26/06/2020

Olá!

Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 hs.
Livro Ação e Reação - Capítulo 16 - 
Débito Aliviado 



Leitura inicial:


ROGATIVA DO SERVIDOR
 Emmanuel 

Jesus! 

Reconheço que a Tua vontade é sempre o melhor para cada um de nós; mas, se me permites algo pedir Te, rogo me auxilies a ser bênção para os outros.

Fonte: Livro Ação e Caminho, Francisco Cândido Xavier, pelos Espíritos Emmanuel e Andre Luiz

Trecho do estudo:

No dia seguinte, porém, grata surpresa visitou-nos o coração. 
Quando o relógio anunciou alta noite na extensa faixa planetária em que se mantinha o nosso domicílio, o Assistente veio buscar-nos, prestimoso. 
Demandaríamos à esfera carnal, mas, naquela hora, em companhia de Druso, o orientador da instituição. 
Regozijamo-nos, embora curiosos. 
Era a primeira vez que viajaríamos junto ao grande mentor que nos conquistara a mais ampla reverência. E, se é verdade que o privilégio nos alegrava, ao mesmo tempo indagávamos do motivo pelo qual se ausentaria ele da casa que não lhe dispensava a presença. 
Entretanto, não houve oportunidade para longas divagações. 
Em companhia de Druso, que se fazia seguir por Silas, por duas das irmãs altamente responsáveis em serviços da Mansão e por nós outros, utilizamo-nos do meio mais rápido para a excursão, cujo objetivo desconhecíamos, porquanto a maior autoridade nos trabalhos normais do instituto decerto não disporia de tempo para uma viagem que não fosse a mais curta possível. Grande era o meu desejo de provocar o verbo do Assistente para a conversação educativa em torno do problema que abordáramos na noite anterior; todavia, a presença de Druso como que nos inibia a disposição de ferir qualquer tema que não partisse dele mesmo, cuja dignidade não nos privava da expressão livre, mas nos infundia incoercível respeito. 
Foi assim que no trajeto ligeiro lhe ouvimos a conceituação oportuna e sábia, em torno de múltiplas questões de justiça e trabalho, admirando-lhe, cada vez mais, a cultura e a benevolência. Espantado, no entanto, reconheci que a nossa equipe estacionou à porta do lar de Adelino, que deixáramos na véspera. 
Dois auxiliares que conhecíamos de perto esperavam-nos no limiar. Depois de recíprocas saudações, um deles avançou para Druso e anunciou, reverente: 
– Diretor, o pequenino recém-nato estará conosco, dentro de meia hora. 
O grande mentor agradeceu e convidou-nos a acompanhá-lo. Na paisagem doméstica que nos era familiar, o relógio marcava duas horas e vinte minutos da madrugada. Atônitos, seguimos o orientador que tomara a vanguarda, penetrando o aposento em que Adelino, ao que nos foi permitido supor, começava a dormir. 
Druso acariciou-lhe a fronte por momentos e vimos Correia erguer-se do corpo de carne, qual se fora movido por alavancas magnéticas poderosas, caindo nos braços do grande orientador, à maneira de criança enternecida e feliz. 
– Meu amigo – disse-lhe Druso, entre grave e terno –, chegou a hora do reencontro... 
Correia começou a chorar, aterrorizado, sem conseguir desenfaixar-se-lhe dos braços acolhedores. 
– Oremos juntos – acrescentou o bondoso amigo. 
E, levantando os olhos para o Alto, sob nossa profunda atenção, Druso suplicou: 

– “Deus de Bondade, Pai de Infinito Amor, que criaste o tempo como incansável guardião de nossas almas destinadas ao Teu seio, fortalece-nos para a renovação necessária!... 
“Tu, que nos conheces os crimes e deserções, concede-nos a bênção das dores e das horas para redimi-los, unge-nos com o entendimento de Tuas leis, para que não repilamos as oportunidades do resgate! “Emprestaste-nos os tesouros do trabalho e do sofrimento, como favores de Tua misericórdia, para que nos consagremos à reabilitação dolorosa, mas justa... 
“Nós, os prisioneiros da culpa, somos também operários de nossa libertação, ao bafejo de Teu carinho. 
“Ó Pai, infunde-nos coragem para que nossas fraquezas sejam esquecidas, inflama em nosso espírito o entusiasmo santo do bem, para que o mal não nos apague os bons propósitos, e conduze-nos pelo carreiro da renunciação para que a nossa memória não se aparte de Ti!... 
“Que possamos orar como Jesus, o Divino Mestre que nos enviaste aos corações, a fim de que nos rendamos, de todo, aos Teus desígnios!...” 

Depois de leve pausa, repetiu em pranto a prece dominical: – “Pai Nosso, que estás nos Céus, santificado seja o Teu nome. 

“Venha a nós o Teu reino. “Faça-se a Tua vontade, assim na Terra como nos Céus. 
“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos devedores. “Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo mal, porque Teus são o reino, o poder e a glória para sempre. “Assim seja.”

Quando a sua voz emudeceu, profunda emotividade exercia sobre nós inexpressável domínio. Reconduzido ao veículo carnal, Adelino acordou em copiosas lágrimas... 
Reconhecia-se-lhe o júbilo intimo, se bem não pudesse guardar a consciência integral da comunhão conosco. 
Findos alguns minutos de expectação, que transcorreram céleres, escutamos lá fora o choro convulso de uma criança tenra... 
Enlaçado por Druso, o dono da casa ausentou-se do leito e, incontinenti, abriu a porta que comunicava o interior com a calçada externa, em cujas lajes, vigiado por amigos da Mansão, pobre recém-nato vagia aflitivamente. 
Tomado de surpresa, Correia ajoelhou-se, enquanto o grande orientador lhe dizia com segurança: – Adelino, eis o pai ofendido que, enjeitado pelo coração materno que ainda não mereceu, vem ao encontro do filho regenerado! 
Correia não lhe ouviu a palavra, na acústica da carne, mas registrou-a no templo mental, como apelo do amor celeste que lhe trazia ao coração mais uma criança abandonada e infeliz... Tomado de alegria, para ele inexplicável, abraçou o pequerrucho com espontâneo gesto de amor e, após conchegá-lo de encontro ao peito, voltou para dentro, gritando jubiloso: 
– Meu filho!... meu filho!... 
Silas, entre Hilário e eu, comunicou-nos, emocionado: 
– Martim Gaspar retorna à experiência física, asilando-se nos braços do filho que o desprezou. Não tivemos, contudo, qualquer ensejo a mais dilatada conversação. Druso, enxugando as lágrimas, advertiu-nos em voz alta, qual se estivesse falando para si mesmo:  
– Oxalá, quando estivermos de novo em pleno nevoeiro da carne, possamos, também nós, abrir o coração ao excelso amor de Jesus, para que não venhamos a falir nas provas necessárias!... 
E havia tanto recolhimento e tanta angústia naquele olhar que nos habituara ao mais doce enternecimento e ao mais profundo respeito que, de volta à Mansão, nenhum de nós ousou quebrar-lhe o doloroso e expressivo silêncio.