27/03/2020


Olá!

Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 hs.
Livro Ação e Reação - Capítulo 12 - Dívida Agravada



Leitura inicial:

Vida Feliz

Joanna de Ângelis (espírito)
Psicografia de Divaldo Pereira Franco

4

A paciência é virtude que te auxiliará na conquista dos bens do corpo, da alma e da sociedade.
Ela ensina a técnica de como se deve aguardar, quando não se pode ter imediatamente o que se deseja.
Jamais te irrites.
A paciência te auxiliará a tudo vencer.


Trecho do livro Ação e Reação:

Ação e Reação

André Luiz (espírito)
Psicografia de Francisco Cândido Xavier

12
Dívida agravada

Enquanto outros servidores da instituição por nós passavam, à pressa, com o evidente intuito de auxiliar, o dileto companheiro de Druso desceu a escadaria do templo, em nossa companhia, explicando:
– Muitos companheiros de serviço valem-se deste horário para o culto espontâneo do amor fraterno. Ouvem aqui neste locutório os desesperados e os tristes e, tanto quanto lhes é possível, administram-lhes medicação e consolo, não somente os exortando à compreensão e à serenidade, mas também os acompanhando aos círculos tenebrosos ou à esfera dos encarnados, para a obra de assistência aos laços afetivos que lhes perturbam o coração.
Nesse instante, entramos mais diretamente em contato com os grupos rumorosos. Agora, adaptada nossa visão à sombra reinante, conseguíamos diferençar as figuras lamentáveis e exóticas que nos cercavam, agoniadas... Eram mulheres de duro semblante que a miséria desfigurava e homens de fisionomias torturadas pelo ódio e pela angústia.
Dificilmente, de nossa parte, poderíamos avaliar-lhes a idade, segundo o escalão terrestre. O infortúnio deles convertera-os em fantasmas de amargura, quase a irmaná-los integralmente no mesmo tipo de configuração exterior. Muitos mostravam mãos semelhantes a ressequidas garras, e em quase todos o olhar enraivecido ou medroso revelava a dolorosa fulguração da mente que desceu ao poço da loucura.
Preces comoventes misturavam-se a clamores sinistros de revolta.
E, vendo, contristados, a multidão em movimentos rudes, ante as portas abertas do santuário tranquilo, perguntamos ao Assistente por que não se acolhia toda ela ao templo hospitaleiro, então quase deserto.
Silas, contudo, designando a entrada do edifício que vínhamos de deixar, fixou a portaria radiante que, da forte penumbra, mais se nos afigurava um túnel aberto para a luz, e esclareceu:
– Efetivamente, reportam-se vocês a medida desejável. Entretanto, apenas ingressam no recinto sagrado quantos lhe podem suportar a claridade com o respeito devido. Quase todos os irmãos que se congregam nesta praça trazem mutilações que a perversidade lhes impôs ou são portadores de sentimentos tigrinos que petições comoventes mal encobrem. E, com semelhantes disposições, não resistem ao impacto da claridade dominante, dosada em fótones específicos a se caracterizarem por determinado teor eletromagnético, indispensável à garantia de nossa casa. Muitos de nossos irmãos, aqui desarvorados, clamam, com a boca, que anseiam pelas vantagens da prece, na intimidade do santuário; no entanto, por dentro, lá estimariam tripudiar sobre o nome sublime de nosso Pai Celeste, no culto à ironia e à blasfêmia. Para que não tumultuem a atmosfera divina que nos cabe oferecer à oração pura e reconfortante, recomendam nossos orientadores que a luz permaneça graduada contra distúrbios e prejuízos, facilmente evitáveis.
Hilário, espantado, considerou:

– Significa isso que somente a sincera compunção da alma entrará em sintonia com as forças eletromagnéticas imperantes no recinto...
– Exatamente assim é – confirmou o interlocutor. – Nossa instituição permanece de braços abertos à provação e ao sofrimento, mas não à rebeldia e ao desespero. De outra sorte, seria condená-la ao aniquilamento e ao descrédito, na região atormentada em que se localiza.
Nesse ponto da conversação, fomos interrompidos por dezenas de braços ressequidos a implorarem socorro.
Silas fitava-os, compadecido, mas sem se deter, até que nosso passo foi cortado por apressada mulher, exclamando, ansiosa:
– Assistente Silas! Assistente Silas!...
Nosso amigo identificou-a, porque, parando de súbito, estendeu-lhe a destra amiga, murmurando:
– Luísa, a que vens?
Defrontavam-se em ambos a curiosidade e a aflição.
A senhora desencarnada, com sinais de irreprimível angústia, gritou sem preâmbulos:
– Socorro!... Socorro!... Minha filha, minha pobre Marina esmorece... Tenho lutado com todas as minhas forças para furtá-la ao suicídio, mas agora me sinto enfraquecida e incapaz...
Os soluços sufocaram-lhe a garganta, inibindo-lhe a voz.
– Fala! – disse o orientador de nossa excursão, em tom imperativo, como se o alarme daquele instante lhe obscurecesse a serenidade mental, imprescindível ao entendimento da nova situação.
A infeliz, ajoelhada agora, ergueu os olhos lacrimosos e suplicou:
– Assistente, perdoe-me a insistência em falar-lhe de meu infortúnio, mas sou mãe... Minha desventurada filha pretende matar-se esta noite, comprometendo-se, ainda mais, com as trevas da sua consciência!...
Silas aconselhou-lhe a volta ao lar terreno, como lhe fosse possível, e, dando-nos as mãos, promoveu a viagem rápida para o objetivo a que devíamos atender.
Em caminho, informou:
– Trata-se de companheira da Mansão, reencarnada há quase trinta anos, sob os auspícios de nossa casa. Prestar-lhe-emos o necessário auxílio, ao mesmo tempo que vocês poderão examinar um problema de débito agravado.
Notando que o nosso amigo entrara em silêncio, meu colega externou:
– É impressionante observar o número de mulheres em trabalho de oração e assistência nessas paragens...
Preocupado qual se achava, nosso generoso companheiro tentou ensaiar um sorriso que lhe não chegou aos lábios, e juntou:
– Grande verdade... Raras esposas e raras mães demandam às regiões felizes sem os doces afetos que acalentam no seio... O imenso amor feminino é uma das forças mais respeitáveis na Criação divina.
Todavia, não houve mais tempo para qualquer outra divagação.
Atingíramos no plano físico pequena moradia constituída de três peças desataviadas e estreitas. O relógio acusava alguns minutos depois de zero hora.
Acompanhando Silas, cuja presença deslocou diversas entidades da sombra que ali se ajuntavam com a manifesta intenção de perturbar, ingressamos num quarto humilde. Percebemos, sem palavras, que o problema era efetivamente desolador.
Junto de jovem senhora agoniada e exausta, uma menina de dois a três anos choramingava, inquieta... Via-se-lhe nos olhos esgazeados e inconscientes o estigma dos que foram marcados por irremediável sofrimento ao nascer.
Contudo, através da preocupação indisfarçável de Silas, era fácil reconhecer que a pobre senhora era o caso mais urgente para os nossos cuidados.
A infeliz, de joelhos, beijava sofregamente a pequenina, mostrando a indefinível angústia dos que se despedem para sempre.
Logo após, em movimento rápido, tomou de um copo em que se encontrava beberagem cujo teor tóxico não nos deixava qualquer dúvida. Antes, porém, de colá-lo à boca em febre, eis que o Assistente lhe disse em voz segura:
– Como podes pensar na sombra da morte, sem a luz da oração?
A desventurada não lhe ouviu a pergunta com os tímpanos de carne, mas a frase de Silas invadiu-lhe a cabeça qual rajada violenta.
Lampejaram-lhe os olhos com novo brilho e o copo tremeu-lhe nas mãos, agora indecisas.
Nosso orientador estendeu-lhe os braços, envolvendo-a em fluidos anestesiantes de carinho e bondade.
Marina, pois era ela a irmã para quem aflito coração materno suplicara socorro, dominada de novos pensamentos, recolocou o perigoso recipiente no lugar primitivo e, sob a vigorosa influência do diretor de nossa excursão, levantou-se automaticamente e estirou-se no leito, em prece...
– “Deus meu, Pai de Infinita Bondade – implorou em voz alta –, compadece-te de mim e perdoa-me o fracasso! Não suporto mais... Sem minha presença, meu marido viverá mais tranquilo no leprosário e minha desventurada filhinha encontrará corações caridosos que lhe dispensem amor... Não tenho mais recursos... Estou doente... Nossas contas esmagam-me... Como vencer a enfermidade que me devora, obrigada a costurar sem repouso, entre o marido e a filhinha que me reclamam assistência e ternura?...”
Silas administrava-lhe passes magnéticos de prostração e, induzindo-a a ligeiro movimento do braço, fez que ela mesma, num impulso irrefletido, batesse com força no copo fatídico, que rolou no piso do quarto, derramando o líquido letal.
Em lágrimas copiosas, a pobre criatura insistiu, desolada:
– Ó Senhor, compadece-te de mim!...
Reconhecendo no próprio gesto impensado a manifestação de uma força estranha a entravar-lhe a possibilidade da morte deliberada naquele instante, passou a orar em silêncio, com evidentes sinais de temor e remorso, atitude mental essa que lhe acentuava a passividade e da qual se valeu o Assistente para conduzi-la ao sono provocado.
Silas emitiu forte jacto de energia fluídica sobre o córtex encefálico dela, e a moça, sem conseguir explicar a si mesma a razão do torpor que lhe invadia o campo nervoso, deixou-se adormecer pesadamente, qual se houvera sorvido violento narcótico.