Olá!
Segue nosso estudo de quarta-feira às 19 h.
Livro A Gênese
capítulo 1
Caráter da revelação Espírita - itens 1 a 23
Leitura inicial:
141
Renova-te sempre
“Ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o
interior, contudo, se renova, dia a dia.” Paulo (II Coríntios, 4:16)
Cada dia tem a sua lição. Cada experiência deixa o valor que lhe corresponde.
Cada problema obedece a determinado objetivo.
Há criaturas que, torturadas por temores contraproducentes, proclamam a
inconformação que as possui à frente da enfermidade ou da pobreza, da desilusão ou
da velhice.
Não faltam, no quadro da luta cotidiana, os que fogem espetacularmente
dos deveres que lhes cabem, procurando, na desistência do bom combate e no
gradual acordo com a morte, a paz que não podem encontrar.
Lembra-te de que as civilizações se sucedem no mundo, há milhares de
anos, e que os homens, por mais felizes e por mais poderosos, foram constrangidos a
perda do veiculo de carne para acerto de contas morais com a eternidade.
Ainda que a prova te pareça invencível ou que a dor se te afigure
insuperável, não te retires da posição de lidador, em que a Providência Divina te
colocou.
Recorda que amanhã o dia voltará ao teu campo de trabalho.
Permanece firme, no teu setor de serviço, educando o pensamento na
aceitação da Vontade Deus A moléstia pode ser uma intimação transitória e salutar
da Justiça Celeste.
A escassez de recursos terrestres é sempre um obstáculo educativo.
O desapontamento recebido com fervorosa coragem é trabalho de seleção
do Senhor, em nosso benefício.
A senectude do corpo físico é fixação da sabedoria para a felicidade eterna.
Sê otimista e diligente no bem, entre a confiança e a alegria, porque, enquanto o envoltório de carne se corrompe pouco a pouco, a alma Imperecível se
renova, de momento a momento, para a vida imortal.
Fonte: Livro Fonte Viva, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
Fonte: Livro Fonte Viva, Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel
Trecho do estudo:
Caráter da revelação espírita
1. Pode o Espiritismo ser considerado uma revelação? Neste caso,
qual o seu caráter? Em que se funda a sua autenticidade? A quem e de que
maneira foi ela feita? É a Doutrina Espírita uma revelação, no sentido teológico da palavra, ou por outra, é, no seu todo, o produto do ensino oculto
vindo do Alto? É absoluta ou suscetível de modificações? Trazendo aos homens a verdade integral, a revelação não teria por efeito impedi-los de fazer
uso das suas faculdades, pois que lhes pouparia o trabalho da investigação?
Qual a autoridade do ensino dos Espíritos, se eles não são infalíveis e superiores à humanidade? Qual a utilidade da moral que pregam, se essa moral
não é diversa da do Cristo, já conhecida? Quais as verdades novas que eles
nos trazem? Precisará o homem de uma revelação? E não poderá achar em
si mesmo e em sua consciência tudo quanto é mister para se conduzir na
vida? Tais as questões que importa nos fixemos.
2. Definamos primeiro o sentido da palavra revelação. Revelar, do
latim revelāre, cuja raiz, vēlum, véu, significa literalmente sair de sob o véu
— e, figuradamente, descobrir, dar a conhecer uma coisa secreta ou desconhecida. Em sua acepção vulgar mais genérica, essa palavra se emprega
a respeito de qualquer coisa ignota que é divulgada, de qualquer ideia
nova que nos põe ao corrente do que não sabíamos.
Deste ponto de vista, todas as ciências que nos fazem conhecer os
mistérios da natureza são revelações e pode dizer-se que há para a humanidade uma revelação incessante. A Astronomia revelou o mundo astral,
que não conhecíamos; a Geologia revelou a formação da Terra; a Química,
a lei das afinidades; a Fisiologia, as funções do organismo etc.; Copérnico,
Galileu, Newton, Laplace, Lavoisier foram reveladores.
3. A característica essencial de qualquer revelação tem que ser a verdade. Revelar um segredo é tornar conhecido um fato; se é falso, já não é um
fato e, por consequência, não existe revelação. Toda revelação desmentida
por fatos deixa de o ser, se for atribuída a Deus. Não podendo Deus mentir,
nem se enganar, ela não pode emanar dele: deve ser considerada produto
de uma concepção humana.
4. Qual o papel do professor diante dos seus discípulos, senão o de
um revelador? O professor lhes ensina o que eles não sabem, o que não
teriam tempo, nem possibilidade de descobrir por si mesmos, porque a
Ciência é obra coletiva dos séculos e de uma multidão de homens que
trazem, cada qual, o seu contingente de observações aproveitáveis àqueles
que vêm depois. O ensino é, portanto, na realidade, a revelação de certas
verdades científicas ou morais, físicas ou metafísicas, feitas por homens que
as conhecem a outros que as ignoram e que, se assim não fora, as teriam
ignorado sempre.
5. Mas o professor não ensina senão o que aprendeu: é um revelador
de segunda ordem; o homem de gênio ensina o que descobriu por si mesmo: é o revelador primitivo; traz a luz que pouco a pouco se vulgariza. Que
seria da humanidade sem a revelação dos homens de gênio, que aparecem
de tempos a tempos?
Mas quem são esses homens de gênio? E por que são homens de
gênio? Donde vieram? Que é feito deles? Notemos que na sua maioria traz,
ao nascer, faculdades transcendentes e alguns conhecimentos inatos, que
com pouco trabalho desenvolvem. Pertencem realmente à humanidade,
pois nascem, vivem e morrem como nós. Onde, porém, adquiriram esses
conhecimentos que não puderam aprender durante a vida? Dir-se-á, com
os materialistas, que o acaso lhes deu a matéria cerebral em maior quantidade e de melhor qualidade? Neste caso, não teriam mais mérito que um
legume maior e mais saboroso do que outro.
Dir-se-á, como certos espiritualistas, que Deus lhes deu uma alma
mais favorecida que a do comum dos homens? Suposição igualmente ilógica, pois que tacharia Deus de parcial. A única solução racional do problema está na preexistência da alma e na pluralidade das vidas. O homem
de gênio é um Espírito que tem vivido mais tempo; que, por conseguinte,
adquiriu e progrediu mais do que aqueles que estão menos adiantados. Encarnando, traz o que sabe e, como sabe muito mais do que os outros e não precisa aprender, é chamado homem de gênio. Mas seu saber é fruto de um
trabalho anterior e não resultado de um privilégio. Antes de renascer, era
ele, pois, Espírito adiantado: reencarna para fazer que os outros aproveitem
do que já sabe, ou para adquirir mais do que possui.
Os homens progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos
esforços da sua inteligência; mas, entregues às próprias forças, só muito
lentamente progrediriam, se não fossem auxiliados por outros mais adiantados, como o estudante o é pelos professores. Todos os povos tiveram
homens de gênio, surgidos em diversas épocas, para dar-lhes impulso e
tirá-los da inércia .
6. Desde que se admite a solicitude de Deus para com as suas criaturas, por que não se há de admitir que Espíritos capazes, por sua energia
e superioridade de conhecimento, de fazerem que a humanidade avance,
encarnem pela vontade de Deus, com o fim de ativarem o progresso em
determinado sentido? Por que não admitir que eles recebam missões, como
um embaixador as recebe do seu soberano? Tal o papel dos grandes gênios.
Que vêm eles fazer, senão ensinar aos homens verdades que estes ignoram
e ainda ignorariam durante largos períodos, a fim de lhes dar um ponto de
apoio mediante o qual possam elevar-se mais rapidamente? Esses gênios,
que aparecem através dos séculos como estrelas brilhantes, deixando longo
traço luminoso sobre a humanidade, são missionários ou, se o quiserem,
messias. O que de novo ensinam aos homens, quer na ordem física, quer
na filosófica, são revelações.
Se Deus suscita reveladores para as verdades científicas, pode, com
mais forte razão, suscitá-los para as verdades morais, que constituem elementos essenciais do progresso. Tais são os filósofos cujas ideias atravessam
os séculos.
7. No sentido especial da fé religiosa, a revelação se diz mais particularmente das coisas espirituais que o homem não pode descobrir por meio
da inteligência, nem com o auxílio dos sentidos; e esse conhecimento lhe
dão Deus ou seus mensageiros, quer por meio da palavra direta, quer pela
inspiração. Neste caso, a revelação é sempre feita a homens predispostos,
designados sob o nome de profetas ou messias, isto é, enviados ou missionários, incumbidos de transmiti-la aos homens. Considerada debaixo deste
ponto de vista, a revelação implica a passividade absoluta e é aceita sem
verificação, sem exame, nem discussão.
8. Todas as religiões tiveram seus reveladores e estes, embora longe
estivessem de conhecer toda a verdade, tinham uma razão de ser providencial, porque eram apropriados ao tempo e ao meio em que viviam, ao
caráter particular dos povos a quem falavam e aos quais eram relativamente
superiores.
Apesar dos erros das suas doutrinas, não deixaram de agitar os espíritos e, por isso mesmo, de semear os germens do progresso, que mais
tarde haviam de desabrochar, ou desabrochariam um dia sob o sol do
Cristianismo.
É, pois, injusto se lhes lance anátema em nome da ortodoxia, porque dia virá em que todas essas crenças, tão diversas na forma, mas que
repousam realmente sobre um mesmo princípio fundamental — Deus e a
imortalidade da alma, se fundirão numa grande e vasta unidade, logo que
a razão triunfe dos preconceitos.
Infelizmente, as religiões hão sido sempre instrumentos de dominação; o papel de profeta há tentado as ambições secundárias, e tem-se visto
surgir uma multidão de pretensos reveladores ou messias, que, valendo-se
do prestígio deste nome, têm explorado a credulidade em proveito do seu
orgulho, da sua ganância, ou da sua indolência, achando mais cômodo
viver à custa dos iludidos. A religião cristã não pôde evitar esses parasitas.
A tal propósito, chamamos toda atenção para o capítulo XXI de O
evangelho segundo o espiritismo: Haverá falsos cristos e falsos profetas.
9. Haverá revelações diretas de Deus aos homens? É uma questão
que não ousaríamos resolver, nem afirmativamente, nem negativamente,
de maneira absoluta. O fato não é radicalmente impossível, porém, nada
nos dá dele prova certa. O que não padece dúvida é que os Espíritos mais
próximos de Deus pela perfeição se imbuem do seu pensamento e podem
transmiti-lo. Quanto aos reveladores encarnados, segundo a ordem hierárquica a que pertencem e o grau a que chegaram de saber, esses podem
tirar dos seus próprios conhecimentos as instruções que ministram, ou
recebê-las de Espíritos mais elevados, mesmo dos mensageiros diretos de
Deus, os quais, falando em nome de Deus, têm sido às vezes tomados pelo
próprio Deus.
As comunicações deste gênero nada têm de estranho para quem
conhece os fenômenos espíritas e a maneira pela qual se estabelecem as
relações entre os encarnados e os desencarnados.
As instruções podem ser transmitidas por diversos meios: pela simples inspiração, pela audição da
palavra, pela visibilidade dos Espíritos instrutores, nas visões e aparições,
quer em sonho, quer em estado de vigília, do que há muitos exemplos na
Bíblia, no Evangelho e nos livros sagrados de todos os povos.
É, pois, rigorosamente exato dizer-se que quase todos os reveladores
são médiuns inspirados, audientes ou videntes. Daí, entretanto, não se
deve concluir que todos os médiuns sejam reveladores, nem, ainda menos,
intermediários diretos da divindade ou dos seus mensageiros.
10. Só os Espíritos puros recebem a palavra de Deus com a missão
de transmiti-la; mas sabe-se hoje que nem todos os Espíritos são perfeitos
e que existem muitos que se apresentem sob falsas aparências, o que levou
João a dizer: “Não acrediteis em todos os Espíritos; vede antes se os Espíritos são de Deus.” (1a
Epístola, 4:1.)
Pode, pois, haver revelações sérias e verdadeiras como as há apócrifas
e mentirosas. O caráter essencial da revelação divina é o da eterna verdade.
Toda revelação eivada de erros ou sujeita a modificação não pode emanar de
Deus. É assim que a Lei do Decálogo tem todos os caracteres de sua origem, enquanto as outras leis moisaicas, fundamentalmente transitórias,
muitas vezes em contradição com a lei do Sinai, são obra pessoal e política
do legislador hebreu. Com o abrandarem-se os costumes do povo, essas leis
por si mesmas caíram em desuso, ao passo que o Decálogo ficou sempre
de pé, como farol da humanidade. O Cristo fez dele a base do seu edifício,
abolindo as outras leis. Se estas fossem obra de Deus, seriam conservadas
intactas. O Cristo e Moisés foram os dois grandes reveladores que mudaram a face ao mundo e nisso está a prova da sua missão divina. Uma obra
puramente humana careceria de tal poder.
11. Importante revelação se opera na época atual e mostra a possibilidade de nos comunicarmos com os seres do mundo espiritual. Não é novo,
sem dúvida, esse conhecimento; mas ficara até os nossos dias, de certo
modo, como letra morta, isto é, sem proveito para a humanidade. A ignorância das leis que regem essas relações estava abafada sob a superstição; o
homem era incapaz de tirar daí qualquer dedução salutar; estava reservado
à nossa época desembaraçá-las dos acessórios ridículos, compreender-lhes
o alcance e fazer surgir delas a luz destinada a clarear o caminho do futuro.
12. O Espiritismo, dando-nos a conhecer o mundo invisível que nos
cerca e no meio do qual vivíamos sem o suspeitarmos, assim como as leis que o regem, suas relações com o mundo visível, a natureza e o estado dos
seres que o habitam e, por conseguinte, o destino do homem depois da
morte, é uma verdadeira revelação, na acepção científica da palavra.
13. Por sua natureza, a revelação espírita tem duplo caráter: participa
ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica. Participa
da revelação divina, porque foi providencial o seu aparecimento e não o
resultado da iniciativa, nem de um desígnio premeditado do homem; porque os pontos fundamentais da Doutrina provêm do ensino que deram os
Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens acerca de coisas
que eles ignoravam, que não podiam aprender por si mesmos e que lhes
importa conhecer, hoje os homens estão aptos a compreendê-las. Participa
da revelação científica, por não ser esse ensino privilégio de indivíduo algum, mas sim ministrado a todos do mesmo modo; por não serem os que
o transmitem e os que o recebem seres passivos, dispensados do trabalho
da observação e da pesquisa, por não renunciarem ao raciocínio e ao livre-
-arbítrio; porque não lhes é interdito o exame, mas, ao contrário, recomendado; enfim, porque a Doutrina não foi ditada completa, nem imposta
à crença cega, porque é deduzida, pelo trabalho do homem, da observação
dos fatos que os Espíritos lhe põem sob os olhos e das instruções que lhe
dão, instruções que o homem estuda, comenta, compara, a fim de tirar ele
próprio as ilações e aplicações. Numa palavra, o que caracteriza a revelação
espírita é o ser divina a sua origem e da iniciativa dos Espíritos, sendo a sua
elaboração fruto do trabalho do homem.
14. Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da
mesma forma que as ciências positivas, aplicando o método experimental.
Fatos novos se apresentam, que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; o Espiritismo os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos
às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as consequências e
busca as aplicações úteis. Não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não apresentou como hipóteses a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios
da Doutrina; concluiu pela existência dos Espíritos, quando essa existência
ressaltou evidente pela observação dos fatos, procedendo de igual maneira
quanto aos outros princípios. Não foram os fatos que vieram a posteriori
confirmar a teoria: a teoria é que veio subsequentemente explicar e resumir
os fatos. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação. As ciências só fizeram
progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental; até então acreditou-se que esse método também só era
aplicável à matéria, ao passo que o é também às coisas metafísicas.
15. Citemos um exemplo: Passa-se no mundo dos Espíritos um fato
muito singular, de que seguramente ninguém houvera suspeitado: o de
haver Espíritos que se não consideram mortos. Pois bem, os Espíritos superiores, que conhecem perfeitamente esse fato, não vieram dizer antecipadamente: “Há Espíritos que julgam viver ainda a vida terrestre, que conservam seus gostos, costumes e instintos.” Provocaram a manifestação de
Espíritos desta categoria para que os observássemos. Tendo-se visto Espíritos incertos quanto ao seu estado, ou afirmando ainda serem deste mundo,
julgando-se aplicados às suas ocupações ordinárias, deduziu-se a regra. A
multiplicidade de fatos análogos demonstrou que o caso não era excepcional, que constituía uma das fases da vida espírita; pode-se então estudar
todas as variedades e as causas de tão singular ilusão, reconhecer que tal
situação é sobretudo própria de Espíritos pouco adiantados moralmente e
peculiar a certos gêneros de morte; que é temporária, podendo, todavia,
durar semanas, meses e anos. Foi assim que a teoria nasceu da observação.
O mesmo se deu com relação a todos os outros princípios da Doutrina.
16. Assim como a Ciência propriamente dita tem por objeto o
estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é
o conhecimento das leis do princípio espiritual. Ora, como este último
princípio é uma das forças da natureza, a reagir incessantemente sobre o
princípio material e reciprocamente, segue-se que o conhecimento de um
não pode estar completo sem o conhecimento do outro. O Espiritismo e a
Ciência se completam reciprocamente; a Ciência, sem o Espiritismo, se acha
na impossibilidade de explicar certos fenômenos só pelas leis da matéria; ao
Espiritismo, sem a Ciência, faltariam apoio e comprovação. O estudo das
leis da matéria tinha que preceder o da espiritualidade, porque a matéria
é que primeiro fere os sentidos. Se o Espiritismo tivesse vindo antes das
descobertas científicas, teria abortado, como tudo quanto surge antes do
tempo.
17. Todas as ciências se encadeiam e sucedem numa ordem racional;
nascem umas das outras, à proporção que acham ponto de apoio nas ideias
e conhecimentos anteriores. A Astronomia, uma das primeiras cultivadas, conservou os erros da infância, até o momento em que a Física veio revelar a lei das forças dos agentes naturais; a Química, nada podendo sem a
Física, teve de acompanhá-la de perto, para depois marcharem ambas de
acordo, amparando-se uma à outra. A Anatomia, a Fisiologia, a Zoologia,
a Botânica, a Mineralogia, só se tornaram ciências sérias com o auxílio das
luzes que lhes trouxeram a Física e a Química. À Geologia nascida ontem,
sem a Astronomia, a Física, a Química e todas as outras, teriam faltado
elementos de vitalidade; ela só podia vir depois daquelas.
18. A Ciência moderna refutou os quatro elementos primitivos(2) dos
antigos e, de observação em observação, chegou à concepção de um só
elemento gerador de todas as transformações da matéria; mas a matéria,
por si só, é inerte; carecendo de vida, de pensamento, de sentimento, precisa estar unida ao princípio espiritual. O Espiritismo não descobriu, nem
inventou este princípio; mas foi o primeiro a demonstrá-lo por provas inconcussas; estudou-o, analisou-o e tornou-lhe evidente a ação. Ao elemento material, juntou ele o elemento espiritual. Elemento material e elemento
espiritual, esses os dois princípios, as duas forças vivas da natureza. Pela
união indissolúvel deles, facilmente se explica uma multidão de fatos até
então inexplicáveis.(3)
O Espiritismo, tendo por objeto o estudo de um dos elementos
constitutivos do universo, toca forçosamente na maior parte das ciências;
só podia, portanto, vir depois da elaboração delas; nasceu pela força mesma das coisas, pela impossibilidade de tudo se explicar com o auxílio apenas das leis da matéria.
(2) - N.E.: Fogo, água, terra e ar.
(3) - Nota de Allan Kardec: A palavra elemento não é empregada aqui no sentido de corpo simples, elementar, de moléculas primitivas, mas no de parte constitutiva de um todo. Neste sentido, pode dizer-se que
o elemento espiritual tem parte ativa na economia do universo, como se diz que o elemento civil e o
elemento militar figuram no cálculo de uma população; que o elemento religioso entra na educação;
ou que na Argélia existem o elemento árabe e o elemento europeu.
19. Acusam-no de parentesco com a magia e a feitiçaria; porém, esquecem que a Astronomia tem por irmã mais velha a Astrologia judiciária,
ainda não muito distante de nós; que a Química é filha da Alquimia, com
a qual nenhum homem sensato ousaria hoje ocupar-se. Ninguém nega,
entretanto, que na Astrologia e na Alquimia estivesse o gérmen das verdades de que saíram as ciências atuais. Apesar das suas ridículas fórmulas, a Alquimia encaminhou a descoberta dos corpos simples e da lei das afinidades. A Astrologia se apoiava na posição e no movimento dos astros,
que ela estudara; mas, na ignorância das verdadeiras leis que regem o mecanismo do universo, os astros eram, para o vulgo, seres misteriosos aos
quais a superstição atribuía uma influência moral e um sentido revelador.
Quando Galileu, Newton e Kepler tornaram conhecidas essas leis, quando o telescópio rasgou o véu e mergulhou nas profundezas do espaço um
olhar que algumas criaturas acharam indiscreto, os planetas apareceram
como simples mundos semelhantes ao nosso e todo o castelo do maravilhoso desmoronou.
O mesmo se dá com o Espiritismo, relativamente à magia e à feitiçaria, que se apoiavam também na manifestação dos Espíritos, como a
Astrologia no movimento dos astros; mas, ignorantes das leis que regem
o mundo espiritual, a magia e a feitiçaria misturavam nessas relações espirituais práticas e crenças ridículas, com as quais o moderno Espiritismo,
fruto da experiência e da observação, acabou. Certamente, a distância que
separa o Espiritismo da magia e da feitiçaria é maior do que a que existe
entre a Astronomia e a Astrologia, a Química e a Alquimia. Confundi-las
é provar que de nenhuma se sabe patavina.
20. O simples fato de poder o homem comunicar-se com os seres do
mundo espiritual traz consequências incalculáveis da mais alta gravidade; é
todo um mundo novo que se nos revela e que tem tanto mais importância,
quanto a ele hão de voltar todos os homens, sem exceção.
O conhecimento de tal fato não pode deixar de acarretar, generalizando-se, profunda modificação nos costumes, caráter, hábitos, assim
como nas crenças que tão grande influência exerceram sobre as relações
sociais. É uma revolução completa a operar-se nas ideias, revolução tanto
maior, tanto mais poderosa, quanto não se circunscreve a um povo, nem a
uma casta, visto que atinge simultaneamente, pelo coração, todas as classes, todas as nacionalidades, todos os cultos.
Razão há, pois, para que o Espiritismo seja considerado a terceira das
grandes revelações. Vejamos em que essas revelações diferem e qual o laço
que as liga entre si.
21. Moisés, como profeta, revelou aos homens a existência de um
Deus único, Soberano Senhor e Criador de todas as coisas; promulgou a lei
do Sinai e lançou as bases da verdadeira fé. Como homem, foi o legislador do povo pelo qual essa primitiva fé, purificando-se, havia de espalhar-se
por sobre a Terra.
22. O Cristo, tomando da antiga lei o que é eterno e divino e rejeitando o que era transitório, puramente disciplinar e de concepção humana, acrescentou a revelação da vida futura, de que Moisés não falara, assim
como a das penas e recompensas que aguardam o homem depois da morte.
(Vede: Revista espírita, de março e de setembro de 1861.)
23. A parte mais importante da revelação do Cristo, no sentido de
fonte primária, de pedra angular de toda a sua doutrina é o ponto de vista
inteiramente novo sob que considera Ele a Divindade. Esta já não é o Deus
terrível, ciumento, vingativo, de Moisés; o Deus cruel e implacável, que
rega a terra com o sangue humano, que ordena o massacre e o extermínio
dos povos, sem excetuar as mulheres, as crianças e os velhos, e que castiga
aqueles que poupam as vítimas; o Deus que Jesus nos revela não é mais o
Deus injusto, que pune um povo inteiro pela falta do seu chefe, que se vinga do culpado na pessoa do inocente, que fere os filhos pelas faltas dos pais;
mas um Deus clemente, soberanamente justo e bom, cheio de mansidão e
misericórdia, que perdoa ao pecador arrependido e dá a cada um segundo as
suas obras. Já não é o Deus de um único povo privilegiado, o Deus dos exércitos, presidindo aos combates para sustentar a sua própria causa contra o
Deus dos outros povos; mas o Pai comum do gênero humano, que estende
a sua proteção por sobre todos os seus filhos e os chama todos a si; já não
é o Deus que recompensa e pune só pelos bens da Terra, que faz consistir
a glória e a felicidade na escravidão dos povos rivais e na multiplicidade da
progenitura, mas sim um Deus que diz aos homens: “A vossa verdadeira
pátria não é neste mundo, mas no reino celestial, lá onde os humildes de
coração serão elevados e os orgulhosos serão humilhados.” Já não é o Deus
que faz da vingança uma virtude e ordena se retribua olho por olho, dente
por dente; mas o Deus de misericórdia, que diz: “Perdoai as ofensas, se
quereis ser perdoados; fazei o bem em troca do mal; não façais aos outros o
que não quereis vos façam.” Já não é o Deus mesquinho e meticuloso, que
impõe, sob as mais rigorosas penas, o modo como quer ser adorado, que se
ofende pela inobservância de uma fórmula; mas o Deus grande, que vê o
pensamento e que se não honra com a forma. Enfim, já não é o Deus que
quer ser temido, mas o Deus que quer ser amado.