14/04/2020

Olá amigos!
Ouçam abaixo um trecho do livro Contos Desta e Doutra vida



13 - A ÚNICA DÁDIVA

Conta-se que Simão Pedro estava cansado, depois de vinte dias junto do povo. 
Banhara feridentos, alimentara mulheres e crianças esquálidas, e, em vez de receber a aprovação do povo, recolhia insultos velados, aqui e ali... 
Após três semanas consecutivas de luta, fatigara-se e preferira isolar-se entre alcaparreiras amigas. 
Por isso mesmo, no crepúsculo anilado, estava ele só, diante das águas a refletir... 
Aproxima-se alguém, contudo... 
Por mais busque esconder-se, sente-se procurado. 
É o próprio Cristo. 
- Que fazes Pedro? – diz-lhe o Senhor. 
- Penso Mestre. 
E o diálogo prolongou-se. 
- Estás triste? 
- Muito triste.
 - Por quê? 
- Chamam-me ladrão. 
- Mas se a consciência te não acusa, que tem isso? 
-Sinto-me desditoso. Em nome do amor que me ensinas, alivio os enfermos e ajudo aos necessitados. Entretanto, injuriam-me. Dizem por aí que furto, que exploro a confiança do povo... Ainda ontem, distribuía os velhos mantos que nos foram cedidos pela casa de Carpo, entre os doentes chegados de Jope... Alegou alguém, inconsideradamente, que surrupiei a maior parte... Estou exausto Mestre. Vinte dias de multidão pesam muito mais que vinte anos de serviços na barca... 
- Pedro, que deste aos necessitados nestes últimos vinte dias? 
- Moedas, túnicas, mantos, ungüentos, trigo, peixe... 
- De onde chegaram as moedas? 
 - Das mãos de Joana, a mulher de Cusa. 
- As túnicas? 
- Da casa de Zobalan, o curtidor. 
- Os mantos? 
- Da residência de Carpo, o romano que decidiu amparar-nos. 
- Os ungüentos? - Do lar de Zebedeu, que os fabrica.
 - O trigo? 
- Da seara de Zaqueu, que se lembra de nós... 
- E os peixes? - Da nossa pesca. 
- Então Pedro? 
- Que devo entender Senhor? 
- Que apenas entregamos aquilo que nos foi ofertado para distribuirmos em favor dos que necessitam. A Divina Bondade conjuga as circunstancias e confia-nos de um modo ou de outro os elementos que devamos movimentar nas obras do bem... Disseste servir em nome do amor... 
- Sim Mestre... - Recorda então, que o amor não relaciona calúnias, nem conta sarcasmos. 
O discípulo entremostrando súbita renovação mental não respondeu. 
Jesus abraçou-o e disse apenas: 
- Pedro, todos os bens da vida podem ser transmitidos de sítio a sitio e de mão em mão... Ninguém pode dar em essência esse ou aquele patrimônio do mundo senão o próprio Criador, que nos empresta os recursos por Ele gerados na Criação... E se algo, podemos dar de nos, o amor é a única dádiva que podemos fazer, sofrendo e renunciando por amor... O apostolo compreendeu e beijou as mãos que o tocavam de leve. Em seguida puseram-se ambos a falar alegremente sobre as tarefas esperadas para o dia seguinte. 

Fonte: Livro Contos Desta e Doutra vida, Francisco Candido Xavier, pelo irmão X