08/05/2020

Olá!

Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 hs.
Livro Ação e Reação - Capítulo 14 - 
Resgate interrompido (continuação)




Leitura inicial:

VIII

Vive sempre em paz.

Uma consciência tranquila, que não traz remorsos de atos passados, nem teme ações futuras, gera harmonia.

Nada de fora perturba um coração tranquilo, que pulsa ao compasso do dever retamente cumprido.

A paz merece todo o teu esforço para consegui-la.

Fonte: Livro "Vida Feliz" - Espírito Joanna de Ângelis - Divaldo Franco


Trecho do estudo: 


Achávamo-nos, certa feita, em atividade assistencial ao pé de alguns doentes, quando o irmão em serviço veio até nós, comunicando, inquieto, a precipitação dos acontecimentos.

De alma aturdida pela influência de homicidas desencarnados que lhe haviam percebido os pensamentos expressos, intentaria Ildeu aniquilar a companheira naquela mesma noite.

Silas não vacilou. 

Demandamos, de imediato, a casa singela em que se reunia a equipe doméstica atormentada.

Dispondo da extensa autoridade de que se achava investido, o nosso orientador, empregando o concurso de entidades amigas, em rotina de trabalho nas vizinhanças, inicialmente baniu os alcoólatras e delinquentes desencarnados que ali se acolhiam.

Apesar da providência, o plano infernal na cabeça de nosso pobre amigo evidenciava-se integralmente maduro.

A madrugada ia alta. 

Com o coração precipite, relanceando o olhar medroso pelas paredes nuas do gabinete em que examinava o pente de uma pistola qual se nos adivinhasse a presença, o chefe da família revelava-se disposto à consumação do ato execrável.

Revestindo-lhe todo o cérebro, surgia a cena do assassínio, calculadamente prevista, movimentando-se em surpreendente sucessão de imagens...

Oh! se as criaturas encarnadas tivessem consciência de como se lhes exteriorizam as ideias, certamente saberiam guardar-se contra o império do crime!

O irrefletido pai pensava demandar o aposento dos filhos, para trancá-los à chave, de maneira a evitar-lhes o testemunho, quando Silas, de improviso, avançou para o leito das meninas e, utilizando os recursos magnéticos de que dispunha, chamou a pequena Márcia, em corpo espiritual, a rápida contemplação dos pensamentos paternos. 

A criança, em comunhão com o quadro terrível, experimentou tremendo choque e retornou, de pronto, ao veículo físico, bradando, desvairada, como quem se furtasse ao domínio de asfixiante pesadelo:

– Papai!... Paizinho! Não mate! Não mate!...

Ildeu, a esse tempo, já se encontrava à porta, sustendo a arma na destra e tentando manobrar a fechadura com a mão livre.

Os gritos da menina ecoaram em toda a casa, provocando alarido.

Marcela, num átimo, pôs-se de pé, surpreendendo o marido ao pé da filha, e, junto deles, o revólver augurando maus presságios. 

A mulher bondosa e incapaz de suspeitar das intenções dele, recolheu cautelosamente a arma e, crendo que o esposo pretendera suicidar-se, implorou em pranto:

– Oh! Ildeu, não te mates! Jesus é testemunha de que tenho cumprido retamente todos os meus deveres... Não quero o remorso de haver cooperado para semelhante desatino, que te lançaria entre os réprobos das leis de Deus!... Procede como quiseres, mas não te despenhes no suicídio. Se é de tua vontade, monta nova casa em que vivas com a mulher que te faça feliz... Consagrarei minha existência aos nossos filhos. Trabalharei, conquistando o pão de nossa casa com o suor de meu rosto... entretanto, suplico, não te mates!...

A generosa atitude daquela mulher sensibilizava-nos até as lágrimas.

O próprio Ildeu, não obstante o sentimento empedernido, sentia-se tocado de piedade, agradecendo, no íntimo, a versão que a esposa, digna e abnegada, oferecia aos acontecimentos, cuja direção não conseguira prever.

E, encontrando a escapatória que, de há muito, buscava, longe de ouvir os brados da consciência que o concitavam à vigilância, exclamou, à feição de vítima:

– Realmente, não posso mais... Agora, para mim, só restam dois caminhos, suicídio ou desquite...

Marcela, com o auxílio do Assistente, descarregou o revólver, reconduziu as crianças ao sono e deitou-se, atribulada. Nos olhos tristes, lágrimas borbulhavam na sombra, enquanto orava, súplice, na torturada quietude do seu martírio silencioso: – “Ó meu Deus, compadece-te de mim, pobre mulher desventurada!... que fazer, sozinha na luta, com três crianças necessitadas?...”

Todavia, antes que a dor pungente se lhe metamorfoseasse em desânimo destruidor, Silas aplicou-lhe passes balsamizantes, hipnotizando-a, com o que a flagelada senhora, em desdobramento, se colocou, inquieta, diante de nós.

Tomando-nos à conta de mensageiros do Céu, na cristalização dos hábitos em que comumente mergulham as almas encarnadas, ajoelhou-se e rogou amparo.

Silas, porém, soergueu-a, bondoso, e explicou:

– Marcela, somos apenas teus irmãos... Reanima-te! Não te encontras sozinha. Deus, Nosso Pai, jamais nos abandona... Concede, sim, liberdade ao teu esposo, embora saibamos que o dever é uma bênção divina da qual pagaremos caro a deserção... Que Ildeu rompa os laços respeitáveis dos seus compromissos, se é que julga seja essa a única maneira de adquirir a experiência que deve conquistar... Haja porém o que houver, ajuda-o com tolerância e compreensão. Não lhe queiras mal algum. Antes, roga a Jesus o abençoe e ampare, onde esteja, porque o remorso e o arrependimento, a saudade e a dor para os que fogem das obrigações que o Senhor lhes confia convertem-se em fardos difíceis de carregar. Sabemos que a ele te ligaste em sagrada aliança na empresa redentora do pretérito próximo... Ainda assim, se ele esmorece, à frente da luta, em pleno exercício da faculdade de escolher, não será justo lhe violentes o livre arbítrio, impondo-lhe atitudes que a ele compete cultivar. Ildeu ausenta-se agora dos contratos que abraçou, a benefício de si mesmo, e interrompe o resgate das contas que lhe são próprias... Voltará, porém, mais tarde aos débitos que olvida, talvez mais onerado perante a Lei... Não te lamentes, contudo, e segue adiante. Sejam quais forem as lutas que te descerem ao coração, resigna-te e não temas. Faze dos filhinhos o apoio firme na caminhada. Todo sacrifício edificante no mundo expressa enriquecimento de nossas almas na Vida Eterna... Renuncia, pois, ao homem querido, respeitando-lhe os caprichos do coração, e aguarda o futuro com esperança.

E porque Marcela chorasse, receando o porvir, em face das contingências materiais, Silas afagou-lhe a cabeça e asseverou, prestimoso:

– Para mãos dignas jamais faltará trabalho digno. Contemos com a proteção do Senhor e marchemos com desassombro. Enxuga o pranto e ergue-te em espírito à Fonte do Sumo Bem!...

Nesse ínterim, parentes desencarnados da jovem senhora assomaram carinhosamente ao recinto, estendendo-lhe as mãos...

E nosso orientador confiou-lhes Marcela, chorosa, rogando-lhes ajuda para que a víssemos restaurada.


Texto complementar:


O Livro dos Espíritos - Allan KardecDa Parte II - 
Capítulo IX - Da Intervenção dos Espíritos no Mundo Corporal 
FACULDADE, QUE TÊM OS ESPÍRITOS, DE PENETRAR OS NOSSOS PENSAMENTOS


456. Veem os Espíritos tudo o que fazemos?

“Podem ver, pois que constantemente vos rodeiam. Cada um, porém, só vê aquilo a que dá atenção. Não se ocupam com o que lhes é indiferente.”

457. Podem os Espíritos conhecer os nossos mais secretos pensamentos?

“Muitas vezes chegam a conhecer o que desejaríeis ocultar de vós mesmos. Nem atos, nem pensamentos se lhes podem dissimular.”

a) — Assim, mais fácil nos seria ocultar de uma pessoa viva qualquer coisa, do que a esconder dessa mesma pessoa depois de morta?

“Certamente. Quando vos julgais muito ocultos, é comum terdes ao vosso lado uma multidão de Espíritos que vos observam.”


INFLUÊNCIA OCULTA DOS ESPÍRITOS EM NOSSOS PENSAMENTOS E ATOS

459. Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?

“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.”

466. Por que permite Deus que Espíritos nos excitem ao mal?

“Os Espíritos imperfeitos são instrumentos próprios a pôr em prova a fé e a constância dos homens na prática do bem. Como Espírito que és, tens que progredir na ciência do infinito. Daí o passares pelas provas do mal, para chegares ao bem. A nossa missão consiste em te colocarmos no bom caminho.

Desde que sobre ti atuam influências más, é que as atrais, desejando o mal; porquanto os Espíritos inferiores correm a te auxiliar no mal, logo que desejes praticá-lo. Só quando queiras o mal, podem eles ajudar-te para a prática do mal.

Se fores propenso ao assassínio, terás em torno de ti uma nuvem de Espíritos a te alimentarem no íntimo esse pendor. Mas, outros também te cercarão, esforçando-se por te influenciarem para o bem, o que restabelece o equilíbrio da balança e te deixa senhor dos teus atos.”