Olá!
Segue nosso estudo de sexta-feira às 19 h.
Livro Ação e Reação
Capítulo 18 - Resgates Coletivos
Leitura Inicial:
VI
Quando estiveres em dúvida,
resolve pela atitude menos prejudicial ao próximo e a ti próprio.
Evita arriscar-te e arruinar outras pessoas.
Age em serenidade, certo de
que o teu gesto repercutirá nas demais pessoas, de acordo com a
emoção e o conteúdo de que se
revista.
Fonte: Livro Vida Feliz, de Divaldo Franco, pelo Espírito Joanna de Angelis
Trecho do estudo:
Depois de momentos rápidos em que naturalmente apelava
para a memória, comentou, benevolente:
– Há trinta anos, desfrutei o convívio de dois benfeitores, a
cuja abnegação muito devo neste pouso de luz. Ascânio e Lucas,
Assistentes respeitados na Esfera Superior, integravam-nos a
equipe de mentores valorosos e amigos... Quando os conheci em
pessoa, já haviam despendido vários lustros no amparo aos irmãos
transviados e sofredores. Cultos e enobrecidos, eram companheiros infatigáveis em nossas melhores realizações. Acontece, porém, que depois de largos decênios de luta, nos prélios da fraternidade santificante, suspirando pelo ingresso nas esferas mais
elevadas, para que se lhes expandissem os ideais de santidade e
beleza, não demonstravam a necessária condição específica para o
vôo anelado. Totalmente absortos no entusiasmo de ensinar o
caminho do bem aos semelhantes, não cogitavam de qualquer
mergulho no pretérito, por isso que, muitas vezes, quando nos
fascinamos pelo esplendor dos cimos, nem sempre nos sobra
disposição para qualquer vistoria aos nevoeiros do vale... Dessa
forma, passaram a desejar ardentemente a ascensão, sentindo-se
algo desencantados pela ausência de apoio das autoridades que
lhes não reconheciam o mérito imprescindível. Dilatava-se o
impasse, quando um deles solicitou o pronunciamento da Direção
Geral a que nos achamos submissos. O requerimento encontrou curso normal até que, em determinada fase, ambos foram chamados a exame devido. A posição imprópria que lhes era característica foi carinhosamente analisada por técnicos do Plano Superior,
que lhes reconduziram a memória a períodos mais recuados no
tempo. Diversas fichas de observação foram extraídas do campo
mnemônico, à maneira das radioscopias dos atuais serviços médicos no mundo e, através delas, importantes conclusões surgiram à
tona... Em verdade, Ascânio e Lucas possuíam créditos extensos,
adquiridos em quase cinco séculos sucessivos de aprendizado
digno, somando as cinco existências últimas nos círculos da carne
e as estações de serviço espiritual, nas vizinhanças da arena física;
no entanto, quando a gradativa auscultação lhes alcançou as atividades do século XV, algo surgiu que lhes impôs dolorosa meditação... Arrebatadas ao arquivo da memória e a doer-lhes profundamente no espírito, depois da operação magnética a que nos
referimos, reapareceram nas fichas mencionadas as cenas de
ominoso delito por ambos cometido, em 1429, logo após a libertação de Orleães, quando formavam no exército de Joana d'Arc...
Famintos de influência junto aos irmãos de armas, não hesitaram
em assassinar dois companheiros, precipitando-os do alto de uma
fortaleza no território de Gâtinais, sobre fossos imundos, embriagando-se nas honrarias que lhes valeram, mais tarde, torturantes
remorsos além do sepulcro. Chegados a esse ponto da inquietante
investigação, pela respeitabilidade de que se revestiam foram
inquiridos pelos poderes competentes se desejavam ou não, prosseguir na sondagem singular, ao que responderam negativamente,
preferindo liquidar a dívida, antes de novas imersões nos depósitos da subconsciência. Desse modo, em vez de continuarem insistindo na elevação a níveis mais altos, suplicaram, ao revés, o
retorno ao campo dos homens, no qual acabam de pagar o débito a
que aludimos.
– Como? – indagou Hilário, intrigado.
– Já que podiam escolher o gênero de provação, em vista dos
recursos morais amealhados no mundo íntimo – informou o orientador –, optaram por tarefas no campo da aeronáutica, a cuja
evolução ofereceram as suas vidas. Há dois meses regressaram às
nossas linhas de ação, depois de haverem sofrido a mesma queda
mortal que infligiram aos companheiros de luta no século XV.
– E o nosso caro instrutor visitou-os nos preparativos da reencarnação agora terminada? – inquiri com respeito.
– Sim, por várias vezes os avistei, antes da partida. Associavam-se a grande comunidade de Espíritos amigos, em departamento específico de reencarnação, no qual centenas de entidades,
com dívidas mais ou menos semelhantes às deles, também se
preparavam para o retorno á carne, abraçando, assim, trabalho
redentor em resgates coletivos.
– E todos podiam selecionar o gênero de luta em que saldariam as suas contas? – perguntei, ainda, com natural interesse.
– Nem todos – disse Druso, convicto. – Aqueles que possuíam grandes créditos morais, qual acontecia aos benfeitores a que
me reporto, dispunham desse direito. Assim é que a muitos vi,
habilitando-se para sofrer a morte violenta, em favor do progresso
da aeronáutica e da engenharia, da navegação marítima e dos
transportes terrestres, da ciência médica e da indústria em geral,
verificando, no entanto, que a maioria, por força dos débitos
contraídos e consoante os ditames da própria consciência, não
alcançava semelhante prerrogativa, cabendo-lhe aceitar sem discutir amargas provas, na infância, na mocidade ou na velhice,
através de acidentes diversos, desde a mutilação primária até a
morte, de modo a redimir-se de faltas graves.
– E os pais? – inquiriu meu colega, alarmado. Em que situação surpreenderemos os pais dos que devem ser imolados ao
progresso ou à justiça, na regeneração de si mesmos? a dor deles não será devidamente considerada pelos poderes que nos controlam a vida?
– Como não? – respondeu o orientador – as entidades que necessitam de tais lutas expiatórias são encaminhadas aos corações
que se acumpliciaram com elas em delitos lamentáveis, no pretérito distante ou recente ou, ainda, aos pais que faliram junto dos
filhos, em outras épocas, a fim de que aprendam na saudade cruel
e na angústia inominável o respeito e o devotamento, a honorabilidade e o carinho que todos devemos na Terra ao instituto da
família. A dor coletiva é o remédio que nos corrige as falhas
mútuas.
Estabelecera-se longa pausa. A lição como que nos impelia a
rápidos mergulhos no mundo de nós mesmos. Hilário, contudo,
insatisfeito como sempre, perguntou, irrequieto:
– Instrutor amigo, imaginemos que Ascânio e Lucas, após a
vitória de que nos dá notícia, continuem anelando a subida aos
planos mais altos... Precisarão, para isso, de nova consulta ao
passado?
– Caso não demonstrem a condição específica indispensável,
serão novamente submetidos à justa auscultação para o exame e
seleção de novos resgates que se façam precisos.
– Isso quer dizer que ninguém se eleva ao Céu sem quitação
com a Terra?
O interlocutor sorriu e completou:
– Será mais lícito afirmar que ninguém se eleva a pleno Céu,
sem plena quitação com a Terra, porquanto a ascensão gradativa
pode verificar-se, não obstante invariavelmente condicionada aos
nossos merecimentos nas conquistas já feitas. Os princípios de
relatividade são perfeitamente cabíveis no assunto. Quanto mais
céu interior na alma, através da sublimação da vida, mais ampla
incursão da alma nos céus exteriores, até que se realize a suprema comunhão dela com Deus, Nosso Pai. Para isso, como reconhecemos, é indispensável atender à justiça, e a Justiça Divina está
inelutavelmente ligada a nós, de vez que nenhuma felicidade
ambiente será verdadeira felicidade em nós, sem a implícita aprovação de nossa consciência.
O ensinamento era profundo.
Cessamos a inquirição e, como serviço urgente requeria a
presença de Druso, em outra parte, retiramo-nos em demanda do
Templo da Mansão, com o objetivo de orar e pensar.