IV A mediunidade
Verdade é que se têm visto sensitivos escreverem em línguas
desconhecidas ou tratar de questões cientificas e abstratas, muito acima de sua
capacidade. São raros, porém, esses casos, que exigem grandes esforços da parte
dos Espíritos. Estes preferem recorrer a intermediários maleáveis,
aperfeiçoados pelo estudo, suscetíveis de os compreender e lhes interpretar
fielmente os pensamentos.
Nessa ordem de manifestações, os invisíveis atuam sobre o
intelecto do sensitivo e lhes projetam na esfera mental suas ideias. Às vezes
os pensamentos se confundem; os dois Espíritos revestem uma forma, uma
expressão, em que se acham reproduzidos o estilo e a linguagem habitual do
médium. Ainda aí se requer escrupuloso exame. Será, todavia, fácil ao
observador destacar, da insignificância de inúmeros ditados e do contingente
pessoal dos sensitivos, o que pertence aos Espíritos adiantados, cujas
comunicações revestem um caráter grandioso, um cunho de verdade muito acima das
possibilidades do médium.
Nos fenômenos de transe ou do sonambulismo em seus diversos
graus, os sentidos materiais vêm a ser pouco a pouco substituídos pelos
sentidos psíquicos, os meios de percepção e de atividade aumentam em proporções
tanto mais consideráveis quanto mais profundo é o sono e mais completo o
desprendimento perispirituais.
Nesse estado, nada percebe o corpo físico; serve
simplesmente de transmissor, quando o médium ainda pode exprimir suas sensações.
Já na exteriorização parcial se produz esse fenômeno. No estado de vigília, sob
a influência oculta, a tal ponto o invólucro fluídico do sensitivo se desprende
e irradia que, permanecendo embora intimamente ligado ao corpo, começa a
perceber as coisas ocultas aos nossos sentidos exteriores; é o estado de
clarividência, ou dupla vista, de visão à distância através dos corpos opacos,
audição, psicometria, etc.
Em mais elevadas graduações, no estado de hipnose, a
exteriorização se acentua até ao desprendimento completo. A alma, liberta de
sua prisão carnal, paira nas alturas; seus modos de percepção, subitamente
recobrados, lhe permitem abranger um vasto círculo e se transporta com a
rapidez do pensamento. A essa ordem de fenômenos pertence o estado de transe,
que torna possível a incorporação de Espíritos desencarnados ao envoltório do
médium, deixado livre, semelhante a um viajante que penetra em casa devoluta.
Os sentidos psíquicos, inativas no estado de vigília na
maior parte dos homens, podem, entretanto, ser utilizados. Basta, para isso,
abstrair-se das coisas materiais, cerrar os sentidos físicos a todo ruído e
toda visão exterior, e, por um esforço de vontade, interrogar esse sentido
profundo em que se resumem todas as nossas faculdades superiores e que
denominamos o sexto sentido, a intuição, a percepção espiritual. E por ele que
entramos em contato direto com o mundo dos Espíritos, mais facilmente que por
qualquer outro meio; porque esse sentido constitui atributo da alma, o próprio
fundo de sua natureza, e acha-se
fora do alcance dos sentidos materiais, de que difere
inteiramente.
A Ciência menosprezou até hoje esse sentido – o mais belo de
todos; e é por isso que se tem conservado ignorante de tudo o que se refere ao
mundo do invisível. As regras que ela aplica ao plano físico serão
insuficientes, sempre que as quiserem aplicar ao mundo dos Espíritos. Para
penetrar neste, é preciso antes de tudo compreender que nós mesmos soros
espíritos, e que não podemos entrar em relação com o universo espiritual senão
pelos sentidos do espírito.
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