Olá amigos!
Ouçam abaixo um trecho do livro Antologia Mediunica do Natal
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O peru pregador
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O peru pregador
Um belo peru, após conviver largo tempo na intimidade duma família que
dispunha de vastos conhecimentos evangélicos, aprendeu a transmitir os
ensinamentos de Jesus, esperando-lhe também as divinas promessas. Tão
versado ficou nas letras sagradas que passou a propagá-las entre as outras
aves.
De quando em quando, era visto a falar em sua estranha linguagem “gláglé-gli-gló-glu”. Não era, naturalmente, compreendido pelos homens. Mas os
outros perus, as galinhas, os gansos e os marrecos, bem como os patos,
entendiam-no perfeitamente.
Começava o comentário das lições do Evangelho e o terreiro enchia-se
logo. Até os pintainhos se aquietavam sob as asas maternas, a fim de ouvi-lo.
O peru, muito confiante, assegurava que Jesus-Cristo era o Salvador do
Mundo, que viera alumiar o caminho de todos e que, por base de sua doutrina,
colocara o amor das criaturas umas para com as outras, garantindo a fórmula
de verdadeira felicidade na Terra. Dizia que todos os seres, para viverem
tranquilos e contentes, deveriam perdoar aos inimigos, desculpar os
transviados e socorrê-los.
As aves passaram a venerar o Evangelho; todavia, chegado o Natal do
Mestre Divino, eis que alguns homens vieram aos lagos, galinheiros, currais e,
depois de se referirem excessivamente ao amor que dedicavam a Jesus,
laçaram frangos, patinhos e perus, matando-os, ali mesmo, ante o assombro
geral.
Houve muitos gritos e lamentações, mas os perseguidores, alegando a
festa do Cristo, distribuíram pancadas e golpes à vontade.
Até mesmo a esposa do peru pregador foi também morta.
Quando o silêncio se fez no terreiro, ao cair da noite, havia em toda parte
enorme tristeza e irremediável angústia de coração.
As aves aflitas rodearam o doutrinador e crivaram-no de perguntas
dolorosas.
Como louvar um Senhor que aceitava tantas manifestações de sangue na
festa de seu natalício? como explicar tanta maldade por parte dos
homens que se declaravam cristãos e operavam tanta matança? não cantavam
eles hinos de homenagem ao Cristo? não se afirmavam discípulos dEle?
precisavam, então, de tanta morte e tanta lágrima para reverenciarem o
Senhor?
O pastor alado, muito contrafeito, prometeu responder no dia seguinte.
Achava-se igualmente cansado e oprimido. Na manhã imediata, ante o Sol
rutilante do Natal, esclareceu aos companheiros que a ordem de matar não
vinha de Jesus, que preferira a morte no madeiro a ter de justiçar; que deviam
todos eles continuar, por isso mesmo, amando o Senhor e servindo-o,
acrescentando que lhes cabia perdoar setenta vezes sete. Explicou, por fim,
que os homens degoladores estavam anunciados no versículo quinze do
capítulo sete, do Apóstolo Mateus, que esclarece: — “Acautelai-vos, porém,
dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente
são lobos devoradores”. Em seguida, o peru recitou o capítulo cinco do mesmo
evangelista, comentando as bem-aventuranças prometidas pelo Divino Amigo
aos que choram e padecem no mundo.
Verificou-se, então, imenso reconforto na comunidade atormentada e aflita,
porque as aves se recordaram de que o próprio Senhor, para alcançar a
Ressurreição Gloriosa, aceitara a morte de sacrifício igual à delas.
Fonte: livro Antologia Mediúnica do Natal. Francisco Candido Xavier, pelo Espírito Neio Lúcio