Indulgência – uma prática esquecida
“Ah, eu queria tanto conseguir perdoar!” –
Quem nunca disse ou ouviu essa frase? Quantas vezes achamos que o perdão ainda
está longe de fazer parte de nossas possibilidades? Mas isso pode estar
acontecendo porque estamos esperando que o perdão brote espontaneamente em nós.
Entretanto, como acontece com todas as virtudes, precisamos aprender, praticar.
E muitas vezes, a prática de uma virtude facilita o aprendizado de outra. Assim
acontece com a indulgência. Ela é um excelente exercício para o perdão. Mas,
então, vale a pena relembrar o que é a indulgência.
O Evangelho segundo o Espiritismo nos mostra
que indulgência tem a ver com a nossa reação diante do erro do próximo. Somos
muito rápidos em criticar as atitudes do outro (e muito lentos com relação a
nós mesmos...) porque nunca somos capazes de avaliar verdadeiramente a situação
de quem criticamos. Quando dizemos “no seu lugar, eu teria feito isso ou
aquilo” não estamos enunciando uma verdade. Assim dizendo, imaginamos a nossa
reação a partir da nossa própria experiência e conhecimento, isto é, não
estamos nos colando no lugar do outro; estamos colocando a nós mesmos naquela situação,
já que o outro traz limitações e sucessos, experiências e traumas bem diversos
dos nossos.
Por isso, talvez a expressão em inglês sobre
estar no lugar do outro seja mais adequada porque numa tradução ao pé da letra
ela diz “estar no sapato do outro”. Nós normalmente analisamos o caminhar do
próximo de acordo com a forma que imaginamos que nós caminharíamos. Mas
precisamos “calçar o sapato” que o outro tem. Isso é indulgência. E como será
que conseguiríamos trilhar aquele caminho sem estar usando o nosso calçado,
mais confortável...?
Jesus, que sempre nos é o modelo em todas as
situações, exemplificou a indulgência no episódio da mulher adúltera. Muitos
lembram desse exemplo como sendo de perdão, mas Jesus não foi por ela ofendido
para precisar perdoar. O que Ele nos mostra ali é que sabe compreender que
aquela mulher, nas condições que tinha, ainda era falível e precisava de apoio,
de estímulo para encontrar forças e direcionamento e não voltar a errar.
Quando exercitamos essa compreensão de que todos
agimos de acordo com nosso momento de desenvolvimento em relação a uma
determinada questão, vamos nos fortalecendo para exercer essa atitude quando a
ação do outro nos atingir, iniciando um processo de mágoa. Estaremos mais aptos
a entender que o outro agiu de acordo com suas possibilidades, assim como em
outras situações também temos nossas limitações. Dessa forma, quanto mais
prática da indulgência tivermos, maiores serão nossas possibilidades de perdoar
e sermos mais fraternos. Vale muito a pena lembrar da indulgência!
Dayse Lourenço
Dayse Lourenço
é integrante do Centro Espírita Ibirajara e expositora da Doutrina Espírita.