17/06/2020



Olá! 
Segue nosso estudo de quarta-feira às 19hs.
Livro Cristianismo e Espiritismo 
Capítulo XI - Renovação



Leitura inicial:

Compadece-te e auxilia


Se já conquistaste algum destaque no conhecimento ou na virtude, não menosprezes os companheiros que tropeçam ou que se arrastam na retaguarda. Ao invés disso, auxilia-os, quanto puderes.

Lembra-te de que aquele que se eleva por uma escada de mil degraus ainda é capaz de cair ao alcançar os novecentos e noventa e nove.

Fonte: livro Material de Construção, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel


Trecho do estudo:


 *

Toda a gente reconhece hoje a necessidade de uma educação moral, suscetível de regenerar a sociedade e de arrancar a França a um estado de decadência que, acentuando-se todos os dias, ameaça levá-la à queda e à ruína.  
Acreditou-se por muito tempo ter feito bastante, difundindo a instrução; mas a instrução sem o ensino moral é impotente e estéril. E preciso, antes de tudo, fazer da criança um homem - um homem que compreenda os seus deveres e conheça os seus direitos. Não basta desenvolver as inteligências, é necessário formar caracteres, fortalecer as almas e as consciências. Os conhecimentos devem ser completados por noções que esclareçam o futuro e indiquem o destino do ser. Para renovar uma sociedade, são necessários homens novos e melhores. Sem isso, todas as reformas econômicas, todas as combinações políticas, todos os progressos intelectuais serão insuficientes. A ordem social nunca valerá mais que o que nós próprios valemos. 
Essa educação necessária, porém, em que se firmará? Não será, decerto, em teorias negativas, pois foram elas que, em parte, originaram os males do presente. Menos ainda o será em dogmas caducos, doutrinas mortas, crenças todas superficiais e aparentes, que já não têm raiz nas almas. 
Não! A Humanidade não quer mais símbolos, nem lendas, nem mistérios, nem verdades veladas. Faz-se-lhe necessária a grande luz, a esplêndida irrupção do verdadeiro, que só o novo espiritualismo lhe pode fornecer. 
Só ele pode oferecer à moral uma base definitiva e dar ao homem moderno as necessárias forças para suportar dignamente as suas provações, discernir-lhes as causas, reagir contra elas, cumprir em tudo o seu dever. 
Com essa doutrina o homem sabe a que destino vai; seu caminhar torna-se mais firme e mais seguro. Ele sabe que a justiça governa o mundo, que tudo se encadeia, que cada um dos seus atos, mau ou bom, recairia sobre ele, através dos tempos. Nesse pensamento encontra um freio para o mal e um poderoso estimulo para o bem. 
As comunicações dos Espíritos, a comunhão dos vivos e dos mortos lhe patentearam, em sua realidade palpitante, o futuro de além-túmulo; ele sabe qual a sorte que lhe está reservada, quais as responsabilidades em que incorre, que predicados lhe cumpre adquirir para ser feliz. 
Efetivamente, desde que são conhecidas as condições da vida futura, o objetivo da existência se define, a norma da vida presente se estabelece, de modo imperioso, para todo espírito zeloso do próprio futuro. Ele compreende que não veio a este mundo para desfrutar prazeres frívolos, para satisfazer pueris e fúteis ambições, mas para desenvolver as suas faculdades superiores, corrigir defeitos, pôr em prática tudo o que pode contribuir para a sua elevação. 
0 estudo do Espiritismo ensina que a vida é combate pela luz; a luta e as provas só hão de cessar com a conquista do bem moral. Esse pensamento retempera as almas; prepara-as para as ações nobres e para os grandes empreendimentos. Com o senso do verdadeiro, desperta em nós a confiança. Identificados com tais preceitos, não mais temeremos a adversidade nem a morte. Com ânimo intrépido, através dos golpes vibrados pela sorte, avançaremos na senda que nos é traçada, sem fraqueza nem pesar abordaremos a outra margem, quando tiver soado a nossa hora. 
Por isso a influência moralizadora do Espiritismo penetra pouco a pouco nos mais diversos meios, dos mais cultos aos mais degradados e obscuros. 
Temos disso uma prova no seguinte fato: em 1888, os forçados do presídio de Tarragona (Espanha) enviavam ao Congresso Espírita Internacional de Barcelona um tocante memorial, em que faziam conhecer toda a extensão do conforto moral que lhes havia proporcionado o conhecimento do Espiritismo.(127) 
Pode-se também verificar, nos centros operários onde se tem divulgado o Espiritismo, uma sensível modificação dos costumes, uma resistência mais enérgica a todos os excessos em geral, e às teorias anarquistas em particular. Graças aos conselhos dos Espíritos, muitos hábitos viciosos têm sido coibidos e a paz se restabeleceu em muitos lares perturbados. Com a crença perdida, esses ensinos, em tais meios, têm feito renascer virtudes hoje em dia raras. 
Era edificante espetáculo ver, por exemplo, todos os domingos afluírem a Jumet (Bélgica), de todos os pontos da bacia de Charleroi, inúmeras famílias de mineiros espíritas. Reuniam-se numa ampla sala, onde, depois das preliminares usuais, escutavam, com recolhimento, as instruções que seus guias invisíveis lhes transmitiam pela boca dos médiuns manifestados. Era por intermédio de um deles, simples trabalhador mineiro, pouco letrado, a exprimir-se habitualmente em dialeto walão, que se manifestava o Espírito do cônego Xavier Mouls, sacerdote de grande valor e acrisoladas virtudes, a quem se deve a vulgarização do magnetismo e do Espiritismo nos corons(128) Mouls, depois de rudes provas e cruéis perseguições, deixara a Terra, mas seu Espírito continuou sempre a velar pelos queridos mineiros. Todos os domingos, tomava posse dos órgãos do seu médium favorito e, após uma citação dos sagrados textos, com eloqüência verdadeiramente sacerdotal desenvolvia, em presença de todos, em francês, durante uma hora, o tema escolhido, falando ao coração e à inteligência dos seus ouvintes, exortando-os ao cumprimento do dever, à submissão às leis divinas. 
Por isso, a impressão produzida naquela honrada gente era bem profunda. 0 mesmo se dá em todos os meios em que o Espiritismo é praticado com seriedade, pelos humildes deste mundo. 
Às vezes, Espíritos de mineiros, conhecidos dos assistentes e que com eles partilharam a mesma laboriosa existência, se lhes manifestavam. Eram facilmente reconhecidos por sua linguagem, por suas expressões familiares, por mil particularidades psicológicas que são outras tantas provas de identidade. Descreviam a vida no espaço, as sensações experimentadas na ocasião da morte, os sofrimentos morais resultantes de um passado culposo, de perniciosos hábitos contraídos, de pendores para a maledicência ou para o alcoolismo, e essas comovedoras descrições, cheias de animação e de originalidade, exerciam no auditório um grande efeito moral, uma impressão profunda e salutar. Daí uma sensível transformação nas idéias e nos costumes. 
Considerando esses fatos, bem numerosos já e que se multiplicam dia a dia, pode-se desde logo calcular o número considerável de pobres almas que o Espiritismo fortaleceu e consolou. Ele preservou do suicídio grande número de desesperados. Demonstrando-lhes a realidade da sobrevivência, restituiu-lhes a coragem e o apreço à vida. 
Não cometeremos exagero dizendo que milhares de seres humanos, pertencentes a diversas confissões religiosas, protestantes e católicas - e mesmo representantes oficiais dessas religiões a quem a morte de parentes e as provações haviam acabrunhado - encontraram na comunhão dos mortos, em lugar de uma indecisa fé, uma convicção positiva, uma inabalável confiança na imortalidade. 
Eis aqui o que um pastor protestante escrevia a Russell Wallace, acadêmico inglês, depois de haver comprovado a realidade dos fenômenos espíritas: 
"A morte é agora para mim uma coisa muito diferente do que foi outrora; depois de ter experimentado enorme acabrunhamento conseqüente à morte de meus filhos, sinto-me atualmente cheio de esperança e de alegria; sou outro homem"(129). 
A esses testemunhos, tão eloqüentes de simplicidade, poder-se-iam opor, é certo, as fraudes, os hábitos de embuste, o charlatanismo e a mediunidade venal, em uma palavra: todos os abusos originados, em certos casos, de uma péssima prática experimental do Espiritismo, e aos quais já nos referimos. 
Mas os que se entregam a semelhantes exercícios provam, por isso mesmo, a sua ignorância do Espiritismo. Se lhe compreendessem as leis e os preceitos, saberiam o que lhes reservam atos que são outras tantas profanações. Saberiam ao que se expõem os que fazem de uma coisa respeitável e sagrada, em que se não deve tocar senão com recolhimento e piedade, meio vulgar de exploração, um comércio vergonhoso. 
Lembrar-nos-ão, também, a influência dos maus Espíritos, as comunicações apócrifas, subscritas por nomes célebres, os casos de obsessão e possessão. Mas essas influências foram exercidas, esses fatos se produziram em todos os tempos; sempre os homens estiveram expostos - muitas vezes sem lhes conhecerem as causas - às más ações dos invisíveis de ordem inferior, e o estudo do Espiritismo vem precisamente fornecer os meios de afastar essas influências, de agir sobre os Espíritos malfazejos, de os encaminhar ao bem pela evocação e pela prece. 
A ação salutar do Espiritismo não se exerce, com efeito, unicamente sobre os homens; estende-se também aos habitantes do espaço. Mediante relações estabelecidas entre os dois mundos, os adeptos esclarecidos podem agir sobre os Espíritos inferiores e, com palavras de piedade e consolação, sábios conselhos, arrancá-los ao mal, ao ódio, ao desespero. 
E nisso há um dever imperioso, o dever de todo ser superior para com os seus irmãos retardatários, de um ou de outro mundo. É o dever do homem de bem, que o Espiritismo eleva à dignidade de educador e guia dos Espíritos ignorantes ou perversos, a ele enviados para serem instruídos, esclarecidos, melhorados. É, ao mesmo tempo, o mais seguro meio de sanear fluidicamente a atmosfera da Terra, o ambiente em que se agita e vive a Humanidade. 
E nesse intuito que todo círculo espírita de alguma importância consagra parte das suas sessões à instrução e moralização das almas culpadas. Graças à solicitude que lhes é testemunhada, às caritativas advertências e, sobretudo, às preces fervorosas que recaem sobre eles em magnéticos eflúvios, não é raro ver os mais endurecidos Espíritos reconciliados com melhores sentimentos, porem por si mesmos um termo às dolorosas obsessões com que perseguiam suas vítimas. 
Com suas errôneas concepções da vida de além túmulo, com sua doutrina da condenação eterna, obstou por muito tempo a Igreja o cumprimento desse dever. Ela havia interdito toda relação entre os Espíritos e os homens, cavando entre eles fundo abismo. Todos os que, ao deixarem a Terra, eram considerados condenados por seus crimes, viam interceptar-se, do lado dos homens, toda comunicação, dissipar-se toda possibilidade de aproximação e, conseqüentemente, toda esperança de socorro moral e de consolação. 
O mesmo acontecia do lado do céu, porque os Espíritos elevados, em virtude da natureza sutil do seu invólucro, dos seus fluidos etéreos pouco em harmonia com os dos Espíritos inferiores, encontram muito mais dificuldade do que os homens em comunicar com eles, em razão da diferença de afinidade. Todas as pobres almas errantes, torturadas pela angústia, assaltadas pelas recordações pungentes do passado, achavam-se abandonadas a si próprias, sem que um pensamento amigo, como um raio de sol, pudesse iluminar as suas trevas. Imbuídas, na maior parte, de inveterados prejuízos; convencidas muitas vezes, por falsa educação, da realidade das penas eternas que supunham estar sofrendo, a situação se lhe tornava horrível e suscitava, muitas vezes, pensamentos de raiva e de furor, uma necessidade de vingança que procuravam saciar nos homens fracos ou propensos ao mal. 
A ação maléfica desses Espíritos aumentava por esse mesmo fato ao abandono em que jaziam. 
Retidos por seus fluidos grosseiros, na atmosfera terrestre, em permanente contacto com os homens acessíveis à sua influência e podendo fazer-lhes sentir a sua própria, eles não visavam senão um fim: fazer os homens compartilharem das torturas que acreditavam sofrer. 
Foi por isso que, durante toda a Idade Média, época em que foram interditas as relações com o mundo invisível, consideradas criminosas e passíveis da pena do fogo, viram-se multiplicar, durante longos séculos, os casos de obsessão, de possessão, e dilatar-se a perniciosa influência dos Espíritos do mal. Em lugar de procurar congraçá-los por meio de preces e benévolas exortações, a Igreja não teve para eles senão anátemas e maldições; ela não procede senão por exorcismos, recurso além do mais impotente, cujo único resultado é irritar os maus Espíritos, provocar-lhes réplicas ímpias ou cínicas, e os atos indecentes ou odiosos, que sugerem às suas vítimas. 
Perdendo de vista as puras tradições cristãs, sufocando as vozes do mundo invisível com a ameaça da fogueira e das torturas, a Igreja repudiou a grande lei de solidariedade que une todas as criaturas de Deus em sua ascensão comum, impondo às mais adiantadas a obrigação de trabalhar por instruir e regenerar suas irmãs inferiores. Durante séculos, privou ela o homem dos socorros, dos esclarecimentos, dos inestimáveis recursos que proporciona a comunhão dos Espíritos elevados. Privou as gerações dessas permutas de ternura com os amados entes que nos antecederam na outra vida, permutas que são a alegria, a consolação suprema dos aflitos, dos isolados naTerra, de todos os que padecem as angústias da separação. Privou a Humanidade desse fluxo de vida espiritual que desce dos espaços, retempera as almas e reanima os tristes corações desfalecidos. 
Assim se fez, pouco a pouco, a obscuridade nas doutrinas e nos cérebros, velaram-se as mais cintilantes verdades, surgiram pueris ou odiosas concepções, à míngua de toda crítica e exame. E a dúvida se espalhou, o espírito de cepticismo e negação invadiu o mundo.(130) 
 O Espiritismo vem restabelecer essa comunhão das almas, que é fonte de energia e luz. Fazendo-nos conhecer a vida futura sob aspectos verdadeiros, nos liga a todas as potências do infinito e nos torna aptos para receber as suas inspirações. Os ensinos dos Espíritos superiores, os conselhos de nossos amigos do além-túmulo, exercem em nós mais profunda impressão do que todas as exortações lançadas do púlpito, ou as lições da mais elevada filosofia. 
Fazendo-nos ver nos maus Espíritos almas extraviadas, suscetíveis de retorno ao bem, fornecendo-nos os meios de sobre eles agir, de suavizar-lhes a sorte, de preparar-lhes a reabilitação, o Espiritismo estanca um antagonismo deplorável; torna impossível a reprodução das cenas de possessão de que o passado está repleto. Inspira ao homem a única atitude conveniente para com os Espíritos elevados, que são seus mestres e guias e para com os Espíritos inferiores, que são seus irmãos. 
 Prepara-o para preencher dignamente a tarefa que lhe impõe a lei de solidariedade e caridade que liga todos os seres. O Espiritismo, como se vê, exerce em todos os meios benéfica influência. 
No espaço, melhora o estado dos Espíritos inferiores, permitindo aos homens esclarecidos colaborar em sua reabilitação. Na Terra introduz, na ordem social, poderosos elementos de moralização, conciliação e progresso. Esclarecendo os obscuros problemas da existência, oferece remédio eficaz contra as utopias perigosas, contra as imoderadas ambições e as teorias dissolventes. Aplaca os ódios, acalma as paixões violentas e restabelece a disciplina moral, sem a qual não pode haver entre os homens nem paz, nem harmonia. 
Aos brados ameaçadores, às reivindicações tumultuosas, que das turbas às vezes se levantam, aos pregões à violência, às imprecações contra a sorte, vêm responder a voz dos Espíritos: Homens, recolhei-vos em vosso íntimo, aprendei a conhecer-vos, conhecendo as leis que regem as sociedades e os mundos. Falais constantemente dos vossos direitos; aprendei que possuís unicamente os que vos conferem o vosso valor moral, o vosso grau de adiantamento. Não invejeis a riqueza: ela impõe grandes deveres e onerosas responsabilidades. Não aspireis à vida de ociosidade e luxo; o trabalho e a simplicidade são os melhores instrumentos do vosso progresso e felicidade porvindoura. Sabei que tudo é regulado com eqüidade, que nada é entregue às contingências do acaso. A situação do homem, neste mundo, é a que para si próprio preparou. Suportai, pois, com paciência os sofrimentos necessários, escolhidos por vós mesmos. A dor é um meio de elevação; o sofrimento do presente repara os erros de outrora e engendra as felicidades do futuro.  


(continua...)