(continuação)
IV - A Mediunidade
Acabamos de aludir ao papel dos médiuns. O médium é o agente
indispensável, com cujo auxílio se produzem as manifestações do mundo
invisível. Assinalamos a impotência dos nossos sentidos, desde que são
aplicados aos estudos dos fenômenos da vida. Nas ciências experimentais, não
tardou a ser preciso recorrer a instrumentos para suprir essa deficiência do
organismo humano e ampliar o nosso campo de observação. Vieram assim o
telescópio e o microscópio revelarmos a existência do infinitamente grande e do
infinitamente pequeno.
A partir do estado gasoso, a matéria escapava aos nossos
sentidos. Os tubos de Crookes, as placas sensíveis nos permitem prosseguir os
estudos no domínio, por muito tempo inexplorado, da matéria radiante. Aí, por
enquanto, se detêm os meios de investigação da Ciência. Mais além, todavia, se entreveem
estados da matéria e da força que um instrumento aperfeiçoado, mais dia menos
dia, nos tornará familiares.
Onde faltam ainda os meios artificiais, vêm certos
indivíduos trazer ao estudo dos fenômenos vitais o concurso de preciosas
faculdades. É assim que o sensitivo hipnótico representa o instrumento que tem
permitido sondar as profundezas ainda misteriosas do “eu humano”, o proceder a
uma análise minuciosa de todos os modos de sensibilidade, de todos os aspectos
da memória e da vontade. O médium vem, por sua vez, desempenhar um papel
essencial no estudo dos fenômenos espíritas. Participando simultaneamente, por
seu invólucro fluídico, da vida do Espaço e, pelo corpo físico, da vida
terrestre, é ele o intermediário obrigatório entre dois mundos.
O estudo, pois, da mediunidade prende-se intimamente a todos
os problemas do Espiritismo; é mesmo a sua chave. O mais importante, no exame
dos fenômenos, é distinguir a parte que é preciso atribuir ao organismo e à
personalidade do médium e a que provém de uma intervenção estranha, e
determinar em seguida a natureza dessa intervenção. O Espírito, separado da
matéria grosseira pela morte, não pode mais sobre ela agir; nem se manifestar
na esfera humana sem o auxílio de uma força, de uma energia, que ele haure no
organismo de um ser vivo.
Toda pessoa suscetível de fornecer, de exteriorizar essa
força, é apta para desempenhar um papel nas manifestações físicas, deslocação
de objetos sem contato, transportes, sons de pancadas, mesas giratórias,
levitações, materializações. É essa a mais comum, a mais generalizada forma da
mediunidade; não requer nenhum desenvolvimento
intelectual, nem adiantamento moral.
É uma simples propriedade fisiológica, observada em pessoas
de todas as condições. Em todas as formas inferiores da mediunidade o indivíduo
é comparável, quer a um acumulador de força, quer a um aparelho telegráfico ou
telefônico, transmissor do pensamento do operador. A comparação é tanto mais
exata quanto a força psíquica se esgota, como todas as forças não renovadas; a
intensidade das manifestações está na razão direta do estado físico e mental do
médium. Seria um erro considerar este como um histérico ou um doente; é
simplesmente um indivíduo dotado de capacidades mais extensas ou de mais sutis
percepções que outro qualquer.
A saúde do médium parece-nos ser uma das condições de sua
faculdade. Conhecemos um grande número de médiuns, que gozam perfeita saúde;
temos notado mesmo um fato significativo, e é que, quando a saúde se lhes
altera, os fenômenos se enfraquecem e cessam até de se produzir.
A mediunidade apresenta variedades quase infinitas, desde as
mais vulgares formas até as mais sublimes manifestações. Nunca é idêntica em
dois indivíduos, e se diversifica segundo os caracteres e os temperamentos. Em
um grau superior, é como uma centelha do céu a dissipar as humanas tristezas e
esclarecer as obscuridades que nos envolvem. A mediunidade de efeitos físicos é
geralmente utilizada por Espíritos de ordem vulgar.
Requer continuo e atento exame. É pela mediunidade de
efeitos intelectuais – inspiração escrita – que habitualmente nos são transmitidos
os ensinos dos Espíritos elevados. Para produzir bons resultados, exige
conhecimentos muito extensos. Quanto mais instruído e dotado de qualidades
morais é o médium, maiores recursos facilita aos Espíritos. Em todos os casos,
contudo, o indivíduo não é mais do que um instrumento; este, porém, deve ser
apropriado à função de que é encarregado. Um artista, por mais hábil que seja,
nunca poderá tirar de um instrumento incompleto mais que medíocre partido. O
mesmo se dá com o Espírito em relação ao médium intuitivo, no qual um claro
discernimento, uma lúcida inteligência, o saber mesmo, são condições
essenciais.
(continua)