12/06/2020

Olá!

Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 hs.
Livro Ação e Reação - Capítulo 16 - 
Débito Aliviado




Mensagem inicial

IV


A paciência é a virtude que te auxiliará na conquista dos bens do corpo, da alma e da sociedade.

Ela ensina a técnica de como se deve aguardar, quando não se pode ter imediatamente o que se deseja.

Jamais te irrites.

A paciência te auxiliará a tudo vencer.


Fonte: Livro Vida feliz - Espírito Joanna de Ângelis - Divaldo Franco



Trecho do estudo:

(continuação do capítulo 16 - Débito Aliviado)

Qual se quisesse centralizar os recursos da memória, emudeceu por instantes e, finalmente, continuou:

– Em meados do século precedente, Adelino era filho bastardo de um jovem muito rico que o recebeu das mãos da genitora escrava, que desencarnou ao trazê-lo à luz. Martim Gaspar,  o moço afazendado que lhe foi o pai solteiro, era homem de coração enrijecido, muito cedo acostumado ao orgulho tiranizante, em face da incúria do lar em que nascera. Abusava das donzelas cativas a seu talante e, em muitas ocasiões, vendeu-as com os próprios filhos recém natos para lhes não ouvir os choros e petitórios.

Temido na casa grande da qual se fizera absoluto senhor, por morte do velho pai, que, em vão, buscara tardiamente controlar-lhe os instintos, sabia usar o tronco e o chicote, sem qualquer compaixão. Era execrado pela maioria dos servos e bajulado de quantos lhe obtinham os favores, a troco de lisonja servil. Entretanto, para o filho Martim – o mesmo Adelino de agora –, a sua ternura e dedicação não mostravam limites. Inexplicavelmente para ele mesmo, amava-o com desvelado enternecimento, a ponto de providenciar-lhe educação esmerada na própria fazenda. Entre pai e filho estabeleceram-se, dessa forma, os mais santos laços afetivos.

Eram companheiros inseparáveis nos jogos e nos estudos, no serviço e na caça. Foi assim que Gaspar, não obstante cruel para com os outros rebentos da própria carne, nas senzalas sofredoras, não hesitou em legitimá-lo como filho, perante as autoridades do tempo, tornando-o partícipe de seu nome e de sua herança. Pai e filho contavam, respectivamente, quarenta e três e vinte e um anos de idade, quando Gaspar, embora solteirão amadurecido, resolveu casar-se, em grande metrópole, desposando Maria Emília, leviana jovem de vinte primaveras que, trazida à grande casa rural, desenvolveu sobre o enteado estranha fascinação.

 Martim, extremamente amado pelo genitor, atraído agora para os encantos femininos da madrasta, passou a experimentar torturantes conflitos sentimentais. Ele, que se julgava o melhor amigo de Gaspar, entrou a detestá-lo. Não lhe tolerava a posse sobre a mulher que desejava, sabendo-se por ela ardentemente querido, porquanto Maria Emília, pretextando essa ou aquela necessidade, sabia isolá-lo em viagens diversas, nas quais lhe exacerbava a afeição juvenil. Ambos souberam furtar-se a qualquer desconfiança e, totalmente entregue à paixão que o requestava, o jovem Martim, desprevenido, planejou o medonho parricídio em que se enliçou, desventurado.

Sabendo o genitor acamado, em tratamento do fígado enfermo, tomou a cooperação de dois capatazes da sua inteira confiança, Antônio e Lucídio, igualmente verdugos de meninas cativas, e, certa noite, administrou-lhe uma poção entorpecente, com aprovação da madrasta... Tão logo se pôs o doente a dormir, coadjuvado pelos dois cúmplices que odiavam o patrão, espalhou substâncias resinosas no leito paterno, simulando, logo após, o incêndio no qual o mísero-Gaspar, em horríveis padecimentos, se ausentou do corpo.

Conduzido o pai ao sepulcro e apoderando-se-lhe dos haveres, tentou a felicidade ao pé de Maria Emília; todavia, o genitor desencarnado, a inflamar-se em cólera, envolveu-o em nuvens de fluidos inflamados, contra os quais o infeliz não possuía defesa... Apegando-se ao afeto da companheira, Martim procurou anestesiar a consciência e esquecer... esquecer... Confiou a fazenda aos cuidados de ambos os cúmplices do tenebroso delito e, arrimando-se à companhia da mulher, demandou à Europa, em busca de repouso e distração. Tudo, porém, debalde... Ao fim de cinco anos de resistência, tombou integralmente vencido, sob o jugo do Espírito paternal que o cercava, incessantemente, apesar de invisível. Abriu-se-lhe a pele em chaga, como se chamas ocultas o requeimassem. 

Circunscrito ao leito de dor e constantemente empolgado pelo remorso, recapitulava mentalmente a morte do genitor, em urros de martírio selvagem... Não sabia, desse modo, senão chorar, gritando a esmo o arrependimento de que se via possuído, no que foi interpretado à conta de louco pela própria companheira, que se dava pressa em reconhecer-lhe a suposta alienação mental, de modo a inocentar-se perante os amigos e servidores. Foi algemado a semelhante suplício que Martim recebeu escárnio e abandono, dentro do próprio círculo doméstico, vindo a expirar em tremenda flagelação. Martim Gaspar, o genitor assassinado, aguardou-o no túmulo, arrastando-o para as sombras infernais, onde passou a exercer pavorosa vingança...

O desditoso filho desencarnado sofreu terríveis humilhações e indescritíveis tormentos, durante onze anos sucessivos, em cárceres de treva, até que, amparado por Mensageiros de Jesus, que lhe promoveram o resgate, ingressou em nosso instituto, ao que fui informado, em lamentável situação. Tendo entrado em sintonia com o genitor, sequioso de vindita, através das brechas mentais do remorso e do arrependimento tardio, foi hipnotizado por gênios perversos, que o fizeram sentir-se dominado de chamas torturantes. Fixada a imaginação dele em semelhante quadro de angústia, o próprio Martim nutria com o pensamento culposo as labaredas em que se torturava sem consumir-se, até que foi convenientemente aliviado e socorrido por nossos instrutores, através de recursos magnéticos que lhe sanaram o doloroso desequilíbrio.

Devotou-se, então, depois de melhorado, aos serviços mais duros de nossa organização, conquistando com o tempo apreciáveis lauréis que lhe valeram a volta à esfera humana, com o direito de iniciar o pagamento da larga dívida em que se onerou, desavisado. Cultuando a prece com a renovação do mundo íntimo, renasceu de espírito inclinado à fé religiosa, ardente e operante, encontrando no Espiritismo com Jesus, ao influxo dos amigos desencarnados que o assistem, precioso campo de fortalecimento moral e trabalho digno, no qual tem sabido estender, com louvável aproveitamento das horas, o seu raio de ação no estudo edificante e na caridade pura, atraindo em seu favor as mais amplas simpatias, por parte de irmãos encarnados e desencarnados, que lhe devem generosidade e carinho.

Atirado a imensas dificuldades materiais, desde cedo cresceu órfão de pai, de vez que não valorizou no passado a ternura paterna, lutando com extrema pobreza e com enfermidade constante... Custodiado, porém, por benfeitores da nossa Mansão, foi conduzido a um templo espírita, ainda muito jovem, onde, submetido a tratamento da epiderme esfogueada, entrou no conhecimento de nossa Renovadora Doutrina... A leitura dos princípios espíritas, ao sol do Evangelho do Senhor, constituiu para ele recordações naturais dos ensinamentos assimilados em nossa casa, antes da reencarnação. 

Desde aí, aceitou nobremente a responsabilidade de viver e buscou, acima de tudo, aplicar a si próprio as diretrizes regeneradoras da fé que abraça. Disciplinou-se. Rendeu sincero preito às suas obrigações e, não obstante os entraves orgânicos, muito moço se dedicou às representações comerciais, de cujos labores retira os abençoados recursos que sabe repartir com necessitados numerosos, reservando para si tão-somente o indispensável.

Não é um rico da Terra, na acepção do conceito, mas um trabalhador da fraternidade que sabe dar o próprio coração naquilo que distribui. Trilhando o caminho da simplicidade e da renúncia edificante, modificou as impressões de muitos dos companheiros de outro tempo, que, nas baixas camadas da sombra, se lhe haviam transformado em perseguidores e desafetos, obsessores esses que, em lhe observando os exemplos novos, se sentiam moralmente desarmados para os conflitos que se propunham manter. 

É assim que não deixa de ressarcir as suas culpas, sofrendo-lhes o gravame em si mesmo. Entretanto, pelos valores que entesoura, devotado ao bem alheio, resgata o pretérito com o alívio possível, ganhando tempo e adquirindo novas bênçãos.

Ajudando aos outros, desbasta, dia a dia, o montante dos seus débitos, de vez que a Misericórdia do Pai Celestial permite que os nossos credores atenuem o rigor da cobrança, sempre que nos vejam oferecendo ao próximo necessitado aquilo que lhes devemos...