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OS
ESPÍRITAS VERDADEIROS
O Espiritismo possui os elementos indispensáveis para operar
a mudança social, isto é, criar os recursos hábeis, através dos quais,
iluminando a criatura, esta se encarregará de promover o progresso da sociedade
e acelerar a fraternidade, a vivência do bem.
Ciência estruturada em fatos demonstráveis à saciedade, desperta
interesse nos investigadores, enquanto propicia a confirmação experimental dos
seus paradigmas. Mediante a sua repetição constante elimina quaisquer hipóteses
outras que se arquitetem com o fim de negá-lo.
Ao mesmo tempo a sua filosofia, que resultou dessas
comunicações mediúnicas, possui um repositório de sabedoria que enfrenta o
materialismo de maneira estóica, respondendo a todas questões perturbadoras do
pensamento, firmadas na lógica e na razão.
Dispensando quaisquer sinais exteriores de identificação, os
seus profitentes fazem-se conhecidos pela conduta moral e as ações de caridade
em que se empenham.
Não obstante, a fenomenologia, mesmo convencendo os seus experimentadores,
nem sempre consegue produzir espíritas verdadeiros, sinceros, devotados,
mantendo-se na torpe situação de investigador exigente, não definindo a sua
adesão à Causa.
Da mesma forma, outros tantos, que se convencem da sua realidade
mediante a aceitação dos seus postulados portadores de argumentação de bronze,
embora a certeza da sua legitimidade, não são introjetados no comportamento.
Somente um número algo reduzido de estudiosos e
investigadores assume a postura de trabalhar em favor da sua divulgação,
ampliando os horizontes terrestres para propiciar-lhes a felicidade através da
renovação moral dos seus membros. São esses os espíritos verdadeiros ou
espíritas cristãos, pela sua aceitação e prática do código moral estatuído por
Jesus.
Enxameiam, entretanto, aqueles adeptos que se creem portadores
de méritos que estão distantes de possuir, pensando que a sua adesão à Doutrina
Espírita credencia-os a permanecerem exigentes, impermeáveis, sempre impondo
condições novas para a aceitação total dos ensinamentos.
E se dizem, também, espíritas, que o são, porém, apenas como
experimentadores.
Outro número muito expressivo de crentes assim demora porque
a Doutrina repletou-os a todos de respostas legítimas, preenchendo-lhes as
lacunas filosóficas, culturais e atendendo-lhes as mil questões tormentosas em
que se debatiam. Apesar disso, não abandonam os velhos hábitos, estribados em egoísmo
avassalador e em soberba injustificável.
Compreendem esses adeptos os ensinamentos exarados na
Codificação Espírita e nas obras que lhe são subsidiárias, mas prosseguem acomodados
nos seus gabinetes de reflexões e de vaidades, quando não se fazem renitentes
nas paixões em que se comprazem.
Esperam sempre soluções para os dramas que fomentam e
aguardam distinções a que não fazem jus. Normalmente são hábeis na censura aos
demais com facilidade, exigindo perfeição que não possuem; invejam a ascensão dos
companheiros, atirando-lhes petardos acusatórios, sem produzirem significativa
alteração de conduta, tornando-a exemplar; combatem a prodigalidade do próximo,
aferrados à avareza pessoal; estabelecem diretrizes que desejam ser vivenciadas
pelo próximo, facultando-se justificativas impeditivas para introjetá-las...
Caracterizam-se por desejar, sem muita convicção, que o
outro se revele em condição moral superior, suportando o seu azedume e a sua
petulância, enquanto apenas
apontam os erros...
Geram dissidências, apegando-se a detalhes de forma, sem a preocupação
de examinarem os conteúdos, sempre vigorosos na exibição da cultura em
detrimento da conduta, apegados à letra e longe do espírito da mensagem.
Compreende-se esse fenômeno humano, considerando-se o estágio
inferior no qual estagia a grande massa, incluindo, naturalmente, algumas
elites sociais, econômicas e intelectuais...
Transitando com dificuldade na indumentária física sob a pesada
carga de compromissos infelizes, não conseguem, após o encantamento inicial com
o Espiritismo, vivenciar as suas lições.
Muitos debandam das suas fileiras, porque em realidade jamais
se impregnaram dos ensinos espíritas, havendo sido frequentadores de reuniões
ou admiradores de pessoas de destaque no grupo, sem que experimentassem um
sentimento de simpatia pela Doutrina em si mesma e interesse pela sua evolução
espiritual. São os simpatizantes temporários e que esperam somente fruir de
benefícios propiciados pelos Espíritos ou do conhecimento doutrinário, mas sem
a resposta competente do sacrifício pessoal.
Acreditam na vida futura, sem dúvida, no entanto, retêm-se vigorosamente
nos impositivos da existência presente, gozando e desfrutando de tudo quanto
lhes é lícito ou não, desde que não desejam perder a oportunidade do prazer...
O espírita de coração, aquele no qual o Espiritismo encontra
ressonância produzindo uma revolução para melhor, abre-se ao seu conteúdo e
aprende a ser feliz, elegendo a caridade como a estrada moral a palmilhar sem
cansaço.
O verdadeiro espírita compreende todas essas ocorrências negativas
e infelizes do Movimento no qual labora, sem desanimar nem rebelar-se. Sabe que
as defecções de muitos companheiros resulta da sua imaturidade espiritual e, em
vez de exprobrá-los, permanece fraterno, mesmo quando hostilizado ou
perseguido.
É manso sem emaranhar-se no cipoal da hipocrisia ou do servilismo
perturbador. A sua energia manifesta-se através da perseverança nas atividades
doutrinárias que abraça.
Não tem a veleidade de impor-se, de converter os demais. São
os seus atos que despertam a atenção, a crença que vivenciam. O seu entusiasmo
é encantador, nunca exaltado, porquanto aqueles que pretendem inocular nos
demais a convicção de que se fazem portadores, proporcionam mais males à
divulgação do Espiritismo que benefícios.
O espírita verdadeiro não se sente completado, mas em construção
evolutiva. Estuda sempre, observando as ocorrências e buscando retirar o melhor
proveito, a fim de crescer emocionalmente sempre mais.
Certamente encontramos na sociedade homens e mulheres nobres
e bons, que sem conhecimento dos fatos e dos ensinamentos do Espiritismo, podem
ser considerados como espíritas, pois creem em Deus, na imortalidade do
Espírito e na sua comunicação, na Justiça Divina, no processo da evolução
paulatina, seguindo a moral evangélica...
No entanto, o discípulo sincero da Doutrina, que a vive e a
ensina em palavras e em atos, é conscientemente espírita e verdadeiro cristão,
conforme elucida o caroável mestre Allan Kardec, no Capítulo III, de O Livro
dos Médiuns, item 28.
Livro: "Espiritismo e Vida" - Espírito Vianna de Carvalho
Divaldo Franco