AVANCEMOS
Auta de Souza
Vara
a tormenta de granizo e lama
Que
te vergasta a noite escura e fria,
E,
erguendo em prece a taça da agonia,
Sorve
gemendo o fel que se derrama.
De
alma cansada e pensamento em chama,
Ouve
em silêncio a enorme gritaria
Da
turba que te fere e calunia
Descendo
para a treva que a reclama.
De
peito aberto por sinistras lanças,
Sob
as pedras e farpas em que avanças,
Bendize
a senda estreita e atormentada!...
Chora,
mas segue alçando a luz sublime,
Que,
além da sombra que te envolve e oprime,
Fulgura
o céu de nova madrugada...
* * *
No exercício mediúnico serás surpreendido por dificuldades e óbices
que te impedem a ascensão, ao desejares evoluir.
Obstáculos do personalismo
destruidor e empeços do egoísmo avassalante surgem a todo instante.
Dificuldades que te ferem os pés, a
brotarem do solo; compromissos que te prendem ao porto de necessidades vigorosas,
repontando dos recônditos íntimos.
Além desses, defrontarás, ainda,
outros mais difíceis de serem vencidos.
Adversários do passado que te falarão a sutil e terrível
linguagem da obsessão, através de intuições negativas, tentarão semear dúvidas,
para que percas a coragem na luta.
Por meio de pensamentos cruéis, serás
perturbado na estabilidade emocional, para que te detenhas na jornada
evolutiva.
Em processos de inspiração negativa
se utilizarão de ideia infeliz e pertinaz, ferindo-te os sentimentos, a fim de
que te desiludas, em relação aos companheiros da seara onde mourejas...
Experimentarás, também, a incompreensão dos que te partilham as idéias,
atormentados em si mesmos, que te verão através das lentes que elaboram para
uso próprio.
Zombadores malsinantes se farão perseguidores gratuitos em vestes
amigas, conservando no semblante o sorriso de acolhimento fraterno, enquanto
escarnecem.
E dos que transpuseram a aduana da morte, sofrerás vibrações inferiores,
os projéteis vigorosos dos pensamentos deles; deles registrarás o assédio
constante, despertando em círculo de fogo no qual tua resistência poderá
baquear.
* * *
Não te detenhas, porém. É
necessário seguir adiante.
Se os obstáculos se demoram
em ti mesmo, clareia a alma com a labareda da fé. Acende no coração a flama do
culto ao dever e, genuflectindo-te intimamente, confia na Providência Divina,
que está edificando o mundo novo com o barro deficitário da criatura humana.
Se os óbices repontam através
dos companheiros atormentados, detém-te um pouco a meditar para prosseguir e
realiza, outra vez, o exercício da oração e da paciência.
Não te agastes com eles,
acionando a lâmina ferinte da língua, revidando os golpes recebidos. Lembra-te
de que também eles são afligidos do caminho.
Imprescindível que evoluas
para que outros evoluam através do teu exemplo.
Se apesar disso identificares
nas tuas dores a força rude dos perseguidores desencarnados, procura, ainda uma
vez mais, o santuário da prece e refugia-te na oração.
A oração é combustível
excepcional para o lume da vida.
Vítima de hoje, algoz de
ontem.
Filho rebelde de agora, pai
descuidado do passado.
Cada um é herdeiro dos
próprios atos...
Alegra-te e transforma tuas
dores em oportunidade de meditação para eles, os teus perseguidores, conduzindo
o teu fardo, na mediunidade – essa porta de luz – dignificando a consciência, a
fim de galgares o monte da tua sublimação com nobreza, e poderes chegar aos
braços da vida harmoniosa.
* * *
Aquele que serve ao Senhor,
carregando a cruz da mediunidade encontra, a cada instante, justos e
necessários motivos de provação e dor... Não é lícito, por isso, esquecer que,
desdenhado, perseguido e vitimado pela impiedade, o Mestre Divino, plantado numa
cruz, transformou esse instrumento de aflição e insulto em
escada, através da qual
estabeleceu a ponte de luz entre o mundo físico e o mundo espiritual.
... “— E porque abundará a iniquidade,
a caridade de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar, até ao fim, se
salvará”, — ensina com segurança o Senhor, consoante as anotações de Mateus, no
Capítulo 24, versículos 12 e 13. Persevera, lutando contra os impedimentos e
servindo, sejam quais forem as dores que defrontes.