Olá!
Segue nosso estudo de sexta-feira às 20 hs.
O Livro dos Espíritos - Q 1010 a 1019
Cap II - Das penas e gozos futuros
Leitura inicial:
106
Há muita diferença
“E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que
tenho, isso te dou.”
(Atos, 3:6)
É justo recomendar muito cuidado aos que se interessam pelas vantagens da
política humana, reportando-se a Jesus e tentando explicar, pelo Evangelho, certos
absurdos em matéria de teorias sociais.
Quase sempre, a lei humana se dirige ao governado, nesta fórmula:
– “O
que tens me pertence.” O Cristianismo, porém, pela boca inspirada de Pedro, assevera aos ouvidos
do próximo: – “O que tenho, isso te dou.”
Já meditaste na grandeza do mundo, quando os homens estiverem
resolvidos a dar do que possuem para o edifício da evolução universal?
Nos serviços da caridade comum, nas instituições de benemerência pública,
raramente a criatura cede ao semelhante aquilo que lhe constitui propriedade
intrínseca.
Para o serviço real do bem eterno, fiar-se-á alguém nas posses perecíveis da
Terra, em caráter absoluto?
O homem generoso distribuirá dinheiro e utilidades com os necessitados do
seu caminho, entretanto, não fixará em si mesmo a luz e a alegria que nascem dessas
dádivas, se as não realizou com o sentimento do amor, que, no fundo, é a sua riqueza
imperecível e legítima. Cada individualidade traz consigo as qualidades nobres que já conquistou e
com que pode avançar sempre, no terreno das aquisições espirituais de ordem
superior.
Não olvides a palavra amorosa de Pedro e dá de ti mesmo, no esforço de
salvação, porquanto quem espera pelo ouro ou pela prata, a fim de contribuir nas
boas obras, em verdade ainda se encontra distante da possibilidade de ajudar a si
próprio.
Fonte: Livro Fonte Viva, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
Trecho do estudo:
RESSURREIÇÃO DA CARNE
1010. O dogma da ressurreição da carne será a consagração
da reencarnação ensinada pelos Espíritos?
“Como quereríeis que fosse de outro modo? Conforme
sucede com tantas outras, estas palavras só parecem despropositadas, no entender de algumas pessoas, porque as
tomam ao pé da letra. Levam, por isso, à incredulidade.
Dai-lhes uma interpretação lógica e os que chamais livres
pensadores as admitirão sem dificuldades, precisamente
pela razão de que refletem. Por que, não vos enganeis, esses livres pensadores o que mais pedem e desejam é crer.
Têm, como os outros, ou, talvez, mais que os outros, a sede
do futuro, mas não podem admitir o que a ciência desmente. A doutrina da pluralidade das existências é consentânea
com a justiça de Deus; só ela explica o que, sem ela, é
inexplicável. Como havíeis de pretender que o seu princípio
não estivesse na própria religião?”
1011. Assim, pelo dogma da ressurreição da carne, a
própria Igreja ensina a doutrina da reencarnação?
“É evidente. Demais, essa doutrina decorre de muitas
coisas que têm passado despercebidas e que dentro em
pouco se compreenderão neste sentido. Reconhecer-se-á
em breve que o Espiritismo ressalta a cada passo do texto
mesmo das Escrituras sagradas. Os Espíritos, portanto, não
vêm subverter a religião, como alguns o pretendem. Vêm,
ao contrário, confirmá-la, sancioná-la por provas
irrecusáveis. Como, porém, são chegados os tempos de não
mais empregarem linguagem figurada, eles se exprimem
sem alegorias e dão às coisas sentido claro e preciso, que
não possa estar sujeito a qualquer interpretação falsa. Eis
por que, daqui a algum tempo, muito maior será do que é
hoje o número de pessoas sinceramente religiosas e crentes.”
SÃO LUÍS
Efetivamente, a Ciência demonstra a impossibilidade da ressurreição, segundo a idéia vulgar. Se os despojos do corpo humano se conservassem homogêneos, embora dispersos e reduzidos
a pó, ainda se conceberia que pudessem reunir-se em dado momento. As coisas, porém, não se passam assim. O corpo é formado de elementos diversos: oxigênio, hidrogênio, azoto, carbono,
etc. Pela decomposição, esses elementos se dispersam, mas para
servir à formação de novos corpos, de tal sorte que uma mesma
molécula, de carbono, por exemplo, terá entrado na composição
de muitos milhares de corpos diferentes (falamos unicamente dos
corpos humanos, sem ter em conta os dos animais); que um indivíduo tem talvez em seu corpo moléculas que já pertenceram a
homens das primitivas idades do mundo; que essas mesmas
moléculas orgânicas que absorveis nos alimentos provêm, possivelmente, do corpo de tal outro indivíduo que conhecestes e assim por diante. Existindo em quantidade definida a matéria e
sendo indefinidas as suas combinações, como poderia cada um
daqueles corpos reconstituir-se com os mesmos elementos? Há
aí impossibilidade material. Racionalmente, pois, não se pode
admitir a ressurreição da carne, senão como uma figura simbólica do fenômeno da reencarnação. E, então, nada mais há que
aberre da razão, que esteja em contradição com os dados da
Ciência.
É exato que, segundo o dogma, essa ressurreição só no fim
dos tempos se dará, ao passo que, segundo a Doutrina Espírita,
ocorre todos os dias. Mas, nesse quadro do julgamento final, não
haverá uma grande e bela imagem a ocultar, sob o véu da alegoria, uma dessas verdades imutáveis, em presença das quais deixará de haver cépticos, desde que lhes seja restituída a verdadeira significação? Dignem-se de meditar a teoria espírita sobre o
futuro das almas e sobre a sorte que lhes cabe, por efeito das
diferentes provas que lhes cumpre sofrer, e verão que, exceção
feita da simultaneidade, o juízo que as condena ou absolve não é
uma ficção, como pensam os incrédulos. Notemos mais que aquela
teoria é a conseqüência natural da pluralidade dos mundos, hoje
perfeitamente admitida, enquanto que, segundo a doutrina do
juízo final, a Terra passa por ser o único mundo habitado.
Paraíso, Inferno e Purgatório
1012.0Haverá no Universo lugares circunscritos para as penas
e gozos dos Espíritos, segundo seus merecimentos?
“Já respondemos a esta pergunta. As penas e os gozos
são inerentes ao grau de perfeição dos Espíritos. Cada um
tira de si mesmo o princípio de sua felicidade ou de sua
desgraça. E como eles estão por toda parte, nenhum lugar
circunscrito ou fechado existe especialmente destinado a
uma ou outra coisa. Quanto aos encarnados, esses são mais
ou menos felizes ou desgraçados, conforme é mais ou
menos adiantado o mundo em que habitam.”
a) De acordo, então, com o que vindes de dizer, o inferno
e o paraíso não existem, tais como o homem os imagina?
“São simples alegorias: por toda parte há Espíritos ditosos e inditosos. Entretanto, conforme também já dissemos, os Espíritos de uma mesma ordem se reúnem por
simpatia; mas podem reunir-se onde queiram, quando são
perfeitos.”
A localização absoluta das regiões das penas e das recompensas só na imaginação do homem existe. Provém da sua tendência a materializar e circunscrever as coisas, cuja essência
infinita não lhe é possível compreender.
1013. Que se deve entender por purgatório?
“Dores físicas e morais: o tempo da expiação. Quase
sempre, na Terra é que fazeis o vosso purgatório e que Deus
vos obriga a expiar as vossas faltas.”
1 Vide Nota Especial nº 2, da Editora (FEB), à pág. 604.
O que o homem chama purgatório é igualmente uma alegoria, devendo-se entender como tal, não um lugar determinado,
porém o estado dos Espíritos imperfeitos, que se acham em
expiação até alcançarem a purificação completa, que os elevará à
categoria dos Espíritos bem-aventurados. Operando-se essa purificação por meio das diversas encarnações, o purgatório consiste nas provas da vida corporal.
1014. Como se explica que Espíritos, cuja superioridade se
revela na linguagem de que usam, tenham respondido
a pessoas muito sérias, a respeito do inferno e do
purgatório, de conformidade com as idéias correntes?
“É que falam uma linguagem que possa ser compreendida pelas pessoas que os interrogam. Quando estas se mostram imbuídas de certas idéias, eles evitam chocá-las muito bruscamente, a fim de lhes não ferir as convicções. Se
um Espírito dissesse a um muçulmano, sem precauções
oratórias, que Maomet não foi profeta, seria muito mal
acolhido.”
a) Concebe-se que assim procedam os Espíritos que
nos querem instruir. Como, porém, se explica que, interrogados acerca da situação em que se achavam, alguns Espíritos
tenham respondido que sofriam as torturas do inferno ou do
purgatório?
“Quando são inferiores e ainda não completamente
desmaterializados, os Espíritos conservam uma parte de
suas idéias terrenas e, para dar suas impressões, se servem dos termos que lhes são familiares. Acham-se num
meio que só imperfeitamente lhes permite sondar o futuro.
Essa a causa de alguns Espíritos errantes, ou recém-desencarnados, falarem como o fariam se estivessem encarnados. Inferno se pode traduzir por uma vida de provações,
extremamente dolorosa, com a incerteza de haver outra
melhor; purgatório, por uma vida também de provações, mas
com a consciência de melhor futuro. Quando experimentas
uma grande dor, não costumas dizer que sofres como um
danado? Tudo isso são apenas palavras e sempre ditas em
sentido figurado.”
1015. Que se deve entender por — uma alma a penar?
“Uma alma errante e sofredora, incerta de seu futuro e
à qual podeis proporcionar o alívio, que muitas vezes solicita, vindo comunicar-se convosco.” (664)
1016. Em que sentido se deve entender a palavra céu?
“Julgas que seja um lugar, como os campos Elíseos
dos antigos, onde todos os bons Espíritos estão promiscuamente aglomerados, sem outra preocupação que a de gozar, pela eternidade toda, de uma felicidade passiva? Não; é
o espaço universal; são os planetas, as estrelas e todos os
mundos superiores, onde os Espíritos gozam plenamente
de suas faculdades, sem as tribulações da vida material,
nem as angústias peculiares à inferioridade.”
1017. Alguns Espíritos disseram estar habitando o quarto, o
quinto céus, etc. Que queriam dizer com isso?
“Perguntando-lhes que céu habitam, é que formais idéia
de muitos céus dispostos como os andares de uma casa.
Eles, então, respondem de acordo com a vossa linguagem.
Mas, por estas palavras — quarto e quinto céus — exprimem diferentes graus de purificação e, por conseguinte, de felicidade. É exatamente como quando se pergunta a um
Espírito se está no inferno. Se for desgraçado, dirá — sim,
porque, para ele, inferno é sinônimo de sofrimento. Sabe,
porém, muito bem que não é uma fornalha. Um pagão diria
estar no Tártaro.”
O mesmo ocorre com outras expressões análogas, tais como:
cidade das flores, cidade dos eleitos, primeira, segunda, ou terceira esfera, etc., que apenas são alegorias usadas por alguns Espíritos, quer como figuras, quer, algumas vezes, por ignorância da
realidade das coisas, e até das mais simples noções científicas.
De acordo com a idéia restrita que se fazia outrora dos lugares das penas e das recompensas e, sobretudo, de acordo com a
opinião de que a Terra era o centro do Universo, de que o
firmamento formava uma abóbada e que havia uma região das
estrelas, o céu era situado no alto e o inferno embaixo. Daí as expressões: subir ao céu, estar no mais alto dos céus, ser precipitado nos infernos. Hoje, que a Ciência demonstrou ser a Terra apenas, entre tantos milhões de outros, um dos menores mundos,
sem importância especial; que traçou a história da sua formação
e lhe descreveu a constituição; que provou ser infinito o espaço,
não haver alto nem baixo no Universo, teve-se que renunciar a
situar o céu acima das nuvens e o inferno nos lugares inferiores.
Quanto ao purgatório, nenhum lugar lhe fora designado. Estava
reservado ao Espiritismo dar de tudo isso a explicação mais racional, mais grandiosa e, ao mesmo tempo, mais consoladora para
a Humanidade. Pode-se assim dizer que trazemos em nós mesmos o nosso inferno e o nosso paraíso. O purgatório, achamo-lo
na encarnação, nas vidas corporais ou físicas.
1018.Em que sentido se devem entender estas palavras do
Cristo: Meu reino não é deste mundo?
“Respondendo assim, o Cristo falava em sentido figurado. Queria dizer que o seu reinado se exerce unicamente sobre os corações puros e desinteressados. Ele está onde
quer que domine o amor do bem. Ávidos, porém, das coisas
deste mundo e apegados aos bens da Terra, os homens
com ele não estão.”
1019. Poderá jamais implantar-se na Terra o reinado do bem?
“O bem reinará na Terra quando, entre os Espíritos
que a vêm habitar, os bons predominarem, porque, então,
farão que aí reinem o amor e a justiça, fonte do bem e da
felicidade. Por meio do progresso moral e praticando as leis
de Deus é que o homem atrairá para a Terra os bons Espíritos e dela afastará os maus. Estes, porém, não a deixarão,
senão quando daí estejam banidos o orgulho e o egoísmo.
“Predita foi a transformação da Humanidade e vos
avizinhais do momento em que se dará, momento cuja chegada apressam todos os homens que auxiliam o progresso.
Essa transformação se verificará por meio da encarnação
de Espíritos melhores, que constituirão na Terra uma geração nova. Então, os Espíritos dos maus, que a morte vai
ceifando dia a dia, e todos os que tentem deter a marcha
das coisas serão daí excluídos, pois que viriam a estar deslocados entre os homens de bem, cuja felicidade perturbariam. Irão para mundos novos, menos adiantados, desempenhar missões penosas, trabalhando pelo seu próprio
adiantamento, ao mesmo tempo que trabalharão pelo de
seus irmãos ainda mais atrasados. Neste banimento de Espíritos da Terra transformada, não percebeis a sublime alegoria do Paraíso perdido e, na vinda do homem para a Terra
em semelhantes condições, trazendo em si o gérmen de
suas paixões e os vestígios da sua inferioridade primitiva, não descobris a não menos sublime alegoria do pecado
original? Considerado deste ponto de vista, o pecado original se prende à natureza ainda imperfeita do homem que,
assim, só é responsável por si mesmo, pelas suas próprias
faltas e não pelas de seus pais.
“Todos vós, homens de fé e de boa vontade, trabalhai,
portanto, com ânimo e zelo na grande obra da regeneração,
que colhereis pelo cêntuplo o grão que houverdes semeado.
Ai dos que fecham os olhos à luz! Preparam para si mesmos
longos séculos de trevas e decepções. Ai dos que fazem dos
bens deste mundo a fonte de todas as suas alegrias! Terão
que sofrer privações muito mais numerosas do que os gozos de que desfrutaram! Ai, sobretudo, dos egoístas! Não
acharão quem os ajude a carregar o fardo de suas misérias.”
SÃO LUÍS