Os períodos
geológicos marcam as fases do aspecto geral do globo, em consequência das suas
transformações. Mas, com exceção do período diluviano, que se caracterizou por
uma subversão repentina, todos os demais transcorreram lentamente, sem
transições bruscas. Durante todo o tempo que os elementos constitutivos do
globo levaram para tomar suas posições definitivas, as mutações houveram de ser
gerais. Uma vez consolidada a base, só se devem ter produzido modificações
parciais, na superfície.
Além das
revoluções gerais, a Terra experimentou grande número de perturbações locais,
que mudaram o aspecto de certas regiões. Como no tocante às outras duas causas
contribuíram para essas perturbações: o fogo e a água.
O dilúvio
asiático foi evidentemente posterior ao aparecimento do homem na Terra, visto
que a lembrança dele se conservou pela tradição em todos os povos daquela parte
do mundo, os quais o consagraram em suas teogonias.
Além do seu
movimento anual em torno do Sol, origem das estações, do seu movimento de
rotação sobre si mesma em 24 horas, origem do dia e da noite, tem a Terra um
terceiro movimento que se completa em cerca de 25.000 anos, e que produz o
fenômeno denominado, em astronomia, precessão dos equinócios.
Desse movimento
cônico do eixo, resulta que os polos da Terra não olham constantemente os
mesmos pontos do céu; que a Estrela Polar não será sempre estrela polar; que os
polos gradualmente se inclinam mais ou menos para o Sol e recebem dele raios
mais ou menos diretos.
Ainda não
puderam ser determinadas com precisão as consequências deste movimento, porque
somente se há podido observar uma pequena parte da sua revolução. A respeito,
pois, não há mais do que presunções, algumas das quais com caráter de
probabilidade. Essas consequências são:
- O aquecimento e o resfriamento alternativos dos polos. Resultaria
daí não estarem os polos condenados a uma perpétua esterilidade, cabendo-lhes
gozar a seu turno dos benefícios da fertilidade.
- O deslocamento gradativo do mar, fazendo-o invadir pouco a pouco
umas terras e pôr a descoberto outras, para de novo as abandonar, voltando ao
seu leito anterior.
O deslocamento demorado, gradual e periódico do
mar é fato que a experiência comprova e numerosos exemplos confirmam, em todos
os pontos do globo. Tem
por efeito o entretenimento das forças produtivas da Terra. A longa imersão é
para os terrenos um tempo de repouso, durante o qual eles recuperam os
princípios vitais esgotados por uma não menos longa produção. Os imensos
depósitos de matérias orgânicas, formados pela permanência das águas durante
séculos e séculos, são adubações naturais, periodicamente renovadas, e as
gerações se sucedem sem se aperceberem de tais mudanças.
As grandes
comoções telúricas se têm produzido nas épocas em que a crosta sólida da Terra,
pela sua fraca espessura, quase nenhuma resistência oferecia à efervescência
das matérias em ignição no seu interior. Tais comoções foram diminuindo, à
proporção que aquela crosta se consolidava. Numerosos vulcões já se acham
extintos, outros os terrenos de formação posterior soterraram.
Ainda,
certamente, poderão produzir-se perturbações locais, por efeito de erupções
vulcânicas, da eclosão de alguns vulcões novos, de inundações repentinas de
algumas regiões; poderão do mar surgir ilhas e outras ser por ele tragadas;
mas, passou o tempo dos cataclismos gerais, como os que assinalaram os grandes
períodos geológicos. A Terra adquiriu uma estabilidade que, sem ser
absolutamente invariável, coloca doravante o gênero humano ao abrigo de
perturbações gerais, a menos que intervenham causas desconhecidas, a ela
estranhas e que de modo nenhum se possam prever.
Deve-se
igualmente lançar ao rol das hipóteses quiméricas a possibilidade do encontro
da Terra com outro planeta. A regularidade e a invariabilidade das leis que
presidem aos movimentos dos corpos celestes tornam carente de toda
probabilidade semelhante encontro.
A Terra, no
entanto, terá um fim. Como? Isso ainda permanece no domínio das conjeturas;
mas, visto estar ela ainda longe da perfeição que pode alcançar e da vetustez
que lhe indicaria o declínio, seus habitantes atuais pedem estar certos de que
tal não se dará ao tempo deles.
Fisicamente, a
Terra teve as convulsões da sua infância; entrou agora num período de relativa
estabilidade: na do progresso pacífico, que se efetua pelo regular retorno dos
mesmos fenômenos físicos e pelo concurso inteligente do homem. Está, porém,
ainda, em pleno trabalho de gestação do progresso moral. Aí residirá a causa das
suas maiores comoções. Até que a Humanidade se haja avantajado suficientemente
em perfeição, pela inteligência e pela observância das leis divinas, as maiores
perturbações ainda serão causadas pelos homens, mais do que pela Natureza, isto
é, serão antes morais e sociais do que físicas.
A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo
– A Gênese segundo o Espiritismo - Capítulo IX (trechos escolhidos) – Allan
Kardec – FEB – 53ª edição (2013)