04/06/2020

Olá amigos!
Ouçam abaixo trecho do livro Lázaro Redivivo



..."Em vista disso, quando o Mestre saiu de Betânia, a caminho da cidade, alinharam-se fileiras de populares, saudando-o festivamente. 

Anciães de barbas encanecidas acompanhavam o coro dos jovens: 
– “Hosanas ao filho de David!” As mulheres gritavam, entusiasticamente, amparando criancinhas a sustentarem, com graça, verdes ramos de palmeira. 

Os discípulos, ladeando o Mestre, sentiam o efêmero júbilo provocado pelo mentiroso incenso da multidão. Os fiéis galileus, guindados inesperadamente ao cume da popularidade, inclinavam-se com desvanecimento, embriagados pelo triunfo. 
De espaço a espaço, esse ou aquele patriarca fazia sinais a Pedro, Filipe ou João, convidando-os a se pronunciarem discretamente: – Quando se manifestará o Messias? 

Os interpelados assumiam atitude de orgulhosa prudência e respondiam, quase sempre, a mesma coisa: – Estamos certos de que a homenagem de hoje é decisiva e o Messias dar-nos-á a conhecer o plano das nossas reivindicações. 

Jesus agradecia aos manifestantes de Jerusalém com o olhar, mostrando, porém, melancólicos sorrisos. 

Demonstrando compreender a situação, logo após convocou os discípulos para uma reunião mais íntima, em que lhes diria algo de grave. 

Interpelados por alguns amigos, Tiago e João, filhos de Zebedeu, informaram quanto ao anúncio do Mestre. Discutiria as questões do presente e do futuro, e, possivelmente, seria mais claro nas definições políticas da ação renovadora. 

Por esse motivo, enquanto o Cristo e os companheiros tornavam a refeição frugal do cenáculo, verdadeira multidão apinhava-se, discreta, nas adjacências. O povo aguardava informações do colégio apostólico, entre a ansiedade e a esperança. 

Finda a reunião, e enquanto Jesus e Simão Pedro se demoravam em confidências, seis discípulos vieram, cautelosos, à via pública. A fisionomia deles denunciava preocupações e desencanto. 

Começaram os comentários, entre os intelectualistas de Jerusalém e os pescadores da Galiléia. 

– Que disse o profeta? – perguntou o patriarca, chefe daquele movimento de curiosidade – explicou-se, afinal? 

– Sim – esclareceu Filipe com benevolência. 

– E a base do programa de nossa restauração política e social? 

– Recomendou o Senhor para que o maior seja servo do menor, que todos deveremos amarnos uns aos outros. 

– O sinal do movimento? – indagou o ancião de olhos lúcidos. 

– Estará justamente no amor e no sacrifício de cada um de nós – replicou o apóstolo, humilde.

– Dirigir-se-á imediatamente a César, fundamentando o necessário protesto?

– Disse-nos para confiarmos no Pai e crermos também nele, nosso Mestre e Senhor, – Não se fará, então, exigência alguma? 

– exclamou o patriarca, irritado. 

– Aconselhou-nos a pedir ao Céu o que pôr necessário e afirmou que seremos atendidos em seu nome – explicou Filipe, sem se perturbar. 

Entreolharam-se, admirados os circunstantes. – E a nossa posição? – resmungou o velho – não somos o povo escolhido da Terra?

Muito calmo, o apóstolo esclareceu: – Disse o Mestre que não somos do mundo e por isso o mundo nos aborrecerá, até que o seu Reino seja estabelecido. 

Espocaram as primeiras gargalhadas. 

– Mas o profeta – continuou o israelita exigente – não assinou algum documento, nem se referiu a qualquer compromisso com as autoridades? 

– Não – respondeu Filipe, sincero ingênuo –, apenas lavou os pés dos companheiros. 

Oh! para os filhos vaidosos de Jerusalém era demais. Surgiram risos e protestos. 

– Não te disse, Jafet? – falou um antigo fariseu ao patriarca. – Tudo isso é uma farsa. 

Um moço pedante afiançou, depois de detestável risada: 

– Muito boa, esta aventura dos pescadores! 

Dentro de alguns minutos, via-se a rua deserta. 

Desde essa hora, compreendendo que Jesus cumpria, acima de tudo, a Vontade de Deus, longe de qualquer disputa com os homens, a multidão abandonou-o. Os discípulos, reconhecendo também que êle desprezava todos os cálculos de probabilidade do triunfo político, retraíram-se, desapontados. E, desde esse instante, a perseguição do Sinédrio tomou vulto e o Messias, sozinho com a sua dor e com a sua lealdade, experimentou a prisão, o abandono, a injustiça, o açoite, a ironia e a crucificação. 

Essa, foi uma das ultimas lições d’Êle, entre as criaturas, dando-nos a conhecer que é muito fácil cantar hosanas a Deus, mas muito difícil cumprir-lhe a Divina Vontade, com o sacrifício de nós mesmos.

Fonte: Livro Lázaro Redivivo, Cap. 17 - Lição em Jerusalém - Francisco Cândido Xavier, pelo espírito Irmão X