Olá!
Segue nosso estudo de quarta-feira às 20 hs.
O Livro dos Espíritos - Q 920 a 933
Felicidade e Infelicidade relativas
Leitura inicial:
2
Vê como vives
“E chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas e disselhes: negociai até que eu venha.” Jesus (Lucas, 19:13)
Com a precisa madureza do raciocínio, compreenderá o homem que toda a
sua existência é um grande conjunto de negócios espirituais e que a vida, em si, não
passa de ato religioso permanente, com vistas aos deveres divinos que nos prendem
a Deus.
Por enquanto, o mundo apenas exige testemunhos de fé das pessoas
indicadas por detentoras de mandato essencialmente religioso.
Os católicos romanos rodeiam de exigências os sacerdotes, desvirtuando
lhes o apostolado. Os protestantes, na maioria, atribuem aos ministros evangélicos as
obrigações mais completas do culto. Os espiritistas reclamam de doutrinadores e
médiuns as supremas demonstrações de caridade e pureza, como se a luz e a verdade
da Nova Revelação pudessem constituir exclusivo patrimônio de alguns cérebros
falíveis.
Urge considerar, porém, que o testemunho cristão, no campo transitório da
luta humana, é dever de todos os homens, indistintamente. Cada criatura foi chamada pela Providência a determinado setor de
trabalhos espirituais na Terra.
O comerciante está em negócios de suprimento e de fraternidade.
O administrador permanece em negócios de orientação, distribuição e
responsabilidade.
O servidor foi trazido a negócios de obediência e edificação.
As mães e os pais terrestres foram convocados a negócios de renúncia, exemplificação e devotamento.
O carpinteiro está fabricando colunas para o templo vivo do lar.
O cientista vive fornecendo equações de progresso que melhorem o bem estar do mundo. O cozinheiro trabalha para alimentar o operário e o sábio.
Todos os homens vivem na Obra de Deus, valendo-se dela para alcançarem, um dia, a grandeza divina. Usufrutuários de patrimônios que pertencem ao Pai, encontram-se no campo das oportunidades presentes, negociando com os valores do
Senhor.
Em razão desta verdade, meu amigo, vê o que fazes e não te esqueças de
subordinar teus desejos a Deus, nos negócios que por algum tempo te forem
confiados no mundo.
Fonte: Livro Vinha de Luz, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
Trecho do estudo:
FELICIDADE E INFELICIDADE RELATIVAS
920. Pode o homem gozar de completa felicidade na Terra?
“Não, por isso que a vida lhe foi dada como prova ou
expiação. Dele, porém, depende a suavização de seus
males e o ser tão feliz quanto possível na Terra.”
921. Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a
Humanidade estiver transformada. Mas, enquanto isso
se não verifica, poderá conseguir uma felicidade relativa?
“O homem é quase sempre o obreiro da sua própria
infelicidade. Praticando a lei de Deus, a muitos males se
forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande
quanto o comporte a sua existência grosseira.”
Aquele que se acha bem compenetrado de seu destino futuro não vê na vida corporal mais do que uma estação temporária, uma como parada momentânea em péssima hospedaria. Facilmente se consola de alguns aborrecimentos passageiros de uma
viagem que o levará a tanto melhor posição, quanto melhor tenha
cuidado dos preparativos para empreendê-la.
Já nesta vida somos punidos pelas infrações, que cometemos, das leis que regem a existência corpórea, sofrendo os males
conseqüentes dessas mesmas infrações e dos nossos próprios
excessos. Se, gradativamente, remontarmos à origem do que chamamos as nossas desgraças terrenas, veremos que, na maioria
dos casos, elas são a conseqüência de um primeiro afastamento
nosso do caminho reto. Desviando-nos deste, enveredamos por
outro, mau, e, de conseqüência em conseqüência, caímos na
desgraça.
922. A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um.
O que basta para a felicidade de um, constitui a desgraça de outro. Haverá, contudo, alguma soma de felicidade comum a todos os homens?
“Com relação à vida material, é a posse do necessário.
Com relação à vida moral, a consciência tranqüila e a fé no
futuro.”
923. O que para um é supérfluo não representará, para
outro, o necessário, e reciprocamente, de acordo com
as posições respectivas?
“Sim, conformemente às vossas idéias materiais, aos
vossos preconceitos, à vossa ambição e às vossas ridículas
extravagâncias, a que o futuro fará justiça, quando compreenderdes a verdade. Não há dúvida de que aquele que tinha
cinqüenta mil libras de renda, vendo-se reduzido a só ter
dez mil, se considera muito desgraçado, por não mais poder fazer a mesma figura, conservar o que chama a sua posição, ter cavalos, lacaios, satisfazer a todas as paixões,
etc. Acredita que lhe falta o necessário. Mas, francamente,
achas que seja digno de lástima, quando ao seu lado muitos
há, morrendo de fome e frio, sem um abrigo onde repousem
a cabeça? O homem criterioso, a fim de ser feliz, olha
sempre para baixo e não para cima, a não ser para
elevar sua alma ao infinito.” (715)
924. Há males que independem da maneira de proceder do
homem e que atingem mesmo os mais justos. Nenhum
meio terá ele de os evitar?
“Deve resignar-se e sofrê-los sem murmurar, se quer
progredir. Sempre, porém, lhe é dado haurir consolação na
própria consciência, que lhe proporciona a esperança de
melhor futuro, se fizer o que é preciso para obtê-lo.”
925. Por que favorece Deus, com os dons da riqueza, a
certos homens que não parecem tê-los merecido?
“Isso significa um favor aos olhos dos que apenas vêem
o presente. Mas, fica sabendo, a riqueza é, de ordinário,
prova mais perigosa do que a miséria.” (814 e seguintes)
926. Criando novas necessidades, a civilização não constitui uma fonte de novas aflições?
“Os males deste mundo estão na razão das necessidades factícias que vos criais. A muitos desenganos se poupa
nesta vida aquele que sabe restringir seus desejos e olha
sem inveja para o que esteja acima de si. O que menos
necessidades tem, esse o mais rico.
“Invejais os gozos dos que vos parecem os felizes do
mundo. Sabeis, porventura, o que lhes está reservado? Se
os seus gozos são todos pessoais, pertencem eles ao número dos egoístas: o reverso então virá. Deveis, de preferência, lastimá-los. Deus algumas vezes permite que o mau
prospere, mas a sua felicidade não é de causar inveja, porque com lágrimas amargas a pagará. Quando um justo é
infeliz, isso representa uma prova que lhe será levada em
conta, se a suportar com coragem. Lembrai-vos destas
palavras de Jesus: Bem-aventurados os que sofrem, pois
que serão consolados.”
927. Não há dúvida que, à felicidade, o supérfluo não é forçosamente indispensável, porém o mesmo não se dá
com o necessário. Ora, não será real a infelicidade
daqueles a quem falta o necessário?
“Verdadeiramente infeliz o homem só o é quando sofre
da falta do necessário à vida e à saúde do corpo. Todavia,
pode acontecer que essa privação seja de sua culpa. Então,
só tem que se queixar de si mesmo. Se for ocasionada por
outrem, a responsabilidade recairá sobre aquele que lhe
houver dado causa.”
928. Evidentemente, por meio da especialidade das aptidões naturais, Deus indica a nossa vocação neste
mundo. Muitos dos nossos males não advirão de não
seguirmos essa vocação?
“Assim é, de fato, e muitas vezes são os pais que, por
orgulho ou avareza, desviam seus filhos da senda que a
Natureza lhes traçou, comprometendo-lhes a felicidade, por
efeito desse desvio. Responderão por ele.”
a) — Acharíeis então justo que o filho de um homem
altamente colocado na sociedade fabricasse tamancos, por
exemplo, desde que para isso tivesse aptidão?
“Cumpre não cair no absurdo, nem exagerar coisa alguma: a civilização tem suas exigências. Por que haveria de
fabricar tamancos o filho de um homem altamente colocado, como dizes, se pode fazer outra coisa? Poderá sempre
tornar-se útil na medida de suas faculdades, desde que
não as aplique às avessas. Assim, por exemplo, em vez de
mau advogado, talvez desse bom mecânico, etc.”
No afastarem-se os homens da sua esfera intelectual reside
indubitavelmente uma das mais freqüentes causas de decepção. A
inaptidão para a carreira abraçada constitui fonte inesgotável de
reveses. Depois, o amor-próprio, sobrevindo a tudo isso, impede
que o que fracassou recorra a uma profissão mais humilde e lhe
mostra o suicídio como remédio para escapar ao que se lhe afigura humilhação. Se uma educação moral o houvesse colocado acima dos tolos preconceitos do orgulho, jamais se teria deixado apanhar desprevenido.
929. Pessoas há, que, baldas de todos os recursos, embora
no seu derredor reine a abundância, só têm diante de
si a perspectiva da morte. Que partido devem tomar?
Devem deixar-se morrer de fome?
“Nunca ninguém deve ter a idéia de deixar-se morrer
de fome. O homem acharia sempre meio de se alimentar, se
o orgulho não se colocasse entre a necessidade e o trabalho. Costuma-se dizer: ‘Não há ofício desprezível; o seu
estado não é o que desonra o homem.’ Isso, porém, cada
um diz para os outros e não para si.”
930. É evidente que, se não fossem os preconceitos sociais,
pelos quais se deixa o homem dominar, ele sempre
acharia um trabalho qualquer, que lhe proporcionasse meio de viver, embora deslocando-se da sua posição. Mas,
entre os que não têm preconceitos ou os põem de lado, não
há pessoas que se vêem na impossibilidade de prover às
suas necessidades, em conseqüência de moléstias
ou outras causas independentes da vontade delas?
“Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo
ninguém deve morrer de fome.”
Com uma organização social criteriosa e previdente, ao homem só por culpa sua pode faltar o necessário. Porém, suas próprias faltas são freqüentemente resultado do meio onde se acha
colocado. Quando praticar a lei de Deus, terá uma ordem social
fundada na justiça e na solidariedade e ele próprio também será
melhor. (793)
931. Por que são mais numerosas, na sociedade, as
classes sofredoras do que as felizes?
“Nenhuma é perfeitamente feliz e o que julgais ser a
felicidade muitas vezes oculta pungentes aflições. O sofrimento está por toda parte. Entretanto, para responder ao
teu pensamento, direi que as classes a que chamas sofredoras são mais numerosas, por ser a Terra lugar de expiação. Quando a houver transformado em morada do bem e
de Espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela
lhe será o paraíso terrestre.”
932. Por que, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus
sobrepuja a dos bons?
“Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem,
preponderarão.”
933.Assim como, quase sempre, é o homem o causador de
seus sofrimentos materiais, também o será de seus
sofrimentos morais?
“Mais ainda, porque os sofrimentos materiais algumas
vezes independem da vontade; mas, o orgulho ferido, a ambição frustrada, a ansiedade da avareza, a inveja, o ciúme,
todas as paixões, numa palavra, são torturas da alma.
“A inveja e o ciúme! Felizes os que desconhecem estes
dois vermes roedores! Para aquele que a inveja e o ciúme
atacam, não há calma, nem repouso possíveis. À sua frente, como fantasmas que lhe não dão tréguas e o perseguem
até durante o sono, se levantam os objetos de sua cobiça,
do seu ódio, do seu despeito. O invejoso e o ciumento vivem
ardendo em contínua febre. Será essa uma situação desejável e não compreendeis que, com as suas paixões, o homem cria para si mesmo suplícios voluntários, tornando-
-se-lhe a Terra verdadeiro inferno?”
Muitas expressões pintam energicamente o efeito de certas
paixões. Diz-se: ímpar de orgulho, morrer de inveja, secar de ciúme ou de despeito, não comer nem beber de ciúmes, etc. Este
quadro é sumamente real. Acontece até não ter o ciúme objeto
determinado. Há pessoas ciumentas, por natureza, de tudo o que
se eleva, de tudo o que sai da craveira vulgar, embora nenhum
interesse direto tenham, mas unicamente porque não podem conseguir outro tanto. Ofusca-as tudo o que lhes parece estar acima
do horizonte e, se constituíssem maioria na sociedade, trabalhariam para reduzir tudo ao nível em que se acham. É o ciúme
aliado à mediocridade.
De ordinário, o homem só é infeliz pela importância que liga
às coisas deste mundo. Fazem-lhe a infelicidade a vaidade, a
ambição e a cobiça desiludidas. Se se colocar fora do círculo acanhado da vida material, se elevar seus pensamentos para o infinito, que é seu destino, mesquinhas e pueris lhe parecerão as
vicissitudes da Humanidade, como o são as tristezas da criança
que se aflige pela perda de um brinquedo, que resumia a sua
felicidade suprema.
Aquele que só vê felicidade na satisfação do orgulho e dos
apetites grosseiros é infeliz, desde que não os pode satisfazer, ao
passo que aquele que nada pede ao supérfluo é feliz com os que
outros consideram calamidades.
Referimo-nos ao homem civilizado, porquanto, o selvagem,
sendo mais limitadas as suas necessidades, não tem os mesmos
motivos de cobiça e de angústias. Diversa é a sua maneira de ver
as coisas. Como civilizado, o homem raciocina sobre a sua infelicidade e a analisa. Por isso é que esta o fere. Mas, também, lhe é
facultado raciocinar sobre os meios de obter consolação e de
analisá-los. Essa consolação ele a encontra no sentimento
cristão, que lhe dá a esperança de melhor futuro, e no Espiritismo
que lhe dá a certeza desse futuro.