Olá!
Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 hs.
Livro Ação e Reação - Capítulo 15 -
Anotações oportunas
leitura inicial:
XXVIII
Compadece-te dos errados.
Guarda a certeza de que Deus te permite errar
A fim de que reconheças a tua fraqueza e imperfeição.
Nem todos os errados possuem consciência do que fazem.
Lembra-te dos momentos em que te desequilibras sem querer.
Fonte: Livro Compaixão, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
Trecho do estudo:
15
Anotações oportunas
"Os problemas do lar de Ildeu ofereciam-nos ensanchas a preciosos estudos no terreno puro da alma. Em razão disso, de volta à
Mansão em companhia do Assistente, valíamo-nos do tempo para
buscar-lhe a opinião clara e sensata, acerca de momentosas questões que nos esfervilhavam a mente.
Hilário foi o primeiro a quebrar a longa pausa, indagando:
– Meu caro Silas, não temos ali, no caso de Roberto e Marcela, um quadro autêntico do chamado complexo de Édipo, que a
psicanálise freudiana pretende encontrar na psicologia infantil?
Nosso amigo sorriu e obtemperou:
– O grande médico austríaco poderia ter atingido respeitáveis
culminâncias do espírito, se houvesse descerrado uma porta aos
estudos da lei de reencarnação. Infelizmente, porém, atento à
pragmática científica, não teve bastante coragem para ultrapassar
a observação do campo fisiológico, rigidamente considerado,
imobilizando-se, por isso, nas zonas obscuras da inconsciência,
em que o “eu” enclausura as experiências que realiza, automatizando os próprios impulsos. Marcela e Roberto não poderiam
trair, na condição de mãe e filho, as simpatias carreadas do pretérito ao presente, tanto quanto Ildeu, Sônia e Márcia não conseguiriam fugir à predileção que os ligava desde o passado. O problema
é de afinidade em sua estrutura essencial. Afinidade com dívidas,
exigindo resgate.
Lembrei-me, então, dos exageros que podemos atribuir à teoria da libido, a energia através da qual, segundo a escola de Freud,
o instinto sexual se revela na mente, e teci alguns comentários
alusivos ao assunto, detendo-me, de maneira especial, na amnésia infantil, a que o famoso cientista empresta a maior importância
para explicar as operações do inconsciente.
Silas, atencioso, completou sem hesitar:
– Bastaria compreender na encarnação terrestre um Espírito
usando um corpo para entender que as amnésias decorrem naturalmente da inadaptação temporária entre a alma e o instrumento
de que se utiliza. Na infância, o “ego”, em processo de materialização, externará reminiscências e opiniões, simpatias e desafetos,
através de manifestações instintivas, a lhe entremostrarem o passado, do qual mal se lembrará no futuro próximo, de vez que
estará movimentando a máquina cerebral em desenvolvimento,
máquina essa que deverá servi-lo, tão-só por algum tempo e para
determinados fins, ocorrendo idêntica situação na idade provecta,
quando as palavras como que se desprendem dos quadros da
memória, traduzindo alterações do órgão do pensamento, modificado por desgaste.
– E a tese da libido como fome sexual característica em todos
os viventes? – insisti, curioso.
– Freud – considerou Silas – deve ser louvado pelo desassombro com que empreendeu a viagem aos mais recônditos labirintos da alma humana, para descobrir as chagas do sentimento e
diagnosticá-las com o discernimento possível. Entretanto, não
pode ser rigorosamente aprovado, quando pretendeu, de certo
modo, explicar o campo emotivo das criaturas pela medida absoluta das sensações eróticas.
Confiou-se o Assistente a ligeira pausa e prosseguiu:
– Criação, vida e sexo são temas que se identificam essencialmente entre si, perdendo-se em suas origens no seio da Sabedoria Divina. Por isso, estamos longe de padronizá-los em definições técnicas, inamovíveis. Não podemos, dessa forma, limitar às
loucuras humanas a função do sexo, pois seríamos tão insensatos quanto alguém que pretendesse estudar o Sol apenas por uma
réstia de luz filtrada pela fenda de um telhado. Examinado como
força atuante da vida, à face da criação incessante, o sexo, a rigor,
palpitará em tudo, desde a comunhão dos princípios subatômicos
à atração dos astros, porque, então, expressará força de amor,
gerada pelo amor infinito de Deus. O ajuste entre o oxigênio e o
hidrogênio decorrerá desse princípio, no plano químico, formando
a água de que se alimenta a Natureza. O movimento harmonioso
do Sol, equilibrando a família dos mundos, na imensidade sideral,
além de nutrir-lhes a existência, resultará dessa mesma energia no
plano cósmico. E a própria influência do Cristo, que se deixou
crucificar em devotamento a nós outros, seus tutelados na Terra,
para fecundar de luz a nossa mente, com vistas à divina ressurreição, não será, na essência, esse mesmo princípio, estampado no
mais alto teor de sublimação? O sexo, pois, não poderia ausentar-se do reino espiritual que nos é conhecido, por ser de substância
mental, determinando mentalmente as formas em que se expressa.
Representa, desse modo, não uma energia fixa da Natureza, trabalhando a alma, e sim uma energia variável da alma, com que ela
trabalha a Natureza em que evolve, aprimorando a si mesma.
Apreciemo-la, assim, como sendo uma força do Criador na criatura, destinada a expandir-se em obras de amor e luz que enriqueçam a vida, igualmente condicionada à lei de responsabilidade,
que nos rege os destinos.
Hilário, que ouvia atenciosamente as elucidações expostas,
considerou:
– Semelhante argumentação dá-nos a entender que a força sexual não se destina simplesmente a gerar filhos...
Não me calou agradavelmente a ponderação que julguei de
todo inoportuna, ante a elevação e a transcendentalidade a que
Silas projetara o tema em estudo, mas o Assistente sorriu bem
humorado e respondeu:
– Hilário, meu amigo, na Terra, é vulgar a fixação do magno
assunto no equipamento genital do homem e da mulher. Contudo,
é preciso não esquecer que mencionamos o sexo como força de
amor nas bases da vida, totalizando a glória da Criação. Foi ainda
Segismundo Freud quem definiu o objetivo do impulso sexual
como procura de prazer... Sim, a assertiva é respeitável, em nos
reportando às experiências primárias do Espírito, no mundo físico; entretanto, é indispensável dilatar a definição para arredá-la
do campo erótico em que foi circunscrita. Pela energia criadora do
amor que assegura a estabilidade de todo o Universo, a alma, em
se aperfeiçoando, busca sempre os prazeres mais nobres. Temos,
assim, o prazer de ajudar, de descobrir, de purificar, de redimir,
de iluminar, de estudar, de aprender, de elevar, de construir e toda
uma infinidade de prazeres, condizentes com os mais santificantes
estágios do Espírito. Encontramos, desse modo, almas que se
amam profundamente, produzindo inestimáveis valores para o
engrandecimento do mundo, sem jamais se tocarem umas nas
outras, do ponto de vista fisiológico, embora permutem constantemente os raios quintessenciados do amor para a edificação das
obras a que se afeiçoam. Sem dúvida, o lar digno, santuário em
que a vida se manifesta, na formação de corpos abençoados para a
experiência da alma, é uma instituição venerável, sobre a qual se
concentram as atenções da Providência Divina; entretanto, junto
dele, dispomos igualmente das associações de seres que se aglutinam uns aos outros, nos sentimentos mais puros, em favor das
obras da caridade e da educação. As faculdades do amor geram
formas sublimes para a encarnação das almas na Terra, mas também criam os tesouros da arte, as riquezas da indústria, as maravilhas da Ciência, as fulgurações do progresso... E ninguém amealha os patrimônios da evolução a sós. Em todas as empresas do
acrisolamento moral, surpreendemos Espíritos afins que se buscam, reunindo as possibilidades que lhes são próprias, na realização de empreendimentos que levantam a Humanidade, da Terra
para o Céu...
Após breve pausa, acentuou:
– O próprio Cristo, Nosso Senhor, para cimentar os alicerces
do seu apostolado de redenção, chamou a si os companheiros da
Boa Nova que, embora a princípio não lhe compreendessem a
excelsitude, dele se fizeram apóstolos intimoratos, selando com o
Mestre Inesquecível um contrato de coração para coração, por
intermédio do qual lançaram os fundamentos do Reino de Deus na
Terra, numa obra de abnegação e sacrifício que constitui, até hoje,
o mais arrojado cometimento do amor no mundo. "
(continua...)