Serenidade
Livro: Dimensões da Verdade - 3
/ Joanna de Ângelis & Divaldo P. Franco
A faina incessante da vida moderna, a
sede de conforto supérfluo, a ânsia pelo prazer exorbitante, as demandas
injustificáveis são apresentadas invariavelmente como fatores básicos para
explicarem os desequilíbrios da emoção que atormentam o homem.
Não há tempo senão para viver. Viver
bem, fruindo as concessões aligeiradas que o corpo enseja – a meta para a
grande maioria.
E semelhante a aventureiro ávido de
prazer larga-se a criatura no cipoal das lutas, empenhando os valores de que
dispõe, continuando, no entanto, inquieta, aflita.
Educa-se ou se vai educando para o
triunfo fácil.
Disciplina-se ou deixa-se disciplinar,
antegozando o sabor da vitória em sociedade. Instrui-se ou deixa-se instruir
para vencer...
Educar-se, no entanto, para conhecer,
peregrinando pelos meandros da dor humana, a fim de solucionar os milenários
enigmas do espírito encarnado; disciplinar-se com o objetivo de renovar as disposições
íntimas, no sentido da evolução espiritual; instruir-se para vencer a sombra da
ignorância tendo em vista o impositivo da vitória sobre si mesmo, são
diretrizes desconsideradas por muitos que, todavia, possibilitam a felicidade
em termos reais e duradouros.
De tal conquista frui o homem a
satisfação da serenidade.
* * *
Marco Aurélio, referindo-se à
tranquilidade, em suas Meditações, denominava como tranquilo um espírito bem
ordenado.
A serenidade é o estado de ordem que
tranquiliza interiormente.
Ordem que nasce da educação disciplinada
pelo exercício do dever e esclarecida pela instrução que amplia as
possibilidades do conhecimento.
Acredita-se, erradamente, que para a
serenidade são indispensáveis o conforto, a independência econômica, a estabilidade
conjugal, a saúde e outros ingredientes externos considerados essenciais e
raros de reunir-se num mesmo afortunado indivíduo.
Alguns cristãos, na atualidade,
justificam a falta de silêncio para cultivarem a serenidade.
Outros se dizem atormentados por
problemas e informam que tudo são convites ruidosos ao desalinho da mente, à
enfermidade nervosa, ao desajustamento...
Com “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”
naturalmente se podem descobrir fontes ricas de belezas capazes de banhar a
alma de paz e harmonia.
Painéis invulgares se desenham num raio
de sol, numa estrela que fulge, num sorriso de criança, num farfalhar de folhas
levemente balouçadas por brisas ciciantes, no tamborilar da chuva no telhado,
numa ave ligeira bailando no ar, na harmonia e no colorido de uma flor, em mil
nonadas..., convidando à serenidade, a um espírito bem ordenado.
“Não vos afadigueis pela posse do
ouro”, disse o Mestre. A posse exaure aquele que possui.
“O meu reino não é deste mundo,”
explicou o Senhor.
Em face de tais lições é que Jesus,
embora sem encontrar entre os companheiros quem se identificasse com a Sua
Mensagem de Amor, amou e serviu a todos indistintamente, e quando, mais tarde,
sofreu o desprezo dos que mais se beneficiaram da sua presença, expulso da
compreensão dos que d’Ele dependiam no vozerio da perseguição em invulgar
soledade, manteve-se sereno, acenando com bênçãos para os infelizes e amando os
próprios algozes na mais eminente demonstração de que serenidade com paz íntima
é conquista do espírito, independente das excentricidades do mundo das formas.
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