26/05/2020

Olá amigos!
Ouçam abaixo trecho do livro Antes que o galo cante



***

Para que servissem de exemplo, as autoridades romanas deixavam os cadáveres expostos na cruz, à mercê de abutres e cães.

Na Palestina, essa prática horripilante contrariava as tradições religiosas, que recomendavam o sepultamento no mesmo dia do óbito, com um detalhe: antes do anoitecer.

Oportuno lembrar que para os judeus o dia começava ao escurecer. Como era sexta-feira, à tarde, em breves horas estariam no sábado, consagrado ao Senhor, em que era vedada qualquer atividade desvinculada do culto, até mesmo um sepultamento.

Assim, foi solicitado a Pilatos que mandasse quebrar as pernas dos condenados para apressar sua morte. Os soldados cumpriram a determinação junto aos dois ladrões.

Com Jesus, já morto, foi desnecessário. Um dos soldados, que a tradição denominou Longinos, por garantia, perfurou-o com uma lança, de lado, atingindo seu coração.

Consta que do ferimento teria saído sangue e água.

A suposta água provavelmente era o líquido amarelado, seroso, do pericárdio.

Veio um homem rico, chamado José, natural de Arimatéia.

Era ilustre membro do Sinédrio, homem bom e justo, que discordara de seus pares no funesto julgamento.

Foi dele a iniciativa de procurar Pilatos e solicitar autorização para o sepultamento.

O governador romano estranhou que o condenado já estivesse morto, apenas seis horas após a crucificação.

Confirmada a informação junto a um centurião, José foi atendido, regressando ao Calvário.

Chegou, também, Nicodemos, o fariseu que tivera o célebre encontro com Jesus, quando falaram sobre a reencarnação.

Trouxe perto de cem libras, o equivalente a trinta quilos, de uma mistura de mirra e aloé.

A mirra é uma resina retirada da árvore que leva o mesmo nome; o aloé, uma madeira aromática, triturada.

Misturadas, retardam a decomposição do cadáver.

Os dois homens fizeram a aplicação no corpo de Jesus e o envolveram em panos de linho, preparando-o para o sepultamento.

Nas proximidades havia um jardim. Nele, escavado na rocha, um sepulcro novo, pertencente a José de Arimatéia.

Decidiram sepultá-lo ali mesmo, sem delongas, após o que rolaram uma pedra enorme, fechando a abertura.

Maria Madalena e a outra Maria, mãe de Tiago,estiveram presentes, acompanhando o sepultamento.

Nesse ínterim, os sacerdotes reuniram-se com Pilatos e lhe disseram:

- Senhor, lembramo-nos do que o impostor disse em vida: “Depois de três dias ressuscitarei! ” Manda, pois, que o sepulcro seja guardado com segurança até o terceiro dia, para que não aconteça que os discípulos venham furtá-lo e depois digam ao povo: “Ele ressuscitou dos mortos! ” Esse embuste seria pior que o primeiro.

Pilatos concordou:

- Vós tendes a guarda. Ide e guardai-o como entendeis.

Rapidamente o sepulcro foi selado e soldados foram mobilizados para vigiá-lo.

Passado o sábado, ao raiar do domingo, fez-se sentir um tremor de terra, resultante da ação de um anjo, a remover a pedra que fechava o sepulcro.

Sentou-se depois sobre ela. Era luminoso como um relâmpago e brancas como a neve suas vestes.

Os guardas, apavorados, quedaram-se inertes, como se estivessem mortos.

***

Fonte: Livro Antes que o galo cante, Richard Simonetti