Olá!
Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 h.
Livro Ação e Reação
Capítulo 19 - Sanções e Auxílios
leitura inicial:
173
Ante a luz da verdade
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.”
Jesus (João, 8:32)
A palavra do Mestre é clara e segura.
Não seremos libertados pelos “aspectos da verdade” ou pelas “verdades
provisórias” de que sejamos detentores no círculo das afirmações apaixonadas a que
nos inclinemos.
Muitos, em política, filosofia, ciência e religião, se afeiçoam a certos
ângulos da verdade e transformam a própria vida numa trincheira de luta
desesperada, a pretexto de defendê-la, quando não passam de prisioneiros do “ponto
de vista”.
Muitos aceitam a verdade, estendem-lhe as lições, advogam-lhe a causa e
proclamam-lhe os méritos, entretanto, a verdade libertadora é aquela que
conhecemos na atividade incessante do Eterno Bem.
Penetrá-la é compreender as obrigações que nos competem.
Discerni-la é renovar o próprio entendimento e converter a existência num
campo de responsabilidade para ’com o melhor.
Só existe verdadeira liberdade na submissão ao dever fielmente cumprido. Conhecer, portanto, a verdade é perceber o sentido da vida.
E perceber o sentido da vida é crescer em serviço e burilamento constantes.
Observa, desse modo, a tua posição diante da Luz... Quem apenas vislumbra a glória ofuscante da realidade, fala muito e age menos.
Quem, todavia, lhe penetra a grandeza indefinível, age mais e fala menos.
Fonte: Livro Fonte Viva, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
Trecho do estudo:
19
Sanções e auxílios
Depois do entendimento com os internados, o Instrutor Druso
aquiesceu em dispensar-nos alguns minutos de conversação educativa. Explanara brilhantemente sobre o problema das provas na
experiência terrestre. Alertara-nos quanto à necessária renovação
mental nos padrões do bem, destacando a necessidade do estudo,
para a assimilação do conhecimento superior, e do serviço ao
próximo, para a colheita de simpatia, sem os quais todos os caminhos da evolução surgem complicados e difíceis de ser transitados.
Junto dele, enquanto prelecionava, fora colocada singular escultura – uma estátua notável reproduzindo o corpo humano,
transparente aos nossos olhos, à qual apenas faltava o sopro espiritual para revelar-se viva. Patenteavam-se, ali, à nossa visão,
todos os órgãos e apetrechos do carro físico, sob a proteção do
sistema nervoso e do sistema sangüíneo.
O coração, à maneira de um grande pássaro no ninho das artérias enrodilhadas na árvore dos pulmões; o fígado, à feição de um
condensador vibrante; o estômago e os intestinos como digestores
técnicos e os rins, quais aparelhos complexos de filtragem, convidavam-nos a profunda admiração; contudo, nosso maior interesse
concentrava-se no sistema endocrínico, no qual as glândulas se
salientavam por figurações de luz. A epífise, a hipófise, a tireóide,
as paratireóides, o timo, as supra-renais, o pâncreas e as bolsas
genésicas caracterizavam-se, perfeitas, sobre o fundo vivo dos
centros perispirituais, que se combinavam uns com os outros, em
sutilíssimas ramificações nervosas, singularmente ajustadas,
através dos plexos, emitindo cada centro irradiações próprias, constituindo-se o conjunto num todo harmônico, que nos impelia
à contemplação extática.
Percebendo-nos a surpresa, o chefe da casa disse, bondoso;
– Habitualmente convidamos a atenção de nossos internados
para os veículos de nossas manifestações, mostrando-lhes, quanto
possível, a correspondência entre nossos estados espirituais e as
formas de que nos servimos. É indispensável compreendamos que
todo mal por nós praticado conscientemente expressa, de algum
modo, lesão em nossa consciência e toda lesão dessa espécie
determina distúrbio ou mutilação no organismo que nos exterioriza o modo de ser. Em todos os planos do Universo, somos espírito
e manifestação, pensamento e forma. Eis o motivo por que, no
mundo, a Medicina há de considerar o doente como um todo
psicossomático, se quiser realmente investir-se da arte de curar.
E, tocando a bela escultura à nossa vista, continuou:
– Da mente clareada pela razão, sede dos princípios superiores que governam a individualidade, partem as forças que asseguram o equilíbrio orgânico, por intermédio de raios ainda inabordáveis à perquirição humana, raios esses que vitalizam os centros
perispiríticos, em cujos meandros se localizam as chamadas glândulas endócrinas, que, a seu turno, despedem recursos que nos
garantem a estabilidade do campo celular. Como é óbvio, nas
criaturas encarnadas esses elementos se consubstanciam nos
hormônios diversos que atuam sobre todos os órgãos do corpo
físico, através do sangue. O homem comum, que já conhece a
tiroxina e a adrenalina, energias fabricadas pela tireóide e pelas
supra-renais, com influência decisiva no trabalho circulatório, nos
nervos e nos músculos, não ignora que todas as demais glândulas
de secreções internas produzem recursos que decidem sobre saúde
e enfermidade, equilíbrio e desequilíbrio nos indivíduos encarnados. Ora, em substância, como é fácil de ver, todos os estados
acidentais das formas de que nos utilizamos, no espaço e no tempo, dependem, assim, do comando mental que nos é próprio. É
por isso que a justiça, sendo instituto fundamental de ordem, na
Criação, começa invariavelmente em nós mesmos, em toda e
qualquer ocasião que lhe defraudemos os princípios. A evolução
para Deus pode ser comparada a uma viagem divina. O bem constitui sinal de passagem livre para os cimos da Vida Superior,
enquanto que o mal significa sentença de interdição, constrangendo-nos a paradas mais ou menos difíceis de reajuste.
Aproveitando breve pausa, Hilário observou:
– É admirável o trabalho educativo em andamento nas zonas
inferiores, com vistas à reencarnação...
– Inegavelmente – respondeu o instrutor. – É preciso informar
a todos os nossos irmãos, em vias de retorno ao círculo dos homens, que o corpo carnal, com as tarefas que lhe são conseqüentes, vale por verdadeiro prêmio da Bondade Divina, que é necessário valorizar. Aqui, nas esferas purgatoriais, contamos com
verdadeiras multidões de criaturas desencarnadas que procedem
do mundo, em deploráveis crises alucinatórias, após malversarem
os bens da vida humana. Muitas, por infelicidade da própria ignorância, não puderam acomodar-se a qualquer tipo de concepção
religiosa, entretanto, milhões de pessoas, longe do respeito pela fé
maternal que as esclarecia, nos compromissos esposados perante
Deus, entregavam-se, conscientemente, à crueldade mental, cavando ruína e amargura para si mesmas, porque o mal infligido a
outrem era sempre mal que amontoavam sobre as suas cabeças. É
assim que, desentrançadas da matéria densa, aqui aportam, batidas
pelo remorso e pelo arrependimento, padecendo frustrações lamentáveis, quando não estacionam por tempo mais ou menos
longo em furnas expiatórias, nas quais, presas de antigos adversários ou de velhos comparsas do vício, sofrem tristes alterações em
seus centros de força, a se lhes expressarem na mente por desequilíbrios funestos. Depois de acolhidas em nosso pouso de amorrefazem-se a pouco e pouco... A reencarnação retificadora, isto é,
a internação na carne em condições penosas, surge por alternativa
inevitável. Será preciso renascer, suportando os obstáculos tremendos, oriundos da desarmonia perispirítica criada por nós
mesmos. Ainda assim, quanto possível, antes do novo berço entre
os homens, é imprescindível melhorar as contas... Daí o motivo
por que instituições qual a nossa funcionam, em vários campos
das regiões inferiores, que, na velha teologia, equivalem a regiões
infernais... O que, porém, existe, de fato, é o imenso Umbral,
situado entre a Terra e o Céu, dolorosa região de sombras, erguida
e cultivada pela mente humana, em geral rebelde e ociosa, desvairada e enfermiça. Os companheiros desencarnados que despertam,
devagarinho, para a responsabilidade de viver, encarando face a
face o imperativo do renascimento difícil no mundo, passam a
trabalhar aqui laboriosamente, vencendo óbices terríveis e superando tempestades de toda a sorte, para a conquista dos méritos
que descuraram durante a permanência no corpo, de modo a implantarem, no próprio espírito, os valores morais de que não prescindem para a sustentação de novas e abençoadas lutas no plano
material.
O orientador, mostrando o olhar coruscante de entendimento
e carinho, à feição do professor emérito e bondoso que deseja o
progresso dos aprendizes, fez longa pausa e perguntou-nos:
– Compreenderam?
– Sim, sim... – respondemos a um só tempo, interessados em
maior amplitude da lição.
– É assim que todos nós – continuou ele –, para o recomeço
das lides carnais, solicitamos o regime de sanções, ou alguém,
quando não disponhamos do direito de fazê-lo, no-lo obtém,
suplicando-o, em nosso benefício, às autoridades superiores.
– Regime de sanções? – indagou Hilário, surpreendido.
– Perfeitamente. Não nos reportamos aqui ás medidas de natureza moral, pelas quais enfrentamos, compreensivelmente, na
família consangüínea ou na intimidade da luta, a reaproximação
com os Espíritos de que sejamos devedores de paciência e ternura,
tolerância e sacrifício, na solução de certas dívidas que nos obscurecem a senda, mas sim a providências retificantes, depois de
muitas quedas reiteradas nos mesmos deslizes e deserções, que
imploramos em favor de nós e em nós mesmos, quais sejam as
deficiências congeniais com que ressurgimos no berço físico.
Aqueles que por vezes diversas perderam vastas oportunidades de
trabalho na Terra, pela ingestão sistemática de elementos corrosivos, como sejam o álcool e outros venenos das forças orgânicas,
tanto quanto os inveterados cultores da gula, quase sempre atravessam as águas da morte como suicidas indiretos e, despertando
para a obra de reajuste que lhes é indispensável, imploram o
regresso à carne em corpos desde a infância inclinados à estenose
do piloro, à ulceração gástrica, ao desequilíbrio do pâncreas, à
colite e às múltiplas enfermidades do intestino que lhes impõem
torturas sistemáticas, embora suportáveis, no decurso da existência inteira. Inteligências notáveis, com sucessivas quedas morais,
através da leviandade com que se utilizaram do esporte e da dança, espalhando desespero e infortúnio nos corações afetuosos e
sensíveis, pedem formas orgânicas ameaçadas de paralisia e reumatismo, visitadas de achaques e neoplasmas diversos, que lhes
obstem os movimentos demasiado livres. Companheiros que, em
muitas circunstâncias, se deixaram envenenar pelos olhos e pelos
ouvidos, comprometendo-se em vasta rede de criminalidade,
através da calúnia e da maledicência, imploram veículos fisiológicos castigados por deficiências auditivas e visuais que lhes impeçam recidivas desastrosas. Intelectuais e artistas que despedem
sagrados recursos do espírito na perversão dos sentimentos humanos, por intermédio da criação de imagens menos dignas, rogam
aparelhos cerebrais com inibições graves e dolorosas para que, nas reflexões de temporário ostracismo, possam desenvolver as
esquecidas qualidades do coração. Homens e mulheres que abusaram de dotes físicos, manobrando a beleza e a perfeição das formas para disseminar a loucura e o sofrimento naqueles que lhes
admitiam as falsas promessas, solicitam corpos vulneráveis às
dermatoses aflitivas, quais o eczema e a tumoração cutânea, ou
portadores de alterações da tireóide que os constranjam a reiteradas lutas educativas. Grandes faladores que escarneceram da
divina missão do verbo, conturbando multidões ou enlouquecendo
almas desprevenidas, suplicam doenças das cordas vocais, para
que, atravessando afonias periódicas, desistam de tumultuar os
espíritos por intermédio da palavra brilhante. E milhares de pessoas que transformaram o santuário do sexo numa forja de perturbações para a vida alheia, arruinando lares e infelicitando consciências, imploram equipamentos físicos atormentados por lesões
importantes no campo genésico, experimentando, desde a puberdade, inquietantes desequilíbrios ovarianos e testiculares. A cegueira, a mudez, a idiotia, a surdez, a paralisia, o câncer, a lepra, a
epilepsia, o diabete, o pênfigo, a loucura e todo o conjunto das
moléstias dificilmente curáveis significam sanções instituídas pela
Misericórdia Divina, portas a dentro da Justiça Universal, atendendo-nos aos próprios rogos, para que não venhamos a perder as
bênçãos eternas do espírito a troco de lamentáveis ilusões humanas.
– Mas, existem institutos especiais que providenciem, por exemplo, as irregularidades orgânicas pedidas para a reencarnação?
– perguntou meu colega, intrigado.
O interlocutor generoso sorriu, significativamente, e acentuou:
– Sim, Hilário, a Bondade do Senhor é infinita e permite-nos
a graça de suplicar os impedimentos a que nos referimos, porque
o reconhecimento de nossas fraquezas e transgressões nos faz imenso bem ao espírito endividado. A humildade, em qualquer
situação, acende luz em nossas almas, gerando, em torno de nós,
abençoados recursos de simpatia fraterna. Entretanto, ainda mesmo que não pedíssemos a aplicação das penas de que necessitamos, nossa posição não se modificaria, porquanto a prática do mal
opera lesões imediatas em nossa consciência, que, entrando em
condição desarmônica, desajusta, ela própria, os centros de força
em que se mantém. Desse modo, os nossos institutos de trabalho
para a reencarnação colaboram para que todos venhamos a receber na ribalta terrestre a vestimenta carnal merecida.
– Então, de que vale a súplica, rogando essa ou aquela medida, atinente à nossa reeducação?
– Oh! não formule semelhante problema! – falou Druso em
voz grave. – A prece, no sentido a que aludimos, é sempre um
atestado de boa-vontade e compreensão, no testemunho da nossa
condição de Espíritos devedores... Sem dúvida, não poderá modificar o curso das leis, diante das quais nos fazemos réus sujeitos a
penas múltiplas, mas renova-nos o modo de ser, valendo não só
como abençoada plantação de solidariedade em nosso benefício,
mas também como vacina contra reincidência no mal. Além disso,
a prece faculta-nos a aproximação com os grandes benfeitores que
nos presidem os passos, auxiliando-nos a organização de novo
roteiro para a caminhada segura.
Meu companheiro guardou, reverente, a anotação e considerou:
– Caro instrutor, depreendemos da elucidação que, ao nos reencarnarmos, conduzimos conosco os remanescentes de nossas
faltas, que nos partilham o renascimento, na máquina fisiológica,
como raízes congeniais dos males que nós mesmos plantamos...
– Perfeitamente – acentuou o mentor amigo –, nossas disposições, para com essa ou aquela enfermidade no corpo terrestre,
representam zonas de atração magnética que dizem de nossas dívidas, diante das Leis Eternas, exteriorizando-nos as deficiências do espírito.
Druso meditou alguns instantes, como se estivesse ponderando no íntimo a gravidade do assunto, e apreciou:
– Nossas assertivas não excluem, decerto, a necessidade da
assepsia e da higiene, da medicação e do cuidado preciso, no
tratamento dos enfermos de qualquer procedência. Desejamos
simplesmente acentuar que a alma ressurge no equipamento físico
transportando consigo as próprias falhas a se lhe refletirem na
veste carnal, como zonas favoráveis à eclosão de determinadas
moléstias, oferecendo campo propício ao desenvolvimento de
vírus, bacilos e bactérias inúmeros, capazes de conduzi-la aos
mais graves padecimentos, de acordo com os débitos que haja
contraído, mas também carrega consigo as faculdades de criar no
próprio cosmo orgânico todas as espécies de anticorpos, imunizando-se contra as exigências da carne, faculdades essas que pode
ampliar consideravelmente pela oração, pelas disciplinas retificadoras a que se afeiçoe, pela resistência mental ou pelo serviço ao
próximo com que atrai preciosos recursos em seu favor. Não
podemos esquecer que o bem é o verdadeiro antídoto do mal.
– Ainda assim – ajuntou Hilário –, será lícito recordar que os
animais igualmente sofrem moléstias diagnosticáveis, como sejam
a aftose, a raiva e a pneumonia.
– Como também as plantas experimentam enfermidades peculiares, reclamando adubos e fungicidas completou o mentor,
sorrindo.
E acrescentou:
– A dor é ingrediente dos mais importantes na economia da
vida em expansão. O ferro sob o malho, a semente na cova, o
animal em sacrifício, tanto quanto a criança chorando, irresponsável ou semiconsciente, para desenvolver os próprios órgãos, sofrem a dor-evolução, que atua de fora para dentro, aprimorando o
ser, sem a qual não existiria progresso. Em nosso estudo, porém,
analisamos a dor-expiação, que vem de dentro para fora, marcando a criatura no caminho dos séculos, detendo-a em complicados
labirintos de aflição, para regenerá-la, perante a Justiça... É muito
diferente...
– Curioso!
– exclamou Hilário – não havia pensado ainda em
semelhantes conceitos... Dor-evolução, dor-expiação...
– Como temos ainda dor-auxílio – atalhou Druso, benevolente.
– Como assim?
E percebendo a surpresa que se nos estampava no rosto, o orientador aduziu:
– Em muitas ocasiões, no decurso da luta humana, nossa alma
adquire compromissos vultosos nesse ou naquele sentido. Habitualmente, logramos vantagens em determinados setores da experiência, perdendo em outros. Às vezes, interessamo-nos vivamente
pela sublimação do próximo, olvidando a melhoria de nós mesmos. É assim que, pela intercessão de amigos devotados à nossa
felicidade e à nossa vitória, recebemos a bênção de prolongadas e
dolorosas enfermidades no envoltório físico, seja para evitar-nos a
queda no abismo da criminalidade, seja, mais freqüentemente,
para o serviço preparatório da desencarnação, a fim de que não
sejamos colhidos por surpresas arrasadoras, na transição da morte.
O enfarte, a trombose, a hemiplegia, o câncer penosamente suportado, a senilidade prematura e outras calamidades da vida orgânica constituem, por vezes, dores-auxílio, para que a alma se recupere de certos enganos em que haja incorrido na existência do
corpo denso, habilitando-se, através de longas reflexões e benéficas disciplinas, para o ingresso respeitável na Vida Espiritual.
Druso, no entanto, a essa altura, foi chamado a outras linhas
de ação, deixando-nos entregues aos nossos pensamentos.