Olá!
Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 hs.
Livro Ação e Reação - Capítulo 14 -
Resgate interrompido (continuação)
Leitura inicial:
15
Tesouro
Tanto quanto desejes,
Podes ter um tesouro.
Uma frase de paz,
Um aperto de mão;
Algum pequeno auxílio,
A desculpa espontânea;
Um sorriso fraterno,
O minuto de apoio;
A incompreensão que esqueces,
A queixa que não dizes...
Possuis tudo o que dás
Pelas notas de Deus.
Verifique a tua agenda e trace as tuas metas para hoje, de modo
a não perder tempo
Emmanuel
Fonte: Livro Página de Fé, Francisco Cândido Xavier, Espíritos Diversos
Trecho do estudo:
Retiramo-nos, em seguida.
Foi então que nossas perguntas
explodiram, insopitáveis:
– Por que Marcela, meiga e honesta, era odiada pelo esposo,
assim tanto? Por que a preferência de Ildeu pelas filhinhas, com
tanto desdém pelo primogênito? E a separação em perspectiva?
Seria justo procurar o nosso mentor fortalecer aquela mãezinha
desventurada para o desquite, ao invés de incentivá-la à recuperação do amor e do devotamento do companheiro?
O Assistente sorriu com manifesto desencanto e obtemperou:
– Há nas anotações do Apóstolo Mateus (9) certa passagem, na
qual afirma Jesus que o divórcio na Terra é permitido a nós outros
pela dureza dos nossos corações. Aqui, a medida deve ser facultada à maneira de medicação violenta em casos desesperadores de
desarmonia orgânica. Na febre alta ou no tumor maligno, por
exemplo, a intervenção exige métodos drásticos, a fim de que a
crise de sofrimento não culmine com a loucura ou com a morte
extemporânea. Nos problemas matrimoniais, agravados pela
defecção de um dos cônjuges ou mesmo pela deserção de ambos
do dever a cumprir, o divórcio é compreensível como providência
contra o crime, seja ele o assassínio ou o suicídio... Entretanto,
assim como o choque operatório para o tumor e a quinina para
certas febres são recursos de emergência, sem capacidade de
liquidar as causas profundas da enfermidade, as quais prosseguem
reclamando tratamento longo e laborioso, o divórcio não soluciona o problema da redenção, porque ninguém se reúne no casamento humano ou nos empreendimentos de elevação espiritual, no
mundo, sem o vínculo do passado, e esse vínculo, quase sempre,
significa débito no Espírito ou compromisso vivo e delongado no
tempo. O homem ou a mulher, desse modo, podem provocar o
divórcio e obtê-lo, como sendo o menor dos piores males que lhes
possam acontecer... Ainda assim, não se liberam da dívida em que
se acham incursos, cabendo-lhes voltar ao pagamento respectivo,
tão logo seja oportuno.
E porque as nossas muitas interrogações pairavam no ar, o
generoso orientador prosseguiu:
– No caso de Ildeu e Marcela, já meticulosamente estudado
em nossa Mansão, temos duas almas em processo de reajuste, há
vários séculos. Para não nos perdermos em compridas perquirições, convém lembrar tão-somente algumas notas da existência
última, em que ambos, como marido e mulher, aqui mesmo no
Brasil, se entregaram a difíceis experiências. Ele, depois de casado, continuou irrequieto, entre a irresponsabilidade e a aventura,
nas quais seduziu duas moças, filhas do mesmo lar. Primeiramente, enganou uma delas, abandonando a esposa que a Lei lhe havia confiado. Passando, porém, ao convívio da segunda companheira,
que patrocinava o desenvolvimento da irmãzinha menor, que os
pais, à beira do túmulo, lhe haviam entregue, Ildeu não vacilou
em aguardar-lhe a floração juvenil para submetê-la igualmente
aos seus caprichos inconfessáveis. Entrando em franca decadência
moral, precipitou-as no meretrício, em cujas correntes de sombra
as pobres criaturas se viram quais andorinhas aprisionadas na
lama... Abandonada a esposa, que era então a mesma companheira
de agora, a sofredora mulher, incapaz de sofrear-se no insulamento, após cinco anos de expectativa e solidão, aceitou a companhia
de um homem digno e trabalhador, com quem passou maritalmente a viver... Os dias correram sobre os dias e, quando Ildeu, ainda
relativamente moço, mas integralmente vencido pela intemperança e pelo deboche, regressou doente à cidade em que se havia
consorciado, buscando o aconchego da esposa, cuja fidelidade
carinhosa ele mesmo destruíra, não mais na ânsia de ajudá-la ou
de amá-la e sim no propósito de escravizá-la, por enfermeira de
seu corpo abatido, eis que a reencontra, feliz, junto de outro...
Movido de incompreensível ciúme, de vez que renegara o lar sem
motivo justo, não suporta ver a alegria da companheira, matandolhe o eleito do coração. Dentro em breve, todo o grupo que Ildeu
infelicitou se reúne, inclusive ele próprio, na Esfera Espiritual,
onde a justiça da Lei sopesa os méritos e deméritos de cada um...
E, com o amparo de Abnegados Benfeitores, regressam as personagens do drama doloroso ao resgate na reencarnação, com Ildeu
à frente das responsabilidades, por ter maiores culpas. Marcela
concorda em auxiliá-lo e retoma o posto antigo, ajudando-o na
condição de esposa fiel. Roberto é o companheiro assassinado que
volta, do qual Ildeu é devedor da própria vida. Sônia e Márcia são
as duas irmãs que ele arrojou ao vício e à delinqüência, dele esperando hoje, como filhas queridas, o necessário auxílio para a
reabilitação.
O Assistente fez pequena pausa e acrescentou:
– Vocês não ignoram, porém, que a reencarnação no resgate é
também recapitulação perfeita. Se não trabalhamos por nossa
intensa e radical renovação para o bem, através do estudo edificante que nos educa o cérebro e do amor ao próximo que nos
aperfeiçoa o sentimento, somos tentados hoje pelas nossas fraquezas, como éramos tentados ainda ontem, porquanto nada fizemos
pelas suprimir, passando habitualmente a reincidir nas mesmas
faltas. Segundo observam, Ildeu, displicente e surdo aos avisos da
vida, é o mesmo homem do passado, buscando a suposta felicidade, fora do templo doméstico, desprezando a esposa, querendo
estremecidamente às filhinhas nas quais revê as companheiras do
pretérito e nada faz por perder a instintiva aversão pelo filhinho,
em cujo contacto adivinha o antigo rival, que lhe foi vitima da
fúria arrasadora.
– Mas – indagou Hilário –, se ele não encontra em Marcela o
amor integral, por que razão, ainda agora, na presente romagem
terrena, a teria desposado? a afetividade juvenil não é sinal de
confiança e ternura?
– Sim – encareceu Silas, bondoso –, é preciso considerar que
nos achamos ainda longe de adquirir o verdadeiro amor, puro e
sublime. Nosso amor é, por enquanto, uma aspiração de eternidade encravada no egoísmo e na ilusão, na fome de prazer e na
egolatria sistemática, que fantasiamos como sendo a celeste virtude. Por isso mesmo, a nossa afetividade terrestre, quando na
primavera dos primeiros sonhos da experiência física, pode ser
um conjunto de estados mentais, consubstanciando simplesmente
os nossos desejos. E nossos desejos se alteram todos os dias... Em
razão disso, recordemos o imperativo da recapitulação. Nessa ou
naquela idade física, o homem e a mulher, com a supervisão da
Lei que nos governa os destinos, encontram as pessoas e as situações de que necessitam para superarem as provas do caminho,
provas indispensáveis ao burilamento espiritual de que não prescindem para a justa ascensão às Esferas Mais Altas. Assim é que
somos atraídos por determinadas almas e por determinadas questões, nem sempre porque as estimemos em sentido profundo, mas
sim porque o passado a elas nos reúne, a fim de que por elas e
com elas venhamos a adquirir a experiência necessária à assimilação do verdadeiro amor e da verdadeira sabedoria. É por isso que
a maioria dos consórcios humanos, por enquanto, constituem
ligações de aprendizado e sacrifício, em que, muitas vezes, as
criaturas se querem mutuamente e mutuamente sofrem pavorosos
conflitos na convivência uma das outras. Nesses embates, alinham-se os recursos da redenção. Quem for mais claro e mais
exato no cumprimento da Lei que ordena seja mantido o bem de
todos, acima de tudo, mais ampla liberdade encontra para a vida
eterna. Quanto mais sacrifício com serviço incessante pela felicidade dos corações que o Senhor nos confia, mais elevada ascensão à glória do Amor Divino.
– Então – aduzi –, nosso amigo Ildeu estará interrompendo o
pagamento da dívida em que se empenhou...
– Isso mesmo.
– E Marcela? – perguntou Hilário – garantirá por ele a sustentação do lar?
– É o que esperamos e tudo faremos para auxiliá-la, já que o
esposo, mais uma vez, faliu nos contratos assumidos.
– Não será lícito contar, matematicamente, com o heroísmo
dela à frente da casa? – insistiu meu colega.
– Quem poderá medir a resistência dos outros? falou Silas,
sorrindo. – Marcela é senhora de si e, com a deserção do esposo, é
chamada a encargos duplos. Desejamos sinceramente que ela seja
forte e se sobreponha às vicissitudes da existência, mas se resvalar
para delituosos desequilíbrios, que lhe comprometam a estabilidade doméstica, na qual os filhos devem crescer para o bem, mais complicado e mais extenso se fará o débito de Ildeu, porquanto as
falhas que ela venha a cometer serão atenuadas pelo injustificável
abandono em que a lançou o marido. Quem se faz responsável por
nossas quedas, experimenta em si mesmo a ampliação dos próprios crimes.
Hilário meditou... meditou... e disse, em seguida:
– Imaginemos, porém, que Marcela e os filhinhos consigam
vencer a crise, esmagando com o tempo as necessidades de que
são agora vítimas... Figuremo-los terminando a atual reencarnação, com plena vitória moral em confronto com Ildeu, retardado,
impenitente, devedor... Se a esposa e os filhos, então definitivamente guindados à luz, dispensarem qualquer contacto com a
sombra, em franca ascensão às linhas superiores da vida, a quem
pagará Ildeu o montante das dívidas em que se agrava?
Silas estampou significativo gesto facial e explicou:
– Embora estejamos todos, uns diante dos outros, em processo reparador de culpas recíprocas, em verdade, antes de tudo,
somos devedores da Lei em nossas consciências. Fazendo mal aos
outros, praticamos o mal contra nós mesmos. Caso Marcela e os
filhinhos se ergam, um dia, a plenos céus, e na hipótese de guardar-se nosso amigo mergulhado na Terra, vê-los-á Ildeu na própria consciência, sofredores e tristes, quais os tornou, atormentado
pelas recordações que traçou para si mesmo e pagará em serviço a
outras almas da senda evolutiva o débito que lhe onera o Espírito,
de vez que, ferindo os outros, na essência estamos ferindo a obra
de Deus, de cujas leis soberanas nos fazemos réus infelizes, reclamando quitação e reajuste.
– Isso quer dizer...
A palavra de Hilário, porém, foi cortada pela observação do
Assistente que, em lhe surpreendendo as idéias, falou firme:
– Isso quer dizer que, se Ildeu, mais tarde, desejar reunir-se a
Marcela, Roberto, Sônia e Márcia, então redimidos nas Esferas
Superiores, deverá possuir uma consciência tão dignificada e
sublime quanto a deles, de modo a não se envergonhar de si mesmo, considerando-se a probabilidade de triunfo para a esposa e os
filhinhos nas provas árduas que o porvir lhes reserva.
– Deus meu!... – clamou Hilário, triste – quanto tempo então
para uma empresa dessas!... E quanta dificuldade para o reencontro, se os entes queridos não se dispuserem a esperar!...
– Sim – confirmou Silas –, quem se retarda por gosto não pode queixar-se de quem avança, “A cada um segundo as suas obras”, ensinou o Divino Orientador, e ninguém no Universo conseguirá fugir à Lei.
Eu e Hilário, profundamente tocados pela lição, calamo-nos,
confundidos, para orar e pensar.
(9) Mateus, 19:7-8. (Nota do Autor espiritual.)
Trecho de O Evangelho Segundo Espiritismo mencionado no estudo:
"Os Espíritos maus pululam em torno da Terra, em virtude da inferioridade moral de seus habitantes. A ação malfazeja que eles desenvolvem
faz parte dos flagelos com que a Humanidade se vê a braços neste mundo.
A obsessão, como as enfermidades e todas as tribulações da vida, deve ser
considerada prova ou expiação e como tal aceita."
O Evangelho Segundo Espiritismo, Capítulo XXVIII, 81.