Olá!
Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 hs.
Livro Ação e Reação - Capítulo 18 -
Resgates Coletivos
Leitura Inicial:
Pelas próprias obras
Sua realidade invisível – seu eterno poder e sua divindade – tornou-se inteligível, desde a criação do mundo, através das criaturas, de sorte que não têm desculpa.
Romanos, 1:20
O mundo é a oficina.
O corpo é a ferramenta.
A existência é a oportunidade.
O dever a executar é a missão a cumprir.
O pensamento escolhe.
A ação realiza.
O homem conduz o barco da vida com os remos do desejo e a vida conduz o homem ao porto que ele aspira a chegar.
Eis porque, segundo as Leis que nos regem, “a cada um será dado pelas próprias obras”.
Emmanuel
Do livro: “Ação e caminho”, psicografia de F. C. Xavier – IDEAL – Mensagem 4
Trecho do estudo:
Ação e Reação
André
Luiz
18
Resgates Coletivos
Entendíamo-nos com Silas, acerca de
variados problemas, quando expressivo chamamento de Druso nos reuniu ao diretor
da casa, em seu gabinete particular de serviço.
O chefe da Mansão foi breve e claro.
Apelo urgente da Terra pedia auxílio
para as vítimas de um desastre aviatório.
Sem alongar-se em minúcias, informou que
a solicitação se repetiria, dentro de alguns instantes, e conviria esperar a
fim de examinarmos o assunto com a eficiência precisa.
Com efeito, mal terminara o apontamento
e sinais algo semelhantes aos do telégrafo de Morse se fizeram notados em
curioso aparelho. Druso ligou tomada próxima e vimos um pequeno televisor em
ação, sob vigorosa lente, projetando imagens movimentadas em tela próxima,
cuidadosamente encaixada na parede, a pequena distância.
Qual se acompanhássemos curta notícia em
cinema sonoro, contemplamos, surpreendidos, a paisagem terrestre.
Sob a crista de serra alcantilada e
selvagem, destroços de grande aeronave guardavam consigo as vítimas do
acidente. Adivinhava-se que o piloto, certamente enganado pelo traiçoeiro oceano
de espessa bruma, não pudera evitar o choque com os picos graníticos que se
salientavam na montanha, silenciosos e implacáveis, à maneira de medonhos torreões
de fortaleza agressiva.
Em pleno quadro inquietante, um ancião
desencarnado, de semblante nobre e digno, formulava requerimento comovedor, rogando
à Mansão a remessa de equipe adestrada para a remoção de seis das catorze
entidades desencarnadas no doloroso sinistro.
Enquanto Druso e Silas combinavam
medidas para a tarefa assistencial, Hilário e eu olhávamos, espantados, o
espetáculo inédito para nós ambos.
A cena aflitiva parecia desenrolar-se
ali mesmo.
Oito dos desencarnados no acidente
jaziam em posição de chague, algemados aos corpos, mutilados ou não; quatro
gemiam, jungidos aos próprios restos, e dois deles, não obstante ainda
enfaixados às formas rígidas, gritavam desesperados, em crises de
inconsciência.
Contudo, amigos espirituais, abnegados e
valorosos, velavam ali, calmos e atentos. Figurando-se cascata de luz vertendo
do Céu, o auxílio do Alto vinha, solícito, em abençoada torrente de amor.
O quadro patético era tão real à nossa
observação, que podíamos ouvir os gemidos daqueles que despertavam
desfalecentes, as preces dos socorristas e as conversações dos enfermeiros que concertavam
providências à pressa...
De alma confrangida, vimos desaparecer a
notícia televisada, enquanto Silas cumpria as ordens do comandante da
instituição com admirável eficiência.
Em poucos instantes, diversos operários
da casa puseram-se em marcha, na direção do local minuciosamente descrito.
Voltando ao gabinete em que lhe
aguardávamos o retorno, Silas ainda se entendeu com o orientador, por alguns
minutos, com respeito ao serviço em foco.
Foi então que Hilário e eu indagamos se
não nos seria possível a participação na obra assistencial que se processava,
no que Druso, paternalmente, não concordou, explicando que o trabalho era de
natureza especialíssima, requisitando colaboradores rigorosamente treinados.
Cientes de que o generoso mentor poderia
dispensar-nos mais tempo, aproveitamos o ensejo para versar a questão das
provas coletivas.
Hilário abriu campo livre ao debate,
perguntando, respeitoso, por que motivo era rogado o auxílio para a remoção de seis
dos desencarnados, quando as vítimas eram catorze.
Druso, no entanto, replicou em tom
sereno e firme:
– O socorro no avião sinistrado é
distribuído indistintamente, contudo, não podemos esquecer que se o desastre é
o mesmo para todos os que tombaram, a morte é diferente para cada um. No momento
serão retirados da carne tão-somente aqueles cuja vida interior lhes outorga a
imediata liberação. Quanto aos outros, cuja situação presente não lhes favorece
o afastamento rápido da armadura física, permanecerão ligados, por mais tempo,
aos despojos que lhes dizem respeito.
– Quantos dias? – clamou meu colega,
incapaz de conter a emoção de que se via possuído.
– Depende do grau de animalização dos
fluidos que lhes retêm o Espírito à atividade corpórea – respondeu-nos o
mentor. – Alguns serão detidos por algumas horas, outros, talvez, por longos dias...
Quem sabe? Corpo inerte nem sempre significa libertação da alma. O gênero de
vida que alimentamos no estágio físico dita as verdadeiras condições de nossa
morte. Quanto mais chafurdamos o ser nas correntes de baixas ilusões, mais
tempo gastamos para esgotar as energias vitais que nos aprisionam à matéria
pesada e primitiva de que se nos constitui a instrumentação fisiológica, demorando-nos
nas criações mentais inferiores a que nos ajustamos, nelas encontrando
combustível para dilatados enganos nas sombras do campo carnal, propriamente
considerado. E quanto mais nos submetamos às disciplinas do espírito, que nos
aconselham equilíbrio e sublimação, mais amplas facilidades conquistaremos para
a exoneração da carne em quaisquer emergências de que não possamos fugir por
força dos débitos contraídos perante a Lei. Assim é que “morte física” não é o
mesmo que “emancipação espiritual”.
– Isso, no entanto – considerei –, não
quer dizer que os demais companheiros acidentados estarão sem assistência,
embora coagidos a temporária detenção nos próprios restos.
– De modo algum – ajuntou o amigo
generoso –, ninguém vive desamparado. O amor infinito de Deus abrange o
Universo. Os irmãos que se demoram enredados em mais baixo teor de experiência física
compreenderão, gradativamente, o socorro que se mostram capazes de receber.
– Todavia – reparou Hilário –, não serão
atraídos por criaturas desencarnadas, de inteligência perversa, já que não
podem ser resguardados de imediato?
Druso estampou significativa expressão
facial e ponderou:
– Sim, na hipótese de serem surdos ao
bem, é possível se rendam às sugestões do mal, a fim de que, pelos tormentos do
mal, se voltem para o bem. No assunto, entretanto, é preciso considerar que a
tentação é sempre uma sombra a atormentar-nos a vida, de dentro para fora. A
junção de nossas almas com os poderes infernais verifica-se em relação com o
inferno que já trazemos dentro de nós.
A explicação não poderia ser mais clara.
Talvez por isso, algo desconcertado pelo
esclarecimento direto, meu companheiro que, tanto quanto eu, não desejava
perder a oportunidade de mais ampla conversação, acentuou, humilde:
– Nobre instrutor, decerto não temos o
direito de questionar qualquer determinação que lhe dimane da autoridade; ainda
assim, estimaria conhecer mais profundamente as razões pelas quais nos é defeso
o trabalho de colaboração nos serviços pertinentes ao socorro nos resgates de
conjunto. Não poderíamos, acaso, cooperar com os obreiros desta casa, nas
expedições de auxílio às vítimas de acidentes diversos, de modo a pesquisar as
causas que os determinaram? Indiscutivelmente a Mansão, com as
responsabilidades de que se encontra investida, desincumbir-se-á de trabalhos dessa
espécie todos os dias...
– Quase todos os dias – corrigiu Druso,
sem pestanejar.
E, fitando Hilário de estranha maneira,
aduziu:
– É imperioso observar, porém, que vocês
coletam material didático para despertamento de nossos irmãos encarnados, quase
todos eles em fase importante de luta, no acerto de contas com a Justiça
Divina. Analisando os resgates dessa ordem, vocês fatalmente seriam compelidos
à autópsia de situações e problemas suscetíveis de plasmar imagens destrutivas
no ânimo de muitos daqueles que ambos se propõem auxiliar.
Esboçando leve sorriso em que deixava
transparecer a humildade que lhe adornava o espírito de escol, aditou:
– Parece-me que não seríamos capazes de
comentar um desastre de grandes proporções, no campo dos homens, sem lhes insuflar
o vírus do medo, tanta vez portador do desânimo e da morte.
A palavra do orientador, serena e
evangélica, reajustava-nos os impulsos menos edificantes.
Inegavelmente, a Terra jaz repleta de
criaturas, tanto quanto nós, algemadas a escabrosos compromissos, carentes de
ação contínua para o necessário reequilíbrio. Não seria justo atormentá-las com
pensamentos de temor e flagelação, quando através do bem, sentido e praticado,
podemos cada hora arredar de nossos horizontes as nuvens de sofrimentos
prováveis.
Assinalando-nos a atitude inequívoca de
compreensão e de obediência, como não podia deixar de ser, o chefe da
instituição continuou em tom afável, depois de ligeira pausa:
– Imaginemos que fossem analisar as
origens da provação a que se acolheram os acidentados de hoje...
Surpreenderiam, decerto, delinquentes que, em outras épocas, atiraram irmãos
indefesos do cimo de torres altíssimas, para que seus corpos se espatifassem no
chão; companheiros que, em outro tempo, cometeram hediondos crimes sobre o
dorso do mar, pondo a pique existências preciosas, ou suicidas que se
despenharam de arrojados edifícios ou de picos agrestes, em supremo atestado de
rebeldia, perante a Lei, os quais, por enquanto, somente encontraram recurso em
tão angustioso episódio para transformarem a própria situação. Quantos milhares
de irmãos encarnados possuímos nós, em cujas contas com os Tribunais Divinos
figuram débitos desse jaca? Entretanto, não desconhecemos que nós, consciências
endividadas, podemos melhorar nossos créditos, todos os dias. Quantos romeiros terrenos,
em cujos mapas de viagem constam surpresas terríveis, são amparados devidamente
para que a morte forçada não lhes assalte o corpo, em razão dos atos louváveis
a que se afeiçoam!...
Quantas
intercessões da prece ardente conquistam moratórias oportunas para pessoas cujo
passo já resvala no cairel do sepulcro?!... quantos deveres sacrificiais
granjeiam, para a alma que os aceita de boamente, preciosas vantagens na Vida Superior,
onde providências se improvisam para que se lhes amenizem os rigores da
provação necessária?! Bem sabemos que, se uma onda sonora encontra outra, de
tal modo que as “cristas” de uma ocorram nos mesmos pontos dos “vales” da
outra, esse meio, em consequência aí não vibra, tendo-se como resultado o
silêncio. Assim é que, gerando novas causas com o bem, praticado hoje, podemos
interferir nas causas do mal, praticado ontem, neutralizando-as e
reconquistando, com isso, o nosso equilíbrio. Desse modo, creio mais justo
incentivarmos o serviço do bem, através de todos os recursos ao nosso alcance.
A caridade e o estudo nobre, a fé e o bom ânimo, o otimismo e o trabalho, a
arte e a meditação construtiva constituem temas renovadores, cujo mérito não
será lícito esquecer, na reabilitação de nossas ideias e, consequentemente, de
nossos destinos.
Entregara-se o chefe a mais longa pausa
e, movido pelo propósito de aprender, indaguei de Druso se ele mesmo não teria acompanhado
algum processo de resgate coletivo, em que os Espíritos interessados não teriam
outro recurso senão a morte violenta, como remate aos dias do corpo denso, ao
que o instrutor respondeu, presto:
– Guardo em minha experiência alguns
casos expressivos que seria justo relacionar, no entanto, reportar-nos-emos
simplesmente a um deles, pois nossas obrigações são inadiáveis.
Do livro “Ação e Reação”,
psicografia de Francisco Cândido Xavier – FEB – 24ª edição - 2003