09/06/2020

Olá amigos!
Ouçam abaixo trecho do livro Antes que o galo cante


Nesse mesmo dia, dois discípulos iam em direção a Emaús, aldeia nas proximidades de Jemsalém. 
Um homem aproximou-se e caminhou com eles. 
Vendo que comentavam os momentosos acontecimentos, perguntou-lhes a respeito. 
Um deles, chamado Cléofas, respondeu-lhe: 
-Tu és o único peregrino em Jerusalém que não sabe o que aconteceu nestes dias? 
- O que foi?
- O que aconteceu a Jesus, o Nazareno, um profeta poderoso em obras e palavras diante de Deus e de todo o povo. Os principais sacerdotes e as nossas autoridades o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Esperávamos fosse ele quem iria redimir Israel. Agora, porém, além de tudo isso, é hoje o terceiro dia desde que essas coisas aconteceram. / 
E verdade que algumas mulheres, as quais estavam conosco, nos assustaram, porque indo de madrugada ao sepulcro, e não tendo encontrado o corpo de Jesus, voltaram dizendo que tinham visto uma aparição de anjos que lhes afirmaram estar ele vivo. 
Foram alguns dos nossos ao sepulcro e encontraram as coisas tais, como as mulheres haviam dito; mas não o viram! Assim como acontecera com os apóstolos, os dois viajantes não davam crédito ao relato feminino

Ficaram surpresos quando o peregrino disse-lhes, peremptório:

- Ó insensatos, ó corações lentos para crer tudo o que os profetas anunciaram! Pois não era necessário que o Cristo sofresse todas essas coisas e entrasse na sua glória? Começando por Moisés e percorrendo todos os profetas, interpretou, nas escrituras, o que dizia respeito ao mensageiro divino. Tudo o que acontecera apenas confirmava as profecias. 
Na entrada de Emaús os discípulos convidaram: 
- Fica conosco, porque é tarde e o dia já declina. À mesa, na hospedaria, o peregrino tomou o pão e o abençoou; depois o partiu e dividiu com eles, exatamente como Jesus fizera na última ceia. Então, como se lhe abrissem os olhos, até então, velados, reconheceram estar diante do próprio Messias.

E disseram um ao outro:
 - Porventura não ardia em nós o nosso coração, quando ele nos falava pelo caminho e quando nos explicava as Escrituras?

Diferente da aparição a Maria Madalena, Jesus ali se manifestava materializado, tangível, tanto que cortou o pão e o distribuiu. Pouco depois, aos olhos atônitos dos discípulos, desmaterializou-se. Emocionados e eufóricos, os dois homens retomaram, apressados, a Jerusalém. 
Um dos apóstolos, ao ouvir seu relato, confirmou: 
- É tudo verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão.
Esse encontro com Simão Pedro aparece apenas nessa citação. Paulo, na Primeira Epístola aos Coríntios, 15:5, também escreve, laconicamente, a respeito. 

***

As notícias alvissareiras sobre as aparições de Jesus, embora encaradas com ceticismo, foram motivo de emoção para a pequena comunidade cristã. 
Havia, ainda, o insólito desaparecimento de seu corpo. 
Os discípulos viviam momentos de ansiosa expectativa. Sentiam que algo de muito importante estava para acontecer. 
Precisavam de estímulo. A morte de Jesus precipitara todos no desalento, principalmente pelo fato de que haviam fugido aos testemunhos, como um bando de colegiais amedrontados. Pesava-lhes a defecção. 
Pior: sentiam-se qual barco sem timoneiro. Enquanto Jesus estava a seu lado, tudo lhes parecera fácil. O Mestre tinha pronta solução para os problemas, dirimia as dúvidas, superava as dificuldades, sustentava o ânimo do grupo. Após sua morte, era como se lhes faltasse o chão debaixo dos pés, perdidos naquele terrível desencadear de acontecimentos. Muito haviam aprendido nos três anos de convivência fiatema e muito tinham para oferecer. Entretanto, naqueles dias angustiantes não se sentiam animados ao cumprimento das recomendações tantas vezes ouvidas. Permaneciam em pesada expectativa, como que a espera do socorro do Céu, que viesse reavivar a fé, a esperança e o bom ânimo, que bruxuleavam em seus corações. 

***

À tardezinha, em pleno domingo, deu-se a reunião do colégio apostólico. Ausente apenas Tomé. Ali estavam os homens escolhidos por Jesus para disseminar sua doutrina; que ergueríam bem alto seu nome; que dariam a vida pela causa evangélica; que seriam aclamados pelas gerações futuras como santos e heróis. Naquele exato momento eram apenas obscuros galileus, frágeis, temerosos, desanimados... E eis que a sala fez-se plena de luz e surgiu a figura augusta do Messias, a dizer, como nos dias venturosos do passado: - Paz esteja convosco! 

***

Segundo o relato evangélico, a primeira reação do grupo foi de medo. Parece estranho, leitor amigo, mas é o que está registrado: medo e espanto. 
Um fantasma! 
A ignorância induz as pessoas a encarar de forma negativa e ameaçadora qualquer manifestação da espiritualidade. E um atavismo psicológico que todos trazemos, fruto de velhas superstições. 
A ortodoxia religiosa, por sua vez, nada faz para mudar esse quadro, situando tais fenômenos como manifestações do demônio. 
Diriamos manifestações dos Espíritos maus, já que para o Espiritismo não há seres demoníacos. São apenas filhos de Deus transviados, submetidos a leis inexoráveis, que mais cedo ou mais tarde os reconduzirão aos roteiros do Bem. 
E por que apenas o Espírito mau havería de ter poderes para superar as barreiras que separam o plano físico do espiritual? 
Seria atribuir-lhe poderes que escapariam aos Espíritos bons. Absurdo! O Bem é inímitamente mais poderoso! 
Ante o susto dos companheiros, Jesus os tranqüilizou: 
- Por que estais perturbados? Por que se levantam essas dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés, sou eu mesmo. Apalpai-me e vede, pois, um Espírito não tem carne, nem ossos, como vedes que eu tenho. Para que não pairasse dúvida de que ele ali estava, visível, tangível, algo mais que um simples fantasma, pediu: 
- Tendes algo para comer? 
Então lhe serviram um pedaço de peixe assado e um favo de mel, que Jesus tomou e comeu, diante deles.


Fonte: Antes que o Galo Cante, trechos dos Capítulos 8 e 9, de Richard Simonetti