Olá!
Segue nosso estudo de quarta-feira às 19hs.
Livro Cristianismo e Espiritismo
Capítulo XI - Renovação
Compadece-te e auxilia
Se já conquistaste algum destaque no conhecimento ou na virtude, não menosprezes os companheiros que tropeçam ou que se arrastam na retaguarda. Ao invés disso, auxilia-os, quanto puderes.
Lembra-te de que aquele que se eleva por uma escada de mil degraus ainda é capaz de cair ao alcançar os novecentos e noventa e nove.
Fonte: livro Material de Construção, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
*
Toda a gente reconhece hoje a necessidade de uma
educação moral, suscetível de regenerar a sociedade e de
arrancar a França a um estado de decadência que,
acentuando-se todos os dias, ameaça levá-la à queda e à
ruína.
Acreditou-se por muito tempo ter feito bastante,
difundindo a instrução; mas a instrução sem o ensino
moral é impotente e estéril. E preciso, antes de tudo,
fazer da criança um homem - um homem que
compreenda os seus deveres e conheça os seus direitos.
Não basta desenvolver as inteligências, é necessário
formar caracteres, fortalecer as almas e as consciências.
Os conhecimentos devem ser completados por noções que
esclareçam o futuro e indiquem o destino do ser. Para
renovar uma sociedade, são necessários homens novos e
melhores. Sem isso, todas as reformas econômicas, todas
as combinações políticas, todos os progressos intelectuais
serão insuficientes. A ordem social nunca valerá mais que
o que nós próprios valemos.
Essa educação necessária, porém, em que se firmará?
Não será, decerto, em teorias negativas, pois foram elas
que, em parte, originaram os males do presente. Menos
ainda o será em dogmas caducos, doutrinas mortas,
crenças todas superficiais e aparentes, que já não têm
raiz nas almas.
Não! A Humanidade não quer mais símbolos, nem
lendas, nem mistérios, nem verdades veladas. Faz-se-lhe
necessária a grande luz, a esplêndida irrupção do
verdadeiro, que só o novo espiritualismo lhe pode
fornecer.
Só ele pode oferecer à moral uma base definitiva e
dar ao homem moderno as necessárias forças para
suportar dignamente as suas provações, discernir-lhes as
causas, reagir contra elas, cumprir em tudo o seu dever.
Com essa doutrina o homem sabe a que destino vai;
seu caminhar torna-se mais firme e mais seguro. Ele sabe
que a justiça governa o mundo, que tudo se encadeia, que
cada um dos seus atos, mau ou bom, recairia sobre ele,
através dos tempos. Nesse pensamento encontra um freio
para o mal e um poderoso estimulo para o bem.
As comunicações dos Espíritos, a comunhão dos vivos
e dos mortos lhe patentearam, em sua realidade
palpitante, o futuro de além-túmulo; ele sabe qual a sorte
que lhe está reservada, quais as responsabilidades em
que incorre, que predicados lhe cumpre adquirir para
ser feliz.
Efetivamente, desde que são conhecidas as condições
da vida futura, o objetivo da existência se define, a
norma da vida presente se estabelece, de modo
imperioso, para todo espírito zeloso do próprio futuro.
Ele compreende que não veio a este mundo para
desfrutar prazeres frívolos, para satisfazer pueris e fúteis
ambições, mas para desenvolver as suas faculdades
superiores, corrigir defeitos, pôr em prática tudo o que
pode contribuir para a sua elevação.
0 estudo do Espiritismo ensina que a vida é combate
pela luz; a luta e as provas só hão de cessar com a
conquista do bem moral. Esse pensamento retempera as
almas; prepara-as para as ações nobres e para os grandes
empreendimentos. Com o senso do verdadeiro, desperta
em nós a confiança. Identificados com tais preceitos, não
mais temeremos a adversidade nem a morte. Com ânimo
intrépido, através dos golpes vibrados pela sorte,
avançaremos na senda que nos é traçada, sem fraqueza
nem pesar abordaremos a outra margem, quando tiver
soado a nossa hora.
Por isso a influência moralizadora do Espiritismo
penetra pouco a pouco nos mais diversos meios, dos mais
cultos aos mais degradados e obscuros.
Temos disso uma prova no seguinte fato: em 1888, os
forçados do presídio de Tarragona (Espanha) enviavam
ao Congresso Espírita Internacional de Barcelona um
tocante memorial, em que faziam conhecer toda a
extensão do conforto moral que lhes havia proporcionado
o conhecimento do Espiritismo.(127)
Pode-se também verificar, nos centros operários onde
se tem divulgado o Espiritismo, uma sensível modificação
dos costumes, uma resistência mais enérgica a todos os
excessos em geral, e às teorias anarquistas em particular.
Graças aos conselhos dos Espíritos, muitos hábitos
viciosos têm sido coibidos e a paz se restabeleceu em
muitos lares perturbados. Com a crença perdida, esses
ensinos, em tais meios, têm feito renascer virtudes hoje
em dia raras.
Era edificante espetáculo ver, por exemplo, todos os
domingos afluírem a Jumet (Bélgica), de todos os pontos
da bacia de Charleroi, inúmeras famílias de mineiros
espíritas. Reuniam-se numa ampla sala, onde, depois das
preliminares usuais, escutavam, com recolhimento, as
instruções que seus guias invisíveis lhes transmitiam pela
boca dos médiuns manifestados. Era por intermédio de
um deles, simples trabalhador mineiro, pouco letrado, a
exprimir-se habitualmente em dialeto walão, que se
manifestava o Espírito do cônego Xavier Mouls,
sacerdote de grande valor e acrisoladas virtudes, a quem
se deve a vulgarização do magnetismo e do Espiritismo
nos corons(128) Mouls, depois de rudes provas e cruéis
perseguições, deixara a Terra, mas seu Espírito
continuou sempre a velar pelos queridos mineiros. Todos
os domingos, tomava posse dos órgãos do seu médium
favorito e, após uma citação dos sagrados textos, com
eloqüência verdadeiramente sacerdotal desenvolvia, em
presença de todos, em francês, durante uma hora, o tema
escolhido, falando ao coração e à inteligência dos seus
ouvintes, exortando-os ao cumprimento do dever, à
submissão às leis divinas.
Por isso, a impressão
produzida naquela honrada gente era bem profunda. 0
mesmo se dá em todos os meios em que o Espiritismo é
praticado com seriedade, pelos humildes deste mundo.
Às vezes, Espíritos de mineiros, conhecidos dos
assistentes e que com eles partilharam a mesma laboriosa
existência, se lhes manifestavam. Eram facilmente
reconhecidos por sua linguagem, por suas expressões
familiares, por mil particularidades psicológicas que são
outras tantas provas de identidade. Descreviam a vida no
espaço, as sensações experimentadas na ocasião da
morte, os sofrimentos morais resultantes de um passado
culposo, de perniciosos hábitos contraídos, de pendores
para a maledicência ou para o alcoolismo, e essas
comovedoras descrições, cheias de animação e de
originalidade, exerciam no auditório um grande efeito
moral, uma impressão profunda e salutar. Daí uma
sensível transformação nas idéias e nos costumes.
Considerando esses fatos, bem numerosos já e que se
multiplicam dia a dia, pode-se desde logo calcular o
número considerável de pobres almas que o Espiritismo
fortaleceu e consolou. Ele preservou do suicídio grande
número de desesperados. Demonstrando-lhes a realidade
da sobrevivência, restituiu-lhes a coragem e o apreço à
vida.
Não cometeremos exagero dizendo que milhares de
seres humanos, pertencentes a diversas confissões
religiosas, protestantes e católicas - e mesmo
representantes oficiais dessas religiões a quem a morte de
parentes e as provações haviam acabrunhado -
encontraram na comunhão dos mortos, em lugar de uma
indecisa fé, uma convicção positiva, uma inabalável
confiança na imortalidade.
Eis aqui o que um pastor protestante escrevia a
Russell Wallace, acadêmico inglês, depois de haver
comprovado a realidade dos fenômenos espíritas:
"A morte é agora para mim uma coisa muito
diferente do que foi outrora; depois de ter experimentado
enorme acabrunhamento conseqüente à morte de meus
filhos, sinto-me atualmente cheio de esperança e de
alegria; sou outro homem"(129).
A esses testemunhos, tão eloqüentes de simplicidade,
poder-se-iam opor, é certo, as fraudes, os hábitos de
embuste, o charlatanismo e a mediunidade venal, em
uma palavra: todos os abusos originados, em certos
casos, de uma péssima prática experimental do
Espiritismo, e aos quais já nos referimos.
Mas os que se entregam a semelhantes exercícios
provam, por isso mesmo, a sua ignorância do
Espiritismo. Se lhe compreendessem as leis e os preceitos,
saberiam o que lhes reservam atos que são outras tantas
profanações. Saberiam ao que se expõem os que fazem de
uma coisa respeitável e sagrada, em que se não deve
tocar senão com recolhimento e piedade, meio vulgar de
exploração, um comércio vergonhoso.
Lembrar-nos-ão, também, a influência dos maus
Espíritos, as comunicações apócrifas, subscritas por
nomes célebres, os casos de obsessão e possessão. Mas
essas influências foram exercidas, esses fatos se
produziram em todos os tempos; sempre os homens
estiveram expostos - muitas vezes sem lhes conhecerem as
causas - às más ações dos invisíveis de ordem inferior, e o
estudo do Espiritismo vem precisamente fornecer os
meios de afastar essas influências, de agir sobre os
Espíritos malfazejos, de os encaminhar ao bem pela
evocação e pela prece.
A ação salutar do Espiritismo não se exerce, com
efeito, unicamente sobre os homens; estende-se também
aos habitantes do espaço. Mediante relações estabelecidas
entre os dois mundos, os adeptos esclarecidos podem agir
sobre os Espíritos inferiores e, com palavras de piedade e
consolação, sábios conselhos, arrancá-los ao mal, ao ódio,
ao desespero.
E nisso há um dever imperioso, o dever de todo ser
superior para com os seus irmãos retardatários, de um
ou de outro mundo. É o dever do homem de bem, que o
Espiritismo eleva à dignidade de educador e guia dos
Espíritos ignorantes ou perversos, a ele enviados para
serem instruídos, esclarecidos, melhorados. É, ao mesmo
tempo, o mais seguro meio de sanear fluidicamente a
atmosfera da Terra, o ambiente em que se agita e vive a
Humanidade.
E nesse intuito que todo círculo espírita de alguma
importância consagra parte das suas sessões à instrução e
moralização das almas culpadas. Graças à solicitude que
lhes é testemunhada, às caritativas advertências e,
sobretudo, às preces fervorosas que recaem sobre eles em
magnéticos eflúvios, não é raro ver os mais endurecidos
Espíritos reconciliados com melhores sentimentos, porem
por si mesmos um termo às dolorosas obsessões com que
perseguiam suas vítimas.
Com suas errôneas concepções da vida de além túmulo, com sua doutrina da condenação eterna, obstou
por muito tempo a Igreja o cumprimento desse dever.
Ela havia interdito toda relação entre os Espíritos e os
homens, cavando entre eles fundo abismo. Todos os que,
ao deixarem a Terra, eram considerados condenados por
seus crimes, viam interceptar-se, do lado dos homens,
toda comunicação, dissipar-se toda possibilidade de
aproximação e, conseqüentemente, toda esperança de
socorro moral e de consolação.
O mesmo acontecia do lado do céu, porque os
Espíritos elevados, em virtude da natureza sutil do seu
invólucro, dos seus fluidos etéreos pouco em harmonia
com os dos Espíritos inferiores, encontram muito mais
dificuldade do que os homens em comunicar com eles, em
razão da diferença de afinidade. Todas as pobres almas
errantes, torturadas pela angústia, assaltadas pelas
recordações pungentes do passado, achavam-se
abandonadas a si próprias, sem que um pensamento
amigo, como um raio de sol, pudesse iluminar as suas
trevas. Imbuídas, na maior parte, de inveterados
prejuízos; convencidas muitas vezes, por falsa educação,
da realidade das penas eternas que supunham estar
sofrendo, a situação se lhe tornava horrível e suscitava,
muitas vezes, pensamentos de raiva e de furor, uma
necessidade de vingança que procuravam saciar nos
homens fracos ou propensos ao mal.
A ação maléfica desses Espíritos aumentava por esse
mesmo fato ao abandono em que jaziam.
Retidos por seus fluidos grosseiros, na atmosfera
terrestre, em permanente contacto com os homens
acessíveis à sua influência e podendo fazer-lhes sentir a
sua própria, eles não visavam senão um fim: fazer os
homens compartilharem das torturas que acreditavam
sofrer.
Foi por isso que, durante toda a Idade Média, época
em que foram interditas as relações com o mundo
invisível, consideradas criminosas e passíveis da pena do
fogo, viram-se multiplicar, durante longos séculos, os
casos de obsessão, de possessão, e dilatar-se a perniciosa
influência dos Espíritos do mal. Em lugar de procurar
congraçá-los por meio de preces e benévolas exortações, a
Igreja não teve para eles senão anátemas e maldições; ela
não procede senão por exorcismos, recurso além do mais
impotente, cujo único resultado é irritar os maus
Espíritos, provocar-lhes réplicas ímpias ou cínicas, e os
atos indecentes ou odiosos, que sugerem às suas vítimas.
Perdendo de vista as puras tradições cristãs,
sufocando as vozes do mundo invisível com a ameaça da
fogueira e das torturas, a Igreja repudiou a grande lei de
solidariedade que une todas as criaturas de Deus em sua
ascensão comum, impondo às mais adiantadas a
obrigação de trabalhar por instruir e regenerar suas
irmãs inferiores. Durante séculos, privou ela o homem
dos socorros, dos esclarecimentos, dos inestimáveis
recursos que proporciona a comunhão dos Espíritos
elevados. Privou as gerações dessas permutas de ternura
com os amados entes que nos antecederam na outra vida,
permutas que são a alegria, a consolação suprema dos
aflitos, dos isolados naTerra, de todos os que padecem as
angústias da separação. Privou a Humanidade desse
fluxo de vida espiritual que desce dos espaços, retempera
as almas e reanima os tristes corações desfalecidos.
Assim se fez, pouco a pouco, a obscuridade nas
doutrinas e nos cérebros, velaram-se as mais cintilantes
verdades, surgiram pueris ou odiosas concepções, à
míngua de toda crítica e exame. E a dúvida se espalhou, o
espírito de cepticismo e negação invadiu o mundo.(130)
O Espiritismo vem restabelecer essa comunhão das
almas, que é fonte de energia e luz. Fazendo-nos conhecer
a vida futura sob aspectos verdadeiros, nos liga a todas as
potências do infinito e nos torna aptos para receber as
suas inspirações. Os ensinos dos Espíritos superiores, os
conselhos de nossos amigos do além-túmulo, exercem em
nós mais profunda impressão do que todas as exortações
lançadas do púlpito, ou as lições da mais elevada filosofia.
Fazendo-nos ver nos maus Espíritos almas
extraviadas, suscetíveis de retorno ao bem, fornecendo-nos os meios de sobre eles agir, de suavizar-lhes a sorte,
de preparar-lhes a reabilitação, o Espiritismo estanca um
antagonismo deplorável; torna impossível a reprodução
das cenas de possessão de que o passado está repleto.
Inspira ao homem a única atitude conveniente para com
os Espíritos elevados, que são seus mestres e guias e para
com os Espíritos inferiores, que são seus irmãos.
Prepara-o para preencher dignamente a tarefa que
lhe impõe a lei de solidariedade e caridade que liga todos
os seres. O Espiritismo, como se vê, exerce em todos os
meios benéfica influência.
No espaço, melhora o estado dos Espíritos inferiores,
permitindo aos homens esclarecidos colaborar em sua
reabilitação. Na Terra introduz, na ordem social,
poderosos elementos de moralização, conciliação e
progresso. Esclarecendo os obscuros problemas da
existência, oferece remédio eficaz contra as utopias
perigosas, contra as imoderadas ambições e as teorias
dissolventes. Aplaca os ódios, acalma as paixões violentas
e restabelece a disciplina moral, sem a qual não pode
haver entre os homens nem paz, nem harmonia.
Aos brados ameaçadores, às reivindicações
tumultuosas, que das turbas às vezes se levantam, aos
pregões à violência, às imprecações contra a sorte, vêm
responder a voz dos Espíritos: Homens, recolhei-vos em
vosso íntimo, aprendei a conhecer-vos, conhecendo as leis
que regem as sociedades e os mundos. Falais
constantemente dos vossos direitos; aprendei que possuís
unicamente os que vos conferem o vosso valor moral, o
vosso grau de adiantamento. Não invejeis a riqueza: ela
impõe grandes deveres e onerosas responsabilidades. Não
aspireis à vida de ociosidade e luxo; o trabalho e a
simplicidade são os melhores instrumentos do vosso
progresso e felicidade porvindoura. Sabei que tudo é
regulado com eqüidade, que nada é entregue às
contingências do acaso. A situação do homem, neste
mundo, é a que para si próprio preparou. Suportai, pois,
com paciência os sofrimentos necessários, escolhidos por
vós mesmos. A dor é um meio de elevação; o sofrimento
do presente repara os erros de outrora e engendra as
felicidades do futuro.