espiritismo nos mostra que indulgência tem a ver com a nossa reação diante do erro do próximo. Somos muito rápidos em criticar as atitudes do outro (e muito lentos com relação a nós mesmos...) porque nunca somos capazes de avaliar verdadeiramente a situação de quem criticamos. Quando dizemos “no seu lugar, eu teria feito isso ou aquilo” não estamos enunciando uma verdade. Assim dizendo, imaginamos a nossa reação a partir da nossa própria experiência e conhecimento, isto é, não estamos nos colando no lugar do outro; estamos colocando a nós mesmos naquela situação, já que o outro traz limitações e sucessos, experiências e traumas bem diversos dos nossos.

Por isso, talvez a expressão em inglês sobre estar no lugar do outro seja mais adequada porque numa tradução ao pé da letra ela diz “estar no sapato do outro”. Nós normalmente analisamos o caminhar do próximo de acordo com a forma que imaginamos que nós caminharíamos. Mas precisamos “calçar o sapato” que o outro tem. Isso é indulgência. E como será que conseguiríamos trilhar aquele caminho sem estar usando o nosso calçado, mais confortável...?

Jesus, que sempre nos é o modelo em todas as situações, exemplificou a indulgência no episódio da mulher adúltera. Muitos lembram desse exemplo como sendo de perdão, mas Jesus não foi por ela ofendido para precisar perdoar. O que Ele nos mostra ali é que sabe compreender que aquela mulher, nas condições que tinha, ainda era falível e precisava de apoio, de estímulo para encontrar forças e direcionamento e não voltar a errar.

Quando exercitamos essa compreensão de que todos agimos de acordo com nosso momento de desenvolvimento em relação a uma determinada questão, vamos nos fortalecendo para exercer essa atitude quando a ação do outro nos atingir, iniciando um processo de mágoa. Estaremos mais aptos a entender que o outro agiu de acordo com suas possibilidades, assim como em outras situações também temos nossas limitações. Dessa forma, quanto mais prática da indulgência tivermos, maiores serão nossas possibilidades de perdoar e sermos mais fraternos. Vale muito a pena lembrar da indulgência!

Dayse Lourenço

Dayse Lourenço é integrante do Centro Espírita Ibirajara e expositora da Doutrina Espírita.