Olá!
Segue nosso estudo de quarta feira às 19 h.
A Gênese
Cap. III - O bem e o mal
O instinto e a inteligência
Leitura inicial:
Confiando Sempre
Peçamos ao Senhor que nos sustente
as forças na desincumbência dos
compromissos assumidos e que
prossigamos adiante no campo de
nossas abençoadas lutas, com a
certeza de que o Divino Benfeitor
jamais nos abandona.
fonte: livro Migalha, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
Trecho do estudo:
11. Qual a diferença entre o instinto e a inteligência? Onde acaba
um e o outro começa? Será o instinto uma inteligência rudimentar, ou será
uma faculdade distinta, um atributo exclusivo da matéria?
O instinto é a força oculta que solicita os seres orgânicos a atos espontâneos e involuntários, tendo em vista a conservação deles. Nos atos instintivos
não há reflexão, nem combinação, nem premeditação. É assim que a planta procura o ar, se volta para a luz, dirige suas raízes para a água e para a
terra nutriente; que a flor se abre e fecha alternadamente, conforme se lhe
faz necessário; que as plantas trepadeiras se enroscam em torno daquilo
que lhes serve de apoio, ou se lhe agarram com as gavinhas. É pelo instinto
que os animais são avisados do que lhes é útil ou nocivo; que buscam, conforme a estação, os climas propícios; que constroem, sem ensino prévio,
com mais ou menos arte, segundo as espécies, leitos macios e abrigos para as suas progênies, armadilhas para apanhar a presa de que se nutrem; que
manejam destramente as armas ofensivas e defensivas de que são providos;
que os sexos se aproximam; que a mãe choca os filhos e que estes procuram
o seio materno. No homem, no começo da vida o instinto domina com exclusividade; é por instinto que a criança faz os primeiros movimentos, que
toma o alimento, que grita para exprimir as suas necessidades, que imita o
som da voz, que tenta falar e andar. No próprio adulto, certos atos são instintivos, tais como os movimentos espontâneos para evitar um risco, para
fugir a um perigo, para manter o equilíbrio do corpo; tais ainda o piscar
das pálpebras para moderar o brilho da luz, a respiração etc.
12. A inteligência se revela por atos voluntários, refletidos, premeditados, combinados, de acordo com a oportunidade das circunstâncias. É incontestavelmente um atributo exclusivo da alma.
Todo ato maquinal é instintivo; o ato que denota reflexão, combinação,
deliberação é inteligente. Um é livre, o outro não o é.
O instinto é guia seguro, que nunca se engana; a inteligência, pelo
simples fato de ser livre, está, por vezes, sujeita a errar.
Ao ato instintivo falta o caráter do ato inteligente; revela, entretanto,
uma causa inteligente, essencialmente apta a prever. Se se admitir que o
instinto procede da matéria, ter-se-á de admitir que a matéria é inteligente,
até mesmo bem mais inteligente e previdente do que a alma, pois que o
instinto não se engana, ao passo que a inteligência se equivoca.
Se se considerar o instinto uma inteligência rudimentar, como se há
de explicar que, em certos casos, seja superior à inteligência que raciocina? Como explicar que torne possível se executem atos que esta não pode
realizar? Se ele é atributo de um princípio espiritual de especial natureza,
qual vem a ser esse princípio? Pois que o instinto se apaga, dar-se-á que
esse princípio se destrua? Se os animais são dotados apenas de instinto, não
tem solução o destino deles e nenhuma compensação os seus sofrimentos,
o que não estaria de acordo nem com a justiça, nem com a bondade de
Deus. (Cap. II, 19.)
13. Segundo outros sistemas, o instinto e a inteligência procederiam
de um único princípio. Chegado a certo grau de desenvolvimento, esse
princípio, que primeiramente apenas tivera as qualidades do instinto, passaria por uma transformação que lhe daria as da inteligência livre.
Se fosse assim, no homem inteligente que perde a razão e entra a ser
guiado exclusivamente pelo instinto, a inteligência voltaria ao seu estado
primitivo e, quando o homem recobrasse a razão, o instinto se tornaria
inteligência e assim alternadamente, a cada acesso, o que não é admissível.
Aliás, muitas vezes o instinto e a inteligência se revelam simultaneamente no mesmo ato. No caminhar, por exemplo, o movimento das
pernas é instintivo; o homem põe maquinalmente um pé à frente do outro,
sem nisso pensar; quando, porém, ele quer acelerar ou demorar o passo,
levantar o pé ou desviar-se de um tropeço, há cálculo, combinação; ele age
com deliberado propósito. A impulsão involuntária do movimento é o ato
instintivo; a calculada direção do movimento é o ato inteligente. O animal
carnívoro é impelido pelo instinto a se alimentar de carne, mas as precauções que toma e que variam conforme as circunstâncias, para segurar a
presa, a sua previdência das eventualidades são atos da inteligência.
14. Outra hipótese que, em suma, se conjuga perfeitamente à ideia
da unidade de princípio, ressalta do caráter essencialmente previdente do
instinto e concorda com o que o Espiritismo ensina, no tocante às relações
do mundo espiritual com o mundo corpóreo.
Sabe-se agora que muitos Espíritos desencarnados têm por missão
velar pelos encarnados, dos quais se constituem protetores e guias; que os
envolvem nos seus eflúvios fluídicos; que o homem age muitas vezes de
modo inconsciente, sob a ação desses eflúvios.
Sabe-se, ademais, que o instinto, que por si mesmo produz atos inconscientes, predomina nas crianças e, em geral, nos seres cuja razão é
fraca. Ora, segundo esta hipótese, o instinto não seria atributo nem da
alma, nem da matéria; não pertenceria propriamente ao ser vivo, seria efeito da ação direta dos protetores invisíveis que supririam a imperfeição da
inteligência, provocando os atos inconscientes necessários à conservação
do ser. Seria qual a andadeira com que se amparam as crianças que ainda
não sabem andar. Então, do mesmo modo que se deixa gradualmente de
usar a andadeira, à medida que a criança se equilibra sozinha, os Espíritos
protetores deixam entregues a si mesmos os seus protegidos, à medida que
estes se tornam aptos a guiar-se pela própria inteligência.
Assim, o instinto, longe de ser produto de uma inteligência rudimentar e incompleta, sê-lo-ia de uma inteligência estranha, na plenitude
da sua força, inteligência protetora, que supriria a insuficiência, quer de uma inteligência mais jovem, que aquela compeliria a fazer, inconscientemente, para seu bem, o que ainda fosse incapaz de fazer por si mesma,
quer de uma inteligência madura, porém, momentaneamente tolhida no
uso de suas faculdades, como se dá com o homem na infância e nos casos
de idiotia e de afecções mentais.
Diz-se proverbialmente que há um deus para as crianças, para os
loucos e para os ébrios. É mais veraz do que se supõe esse ditado. Aquele
deus, outro não é senão o Espírito protetor, que vela pelo ser incapaz de se
proteger, utilizando-se da sua própria razão.
15. Nesta ordem de ideias, ainda mais longe se pode ir. Por muito
racional que seja, essa teoria não resolve todas as dificuldades da questão.
Se observarmos os efeitos do instinto, notaremos, em primeiro lugar,
uma unidade de vistas e de conjunto, uma segurança de resultados, que
cessam logo que a inteligência livre substitui o instinto. Demais, reconheceremos profunda sabedoria na apropriação tão perfeita e tão constante das
faculdades instintivas às necessidades de cada espécie. Semelhante unidade
de vistas não poderia existir sem a unidade de pensamento e esta é incompatível com a diversidade das aptidões individuais; só ela poderia produzir
esse conjunto tão harmonioso que se realiza desde a origem dos tempos
e em todos os climas, com uma regularidade, uma precisão matemáticas,
cuja ausência jamais se nota. A uniformidade no que resulta das faculdades
instintivas é um fato característico, que forçosamente implica a unidade
da causa. Se a causa fosse inerente a cada individualidade, haveria tantas
variedades de instintos quantos fossem os indivíduos, desde a planta até o
homem. Um efeito geral, uniforme e constante, há de ter uma causa geral,
uniforme e constante; um efeito que atesta sabedoria e previdência há de
ter uma causa sábia e previdente. Ora, uma causa dessa natureza, sendo por
força inteligente, não pode ser exclusivamente material.
Não se nos deparando nas criaturas, encarnadas ou desencarnadas,
as qualidades necessárias à produção de tal resultado, temos que subir mais
alto, isto é, ao próprio Criador. Se nos reportamos à explicação dada sobre
a maneira por que se pode conceber a ação providencial (cap. II, item 24);
se figurarmos todos os seres penetrados do fluido divino, soberanamente
inteligente, compreenderemos a sabedoria previdente e a unidade de vistas
que presidem a todos os movimentos instintivos que se efetuam para o
bem de cada indivíduo. Tanto mais ativa é essa solicitude, quanto menos recursos tem o indivíduo em si mesmo e na sua inteligência. Por isso é que
ela se mostra maior e mais absoluta nos animais e nos seres inferiores, do
que no homem.
Segundo essa teoria, compreende-se que o instinto seja um guia seguro. O instinto materno, o mais nobre de todos, que o materialismo rebaixa
ao nível das forças atrativas da matéria, fica realçado e enobrecido. Em
razão das suas consequências, não devia ele ser entregue às eventualidades
caprichosas da inteligência e do livre-arbítrio. Por intermédio da mãe, o
próprio Deus vela pelas suas criaturas que nascem.
16. Esta teoria de nenhum modo anula o papel dos Espíritos protetores, cujo concurso é fato observado e comprovado pela experiência;
mas deve-se notar que a ação desses Espíritos é essencialmente individual;
que se modifica segundo as qualidades próprias do protetor e do protegido e que em parte nenhuma apresenta a uniformidade e a generalidade
do instinto. Deus, em sua sabedoria, conduz Ele próprio os cegos, porém
confia a inteligências livres o cuidado de guiar os clarividentes, para deixar
a cada um a responsabilidade de seus atos. A missão dos Espíritos protetores constitui um dever que eles aceitam voluntariamente e lhes é um
meio de se adiantarem, dependendo o adiantamento da forma por que o
desempenhem.
17. Todas essas maneiras de considerar o instinto são forçosamente
hipotéticas e nenhuma apresenta caráter seguro de autenticidade, para ser
tida como solução definitiva. A questão, sem dúvida, será resolvida um dia,
quando se houverem reunido os elementos de observação que ainda faltam.
Até lá, temos que limitar-nos a submeter as diversas opiniões ao cadinho da
razão e da lógica e esperar que a luz se faça. A solução que mais se aproxima
da verdade será decerto a que melhor condiga com os atributos de Deus,
isto é, com a bondade suprema e a suprema justiça. (Cap. II, item 19.)
18. Sendo o instinto o guia e as paixões as molas da alma no período
inicial do seu desenvolvimento, por vezes aquele e estas se confundem nos
efeitos. Há, contudo, entre esses dois princípios, diferenças que muito importa se considerem.
O instinto é guia seguro, sempre bom. Pode, ao cabo de certo tempo, tornar-se inútil, porém nunca prejudicial. Enfraquece-se pela predominância da inteligência.
As paixões, nas primeiras idades da alma, têm de comum com o
instinto o serem as criaturas solicitadas por uma força igualmente inconsciente. As paixões nascem principalmente das necessidades do corpo e dependem, mais do que o instinto, do organismo. O que, acima de tudo,
as distingue do instinto é que são individuais e não produzem, como este
último, efeitos gerais e uniformes; variam, ao contrário, de intensidade e
de natureza, conforme os indivíduos. São úteis, como estimulante, até a
eclosão do senso moral, que faz nasça de um ser passivo, um ser racional.
Nesse momento, as paixões tornam-se não só inúteis, como nocivas ao
progresso do Espírito, cuja desmaterialização retardam. Abrandam-se com
o desenvolvimento da razão.
19. O homem que constantemente só agisse pelo instinto poderia
ser muito bom, mas conservaria adormecida a sua inteligência. Seria qual
criança que não deixasse as andadeiras e não soubesse utilizar-se de seus
membros. Aquele que não domina as suas paixões pode ser muito inteligente, porém, ao mesmo tempo, muito mau. O instinto se aniquila por si
mesmo; as paixões somente pelo esforço da vontade podem domar-se.