Olá!
Segue nosso estudo de quarta feira às 19 h.
A Gênese
Capítulo IV - Papel da Ciência na Gênese
Leitura inicial:
24 - VANTAGENS OCULTAS
Todos precisamos de reconforto nos dias de aflição.
Isso é justo.
Importa, entretanto, observar que a Divina Providência não nos envia dificuldades
sem motivo.
Entendendo-se que o Senhor não nos relega ás próprias fraquezas e nem permite
venhamos a carregar cruzes incompatíveis com as forças que nos caracterizam, fujamos
de buscar a consolação por flor estéril.
* * *
Aproveitemos a bonança que surge em nós habitualmente após a tormenta íntima para
fixarmos o valor que a experiência nos oferece.
Não nos propomos a louvar situações embaraçosas e nem a elogiar os fabricantes
de problemas, mas é preciso reconhecer as vantagens ocultas decorrentes das provações
que nos visitam.
Quem conseguiria configurar o abismo a que seríamos arrastados pelos caprichos,
aos quais muitas vezes nos entregamos, confiantemente, se a desilusão não viesse
despertar-nos?
Quem poderia medir os espinheirais de discórdia em que chafurdaríamos o espírito,
na equipe de trabalho a que pertencemos, se lutas e lágrimas sofridas em comum não
nos ensinassem o benefício do entendimento e da união?
* * *
Ingratidão, em muitas circunstâncias, é o nome da bênção com que a Infinita Bondade de
Deus nos afasta de ambientes determinados, a fim de que a cegueira não nos induza ao
desequilíbrio.
Obstáculo, no dicionário da realidade, em muitas ocasiões expressa apoio invisível
para que não descambemos na direção das trevas.
* * *
Nossas provas - nossas bênçãos.
* * *
Reflete nos males maiores que nos alcançariam fatalmente amanhã, se não fosse o
socorro providencial dos males menores de hoje, e reconhecerás que todo contratempo
aceito com paciência e serenidade é sempre toque do amor de Deus, alertando-nos o
coração e guiando-nos o caminho.
Fonte: Livro Rumo Certo, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
Trecho do estudo:
1. A história da origem de quase todos os povos antigos se confunde
com a da sua religião, é por isso que seus primeiros livros versavam sobre
religião. E como todas as religiões se ligam ao princípio das coisas, que é
também o da humanidade, elas deram, sobre a formação e a ordem do
universo, explicações em concordância com o estado dos conhecimentos
da época e de seus fundadores. Daí resultou que os primeiros livros sagrados foram ao mesmo tempo os primeiros livros de ciência, como foram,
durante largo período, o código único das leis civis.
2. Nas eras primitivas, sendo necessariamente muito imperfeitos
os meios de observação, muito eivadas de erros grosseiros haviam de ser
as primeiras teorias sobre o sistema do mundo. Mas, ainda quando esses
meios fossem tão completos quanto o são hoje, os homens não teriam sabido utilizá-los. Aliás, tais meios não podiam ser senão fruto do desenvolvimento da inteligência e do consequente conhecimento das leis da natureza.
À medida que o homem se foi adiantando no conhecimento dessas leis,
também foi penetrando os mistérios da criação e retificando as ideias que
formara acerca da origem das coisas.
3. Impotente se mostrou o homem para resolver o problema da
Criação, até o momento em que a Ciência lhe forneceu para isso a chave.
Teve de esperar que a Astronomia lhe abrisse as portas do espaço infinito
e lhe permitisse mergulhar aí o olhar; que, pelo poder de cálculo, determinasse com rigorosa exatidão o movimento, a posição, o volume, a natureza
e o papel dos corpos celestes; que a Física lhe revelasse as leis da gravitação,
do calor, da luz e da eletricidade; que a Química lhe mostrasse as transformações da matéria e a Mineralogia os materiais que formam a superfície do globo; que a Geologia lhe ensinasse a ler, nas camadas terrestres, a formação gradual desse mesmo globo. À Botânica, à Zoologia, à Paleontologia,
à Antropologia coube iniciá-lo na filiação e sucessão dos seres organizados.
Com a Arqueologia pôde ele acompanhar os traços que a humanidade
deixou através das idades. Numa palavra, completando-se umas às outras,
todas as ciências houveram de contribuir com o que era indispensável para
o conhecimento da história do mundo. Em falta dessas contribuições, teve
o homem como guia as suas primeiras hipóteses.
Por isso, antes que ele entrasse na posse daqueles elementos de apreciação, todos os comentadores da Gênese, cuja razão esbarrava em impossibilidades materiais, giravam dentro de um círculo, sem conseguirem
dele sair. Só o lograram, quando a Ciência abriu caminho, fendendo o velho edifício das crenças. Tudo então mudou de aspecto. Uma vez achado
o fio condutor, as dificuldades prontamente se aplanaram. Em vez de uma
Gênese imaginária, surgiu uma Gênese positiva e, de certo modo, experimental. O campo do universo se distendeu ao infinito. Acompanhou-se a
formação gradual da Terra e dos astros, segundo leis eternas e imutáveis,
que demonstram muito melhor a grandeza e a sabedoria de Deus, do que
uma criação miraculosa, tirada repentinamente do nada, qual mutação
à vista, por efeito de súbita ideia da Divindade, após uma eternidade de
inação.
Pois que é impossível se conceba a Gênese sem os dados que a Ciência fornece, pode dizer-se com inteira verdade que: a Ciência é chamada a
constituir a verdadeira Gênese, segundo a lei da natureza
4. No ponto a que chegou no século XIX, venceu a Ciência todas as
dificuldades do problema da Gênese?
Não, decerto; mas não há contestar que destruiu, sem remissão, todos os erros capitais e lhe lançou os fundamentos essenciais sobre dados
irrecusáveis. Os pontos ainda duvidosos não passam, a bem dizer, de questões de minúcias, que a sua solução, qualquer que venha a ser no futuro,
não poderá prejudicar o conjunto. Ademais, malgrado os recursos que ela
há tido à sua disposição, faltou-lhe, até agora, um elemento importante,
sem o qual jamais a obra poderia completar-se.
5. De todas as Gêneses antigas, a que mais se aproxima dos modernos dados científicos, apesar dos erros que contém, que são demonstrados
hoje até a evidência, é incontestavelmente a de Moisés. Alguns desses erros são mesmo mais aparentes do que reais e provêm, ou de falsa interpretação
atribuída a certos termos, cuja primitiva significação se perdeu, ao passarem de língua em língua pela tradução, ou a acepção deles mudou com os
costumes dos povos, ou, também, decorrem da forma alegórica peculiar ao
estilo oriental e que foi tomada ao pé da letra, em vez de se lhe procurar o
espírito, o significado mais fiel.
6. A Bíblia, evidentemente, encerra fatos que a razão, desenvolvida
pela Ciência, não poderia hoje aceitar e outros que parecem estranhos e repugnantes, pois derivam de costumes que já não são os nossos. Mas, a par
disso, haveria parcialidade em se não reconhecer que ela guarda grandes e
belas coisas. A alegoria ocupa ali considerável espaço, ocultando sob o seu
véu sublimes verdades, que se patenteiam, desde que se desça ao âmago do
pensamento, pois que logo desaparece o absurdo.
Por que então não se lhe ergueu mais cedo o véu? De um lado, por
falta de luzes que só a Ciência e uma sã filosofia podiam fornecer e, de outro lado, pelo princípio da imutabilidade absoluta da fé, consequência de
um respeito demasiado cego pela letra, ao qual a razão deveria se submeter,
e, assim, pelo temor de comprometer a estrutura das crenças, erguida sobre o sentido literal. Partindo tais crenças de um ponto primitivo, houve
o receio de que, se se rompesse o primeiro anel da cadeia, todas as malhas
da rede acabassem separando-se. Eis por que, apesar de tudo, os olhos
se fecharam, mas fechar os olhos ao perigo não é evitá-lo. Quando uma
construção se inclina, não manda a prudência que se substituam imediatamente as pedras ruins por pedras boas, em vez de se esperar, pelo respeito
que infunda a vetustez do edifício, que o mal se torne irremediável e que se
faça preciso reconstruí-lo de cima a baixo?
7. Levando suas investigações às entranhas da Terra e às profundezas
dos céus, demonstrou a Ciência, de maneira irrefragável, os erros da Gênese moisaica tomada ao pé da letra e a impossibilidade material de se terem
as coisas passado como são ali textualmente referidas. Assim procedendo,
a Ciência desferiu fundo golpe nas crenças seculares. A fé ortodoxa ficou
combalida, porque julgou que lhe tiravam a pedra fundamental. Mas com
quem havia de estar a razão: com a Ciência, que caminhava prudente e
progressivamente pelos terrenos sólidos dos algarismos e da observação,
sem nada afirmar antes de ter em mãos as provas, ou com uma narrativa
escrita quando faltavam absolutamente os meios de observação? No fim de contas, quem há de levar a melhor: aquele que diz 2 e 2 fazem 5 e se nega
a verificar, ou aquele que diz que 2 e 2 fazem 4 e o prova?
8. Mas, objetam, se a Bíblia é uma revelação divina, então Deus se
enganou. Se não é uma revelação divina, carece de autoridade e a religião
desmorona, à falta de base.
Uma de duas: ou a Ciência está em erro, ou tem razão. Se tem razão,
não pode fazer seja verdadeira uma opinião que lhe é contrária. Não há
revelação que se possa sobrepor à autoridade dos fatos.
Incontestavelmente, não é possível que Deus, sendo todo verdade,
induza os homens em erro, nem ciente, nem inscientemente, pois, do contrário, não seria Deus.
Logo, se os fatos contradizem as palavras que são
atribuídas a Ele, o que se deve logicamente concluir é que Ele não as pronunciou, ou que tais palavras foram entendidas em sentido oposto ao que
lhes é próprio.
Se, com semelhantes contradições, a religião sofre dano, a culpa não
é da Ciência, que não pode fazer que o que é deixe de ser; mas dos homens
por haverem prematuramente estabelecido dogmas absolutos, de cujo prevalecimento hão feito questão de vida ou de morte, sobre hipóteses suscetíveis de serem desmentidas pela experiência.
Há coisas com cujo sacrifício temos de resignar-nos, bom ou mau
grado nosso, quando não consigamos evitá-lo. Desde que o mundo marcha, sem que a vontade de alguns possa detê-lo, o mais sensato é que o
acompanhemos e nos acomodemos com o novo estado de coisas, em vez
de nos agarrarmos ao passado que se esboroa, com o risco de sermos arrastados na queda.
9. Por guardar respeito aos textos recebidos como sagrados, dever-se-
-ia obrigar a Ciência a calar-se? Fora tão impossível isso, como impedir que
a Terra gire. As religiões, sejam quais forem, jamais ganharam coisa alguma
em sustentar erros manifestos. A Ciência tem por missão descobrir as leis
da natureza. Ora, sendo essas leis obra de Deus, não podem ser contrárias
a religiões que se baseiem na verdade. Lançar anátema ao progresso, por
atentatório à religião, é lançá-lo à própria obra de Deus. É ademais, trabalho inútil, porquanto nem todos os anátemas do mundo seriam capazes de
obstar a que a Ciência avance e a que a verdade abra caminho. Se a Religião
se nega a avançar com a Ciência, esta avançará sozinha.
10. Somente as religiões estacionárias podem temer as descobertas
da Ciência, as quais só são funestas às que se deixam distanciar pelas ideias
progressistas, imobilizando-se no absolutismo de suas crenças. Elas, em
geral, fazem tão mesquinha ideia da Divindade, que não compreendem
que assimilar as leis da natureza, que a Ciência revela, é glorificar a Deus
em suas obras. Na sua cegueira, porém, essas religiões preferem render
homenagem ao Espírito do mal, atribuindo-lhe essas leis. Uma religião que
não estivesse, por nenhum ponto, em contradição com as leis da natureza, nada
teria que temer do progresso e seria invulnerável.
11. A Gênese se divide em duas partes: a história da formação do
mundo material e da humanidade considerada em seu duplo princípio,
corporal e espiritual. A Ciência se tem limitado à pesquisa das leis que
regem a matéria. No próprio homem, ela apenas há estudado o envoltório
carnal. Por esse lado, chegou a inteirar-se, com exatidão, das partes principais do mecanismo do universo e do organismo humano. Assim, sobre esse
ponto capital, pôde completar a Gênese de Moisés e retificar-lhe as partes
defeituosas.
Mas a história do homem, considerado como ser espiritual, se prende a uma ordem especial de ideias, que não são do domínio da Ciência
propriamente dita e das quais, por este motivo, não tem ela feito objeto de
suas investigações. A Filosofia, a cujas atribuições pertence, de modo mais
particular, esse gênero de estudos, apenas há formulado, sobre o ponto,
sistemas contraditórios, que vão desde a mais pura espiritualidade, até a
negação do princípio espiritual e mesmo de Deus, sem outras bases, afora
as ideias pessoais de seus autores. Tem, pois, deixado sem decisão a questão, por falta de verificação suficiente
12. Esta questão, no entanto, é a mais importante para o homem,
por isso que envolve o problema do seu passado e do seu futuro. A do
mundo material apenas indiretamente o afeta. O que lhe importa saber,
antes de tudo, é donde ele veio e para onde vai, se já viveu e se ainda viverá,
qual a sorte que lhe está reservada.
Sobre todos esses pontos, a Ciência se conserva muda.
A Filosofia
apenas emite opiniões que concluem em sentido diametralmente oposto,
mas que, pelo menos, permitem se discuta, o que faz com que muitas
pessoas se lhe coloquem do lado, de preferência a seguirem a religião, que
não discute.
13. Todas as religiões são acordes quanto ao princípio da existência
da alma, sem, contudo, o demonstrarem. Não o são, porém, nem quanto à sua origem, nem com relação ao seu passado e ao seu futuro, nem,
principalmente, e isso é o essencial, quanto às condições de que depende
a sua sorte vindoura. Em sua maioria, elas apresentam como o futuro
da alma, e impõem à crença de seus adeptos, um quadro que somente a
fé cega pode aceitar, visto que não suporta exame sério. Ligado aos seus
dogmas, às ideias que nos tempos primitivos se faziam do mundo material e do mecanismo do universo, o destino que elas atribuem à alma não
se concilia com o estado atual dos conhecimentos. Não podendo, pois,
senão perder com o exame e a discussão, as religiões acham mais simples
proscrever um e outra
14. Dessas divergências no tocante ao futuro do homem nasceram
a dúvida e a incredulidade. Entretanto, a incredulidade dá lugar a um
penoso vácuo. O homem encara com ansiedade o desconhecido em que
tem fatalmente de penetrar. Gela-o a ideia do nada. Diz-lhe a consciência
que alguma coisa lhe está reservada para além do presente. Que será? Sua
razão, com o desenvolvimento que alcançou, já lhe não permite admitir as
histórias com que o acalentaram na infância, nem aceitar como realidade
a alegoria. Qual o sentido dessa alegoria? A Ciência lhe rasgou um canto
do véu; não lhe revelou, porém, o que mais lhe importa saber. O homem
interroga em vão, nada lhe responde ela de maneira peremptória e apropriada a lhe acalmar as apreensões. Por toda parte depara com a afirmação
a se chocar com a negação, sem que de um lado ou de outro se apresentem
provas positivas. Daí a incerteza, e a incerteza sobre o que concerne à vida
futura faz que o homem se atire, tomado de uma espécie de frenesi, para as
coisas da vida material.
Esse o inevitável efeito das épocas de transição: rui o edifício do passado, sem que ainda o do futuro se ache construído. O homem se assemelha ao adolescente que, já não tendo a crença ingênua dos seus primeiros
anos, ainda não possui os conhecimentos próprios da maturidade. Apenas
sente vagas aspirações, que não sabe definir.
15. Se a questão do homem espiritual permaneceu, até os dias
atuais, em estado de teoria, é que faltavam os meios de observação direta,
existentes para comprovar o estado do mundo material, conservando-se,
portanto, aberto o campo às concepções do espírito humano. Enquanto o homem não conheceu as leis que regem a matéria e não pôde aplicar o
método experimental, andou a errar de sistema em sistema, no tocante ao
mecanismo do universo e à formação da Terra. O que se deu na ordem
física, deu-se também na ordem moral. Para fixar as ideias, faltou o elemento essencial: o conhecimento das leis a que se acha sujeito o princípio
espiritual. Estava reservado à nossa época esse conhecimento, como o esteve aos dois últimos séculos24 o das leis da matéria
16. Até o presente, o estudo do princípio espiritual, compreendido na Metafísica, foi puramente especulativo e teórico. No Espiritismo,
esse estudo é inteiramente experimental. Com o auxílio da faculdade
mediúnica, mais desenvolvida presentemente e, sobretudo, generalizada e
mais bem estudada, o homem se achou de posse de um novo instrumento
de observação. A mediunidade foi, para o mundo espiritual, o que o telescópio foi para o mundo astral e o microscópio para o dos infinitamente
pequenos. Permitiu se explorassem, estudassem, por assim dizer, de visu,
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as relações do mundo espiritual com o mundo corpóreo; que, no homem
vivo, se destacasse do ser material o ser inteligente e que se observassem
os dois a atuar separadamente. Uma vez estabelecidas relações com os habitantes do mundo espiritual, possível se tornou ao homem seguir a alma
em sua marcha ascendente, em suas migrações, em suas transformações.
Pode-se, enfim, estudar o elemento espiritual. Eis aí o de que careciam os
anteriores comentadores da Gênese, para a compreenderem e lhe retificarem os erros.
17. Estando o mundo espiritual e o mundo material em incessante
contato, os dois são solidários um com o outro; ambos têm a sua parcela
de ação na Gênese. Sem o conhecimento das leis que regem o primeiro,
tão impossível seria constituir-se uma Gênese completa, quanto a um estatuário dar vida a uma estátua. Somente agora, conquanto nem a Ciência
material, nem a Ciência espiritual hajam dito a última palavra, possui o
homem os dois elementos próprios a lançar luz sobre esse imenso problema. Eram-lhe absolutamente indispensáveis essas duas chaves para chegar
a uma solução, ainda que aproximativa.