01/08/2018

Revoluções do globo


Revoluções do globo

Os períodos geológicos marcam as fases do aspecto geral do globo, em consequência das suas transformações. Mas, com exceção do período diluviano, que se caracterizou por uma subversão repentina, todos os demais transcorreram lentamente, sem transições bruscas. Durante todo o tempo que os elementos constitutivos do globo levaram para tomar suas posições definitivas, as mutações houveram de ser gerais. Uma vez consolidada a base, só se devem ter produzido modificações parciais, na superfície.

Além das revoluções gerais, a Terra experimentou grande número de perturbações locais, que mudaram o aspecto de certas regiões. Como no tocante às outras duas causas contribuíram para essas perturbações: o fogo e a água.

O dilúvio asiático foi evidentemente posterior ao aparecimento do homem na Terra, visto que a lembrança dele se conservou pela tradição em todos os povos daquela parte do mundo, os quais o consagraram em suas teogonias.

Além do seu movimento anual em torno do Sol, origem das estações, do seu movimento de rotação sobre si mesma em 24 horas, origem do dia e da noite, tem a Terra um terceiro movimento que se completa em cerca de 25.000 anos, e que produz o fenômeno denominado, em astronomia, precessão dos equinócios.
Desse movimento cônico do eixo, resulta que os polos da Terra não olham constantemente os mesmos pontos do céu; que a Estrela Polar não será sempre estrela polar; que os polos gradualmente se inclinam mais ou menos para o Sol e recebem dele raios mais ou menos diretos.

Ainda não puderam ser determinadas com precisão as consequências deste movimento, porque somente se há podido observar uma pequena parte da sua revolução. A respeito, pois, não há mais do que presunções, algumas das quais com caráter de probabilidade. Essas consequências são:

- O aquecimento e o resfriamento alternativos dos polos. Resultaria daí não estarem os polos condenados a uma perpétua esterilidade, cabendo-lhes gozar a seu turno dos benefícios da fertilidade.

- O deslocamento gradativo do mar, fazendo-o invadir pouco a pouco umas terras e pôr a descoberto outras, para de novo as abandonar, voltando ao seu leito anterior.

O deslocamento demorado, gradual e periódico do mar é fato que a experiência comprova e numerosos exemplos confirmam, em todos os pontos do globo. Tem por efeito o entretenimento das forças produtivas da Terra. A longa imersão é para os terrenos um tempo de repouso, durante o qual eles recuperam os princípios vitais esgotados por uma não menos longa produção. Os imensos depósitos de matérias orgânicas, formados pela permanência das águas durante séculos e séculos, são adubações naturais, periodicamente renovadas, e as gerações se sucedem sem se aperceberem de tais mudanças.


As grandes comoções telúricas se têm produzido nas épocas em que a crosta sólida da Terra, pela sua fraca espessura, quase nenhuma resistência oferecia à efervescência das matérias em ignição no seu interior. Tais comoções foram diminuindo, à proporção que aquela crosta se consolidava. Numerosos vulcões já se acham extintos, outros os terrenos de formação posterior soterraram. 

Ainda, certamente, poderão produzir-se perturbações locais, por efeito de erupções vulcânicas, da eclosão de alguns vulcões novos, de inundações repentinas de algumas regiões; poderão do mar surgir ilhas e outras ser por ele tragadas; mas, passou o tempo dos cataclismos gerais, como os que assinalaram os grandes períodos geológicos. A Terra adquiriu uma estabilidade que, sem ser absolutamente invariável, coloca doravante o gênero humano ao abrigo de perturbações gerais, a menos que intervenham causas desconhecidas, a ela estranhas e que de modo nenhum se possam prever. 

Deve-se igualmente lançar ao rol das hipóteses quiméricas a possibilidade do encontro da Terra com outro planeta. A regularidade e a invariabilidade das leis que presidem aos movimentos dos corpos celestes tornam carente de toda probabilidade semelhante encontro.

A Terra, no entanto, terá um fim. Como? Isso ainda permanece no domínio das conjeturas; mas, visto estar ela ainda longe da perfeição que pode alcançar e da vetustez que lhe indicaria o declínio, seus habitantes atuais pedem estar certos de que tal não se dará ao tempo deles.

Fisicamente, a Terra teve as convulsões da sua infância; entrou agora num período de relativa estabilidade: na do progresso pacífico, que se efetua pelo regular retorno dos mesmos fenômenos físicos e pelo concurso inteligente do homem. Está, porém, ainda, em pleno trabalho de gestação do progresso moral. Aí residirá a causa das suas maiores comoções. Até que a Humanidade se haja avantajado suficientemente em perfeição, pela inteligência e pela observância das leis divinas, as maiores perturbações ainda serão causadas pelos homens, mais do que pela Natureza, isto é, serão antes morais e sociais do que físicas.


A Gênese, os milagres e as predições segundo o Espiritismo – A Gênese segundo o Espiritismo - Capítulo IX (trechos escolhidos) – Allan Kardec – FEB – 53ª edição (2013)