Olá!
Segue nosso estudo de quarta feira às 19 h.
A Gênese
Capítulo III - Destruição dos seres vivos uns pelos outros
Leitura inicial:
26
Trabalhos imediatos
“Apascentai o rebanho de Deus que está entre vós, tendo
cuidado dele, não por força, mas espontaneamente, segundo a vontade de Deus; nem por torpe ganância, mas de ânimo
pronto.”
(I Pedro, 5:2)
Naturalmente, na pauta das possibilidades justas, ninguém deverá negar
amparo ou assistência aos companheiros que acenam de longe com solicitações
razoáveis; entretanto, constitui-nos obrigação atender ao ensinamento de Pedro, quanto aos nossos trabalhos imediatos.
Há criaturas que se entregam gostosamente à volúpia da inquietação por
acontecimentos nefastos, planejados pela mente enfermiça dos outros e que, provavelmente, nunca sobrevirão. Perdem longo tempo receitando fórmulas de ação ou desferindo lamentos
inúteis.
A lavoura alheia e as ocorrências futuras, para serem examinadas, exigem
sempre grandes qualidades de ponderação. Além do mais, é imprescindível reconhecer que o problema difícil, ao nosso
lado ou a distância de nós, tem a finalidade de enriquecer-nos a experiência própria, habilitando-nos à solução dos mais intrincados enigmas do caminho.
Eis a razão pela qual a nota de Simão Pedro é profunda e oportuna, para
todos os tempos e situações. Atendamos aos imperativos do serviço divino que se localiza em nossa
paisagem individual, não através de constrangimento, mas pela boa vontade
espontânea, fugindo cada vez mais aos nossos interesses particularistas e de ânimo
firme e pronto para servir ao bem, tanto quanto nos seja possível. Às vezes, é razoável preocupar-se o homem com a situação mundial, com a
regeneração das coletividades, com as posições e responsabilidades dos outros, mas
não é justo esquecermo-nos daquele “rebanho de Deus que está entre nós”.
Fonte: Livro Pão Nosso, de Francisco Cândido Xavier pelo Espírito Emmanuel
Trecho do estudo:
20. A destruição recíproca dos seres vivos é, dentre as leis da natureza, uma das que, à primeira vista, menos parecem conciliar-se com
a Bondade de Deus. Pergunta-se por que lhes criou Ele a necessidade de
mutuamente se destruírem, para se alimentarem uns à custa dos outros.
Para quem apenas vê a matéria e restringe à vida presente a sua visão, há de isso, com efeito, parecer uma imperfeição na obra divina. É
que, em geral, os homens apreciam a perfeição de Deus do ponto de vista
humano; medindo-lhe a sabedoria pelo juízo que dela formam, pensam
que Deus não poderia fazer coisa melhor do que eles próprios fariam. Não
lhes permitindo a curta visão, de que dispõem, apreciar o conjunto, não
compreendem que um bem real possa decorrer de um mal aparente. Só
o conhecimento do princípio espiritual, considerado em sua verdadeira
essência, e o da grande lei de unidade, que constitui a harmonia da Criação, pode dar ao homem a chave desse mistério e mostrar-lhe a sabedoria
providencial e a harmonia, exatamente onde apenas vê uma anomalia e
uma contradição.
21. A verdadeira vida, tanto do animal como do homem, não está no
invólucro corporal, do mesmo que não está no vestuário. Está no princípio inteligente que preexiste e sobrevive ao corpo. Esse princípio necessita do corpo
para se desenvolver pelo trabalho que lhe cumpre realizar sobre a matéria
bruta. O corpo se consome nesse trabalho, mas o Espírito não se gasta;
ao contrário, sai dele cada vez mais forte, mais lúcido e mais apto. Que
importa, pois, que o Espírito mude mais ou menos frequentemente de
envoltório?! Não deixa por isso de ser Espírito. É precisamente como se
um homem mudasse cem vezes no ano as suas vestes. Não deixaria por isso
de ser homem.
Por meio do incessante espetáculo da destruição, ensina Deus aos
homens o pouco caso que devem fazer do envoltório material e lhes suscita
a ideia da vida espiritual, fazendo que a desejem como uma compensação.
Objetar-se-á: não podia Deus chegar ao mesmo resultado por outros
meios, sem constranger os seres vivos a se destruírem mutuamente? Desde
que na sua obra tudo é sabedoria, devemos supor que esta sabedoria não
existirá mais num ponto do que noutros; se não o compreendemos assim,
devemos atribuí-lo à nossa falta de adiantamento. Contudo, podemos procurar a pesquisa da razão do que nos pareça defeituoso, tomando por bússola este princípio: Deus há de ser infinitamente justo e sábio. Procuremos,
portanto, em tudo, a sua justiça e a sua sabedoria e curvemo-nos diante do
que ultrapasse o nosso entendimento
22. Uma primeira utilidade, que se apresenta de tal destruição, utilidade, sem dúvida, puramente física, é esta: os corpos orgânicos só se conservam com o auxílio das matérias orgânicas, matérias que contêm os elementos nutritivos necessários à sua transformação. Como instrumentos de ação
do princípio inteligente, os corpos precisam ser constantemente renovados,
a Providência faz que sirvam à sua mútua manutenção. Eis por que os seres
se nutrem uns dos outros. Mas é o corpo que se nutre do corpo, sem que
o Espírito se aniquile ou altere, fica apenas despojado do seu envoltório.(22) 23. Há também considerações morais de ordem elevada
É necessária a luta para o desenvolvimento do Espírito. Na luta é
que ele exercita suas faculdades. O que ataca em busca do alimento e o
que se defende para conservar a vida usam de habilidade e inteligência,
aumentando, em consequência, suas forças intelectuais. Um dos dois sucumbe; mas, em realidade, que foi o que o mais forte ou o mais destro
tirou ao mais fraco? A veste de carne, nada mais; ulteriormente, o Espírito,
que não morreu, tomará outra.
24. Nos seres inferiores da Criação, naqueles a quem ainda falta o
senso moral, nos quais a inteligência ainda não substituiu o instinto, a
luta não pode ter por móvel senão a satisfação de uma necessidade material. Ora, uma das mais imperiosas dessas necessidades é a da alimentação.
Eles, pois, lutam unicamente para viver, isto é, para fazer ou defender uma
presa, visto que nenhum móvel mais elevado os poderia estimular. É nesse
primeiro período que a alma se elabora e ensaia para a vida.
No homem, há um período de transição em que ele mal se distingue
do bruto. Nas primeiras idades, domina o instinto animal e a luta ainda
tem por móvel a satisfação das necessidades materiais. Mais tarde, contrabalançam-se o instinto animal e o sentimento moral; luta então o homem,
não mais para se alimentar, porém, para satisfazer à sua ambição, ao seu orgulho, a sua necessidade de dominar. Para isso, ainda lhe é preciso destruir.
Todavia, à medida que o senso moral prepondera, desenvolve-se a sensibilidade, diminui a necessidade de destruir, acaba mesmo por desaparecer, por
se tornar odiosa essa necessidade. O homem ganha horror ao sangue.
Contudo, a luta é sempre necessária ao desenvolvimento do Espírito, pois, mesmo chegando a esse ponto, que nos parece culminante, ele
ainda está longe de ser perfeito. Só à custa de sua atividade que o Espírito
adquire conhecimento, experiência e se despoja dos últimos vestígios da
animalidade. Mas, nessa ocasião, a luta, de sangrenta e brutal que era, se
torna puramente intelectual. O homem luta contra as dificuldades, não
mais contra os seus semelhantes.(23)
(22)Nota de Allan Kardec: Veja-se: Revista espírita, agosto de 1864, Extinção das raças.
(23) 23 Nota de Allan Kardec: Sem prejulgar das consequências que se possam tirar desse princípio, apenas
quisemos demonstrar, mediante essa explicação, que a destruição de uns seres vivos por outros em
nada infirma a sabedoria divina e que, nas leis da natureza, tudo se encadeia. Esse encadeamento
forçosamente se quebra, desde que se abstraia do princípio espiritual, razão por que muitas questões
permanecem insolúveis, por só se levar em conta a matéria.
As doutrinas materialistas trazem em si o princípio de sua própria destruição; têm contra si não
só o antagonismo em que se acham com as aspirações da universalidade dos homens e suas
consequências morais, que farão sejam elas, as doutrinas, repelidas como dissolventes da sociedade,
mas também a necessidade que o homem experimenta de se inteirar de tudo o que resulta do progresso. O desenvolvimento intelectual conduz o homem à pesquisa das causas. Ora, por pouco que
ele reflita, não tardará a reconhecer a impotência do materialismo para tudo explicar. Como é possível
que doutrinas que não satisfazem ao coração, nem a razão, nem à inteligência, que deixam problemáticas as mais vitais questões, venham a prevalecer? O progresso das ideias matará o materialismo,
como matou o fanatismo.